O estudo “Hábitos de Compra e Leitura em Portugal”, apresentado esta quarta-feira pela Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL), revela que 76% dos portugueses admitem ter hábitos de leitura, embora apenas 58% tenham adquirido livros no último ano.

Num mercado editorial que manteve crescimento em 2024, com um aumento de 9% para os 204 milhões de euros, sobre os anteriores 187 milhões, 76% dos portugueses afirmaram ter lido pelo menos um livro no ano passado, verificando-se um ligeiro crescimento face a 2023 (73%), mas a quantidade de livros lidos por pessoa, no universo da população desceu para uma média de 5,3, abaixo dos 5,6 do ano anterior.

Entre os leitores, o número médio de livros lidos também diminuiu, passando de 7,9 em 2023 para 7,2 em 2024, segundo o estudo desenvolvido pela Gfk, para a APEL, que o apresentou esta quarta-feira no encontro Book 2.0 — O Futuro da Leitura, a decorrer até quinta-feira na Fundação Champalimaud, em Lisboa, .

“Estes resultados confirmam que, apesar do crescimento sustentado do mercado do livro em Portugal evidenciar uma base estável de leitores, e apesar dos avanços verificados nas últimas cinco décadas no acesso à educação e no acesso aos livros, a compra de livros e a leitura não são, ainda, uma prática regular nem um hábito diário fortemente enraizado na maioria das famílias portuguesas”, disse Miguel Pauseiro, presidente da APEL, citado pelo dossier de apresentação do estudo.

“O papel da escola, das famílias e da sociedade em geral é crucial para que o livro seja definitivamente visto como uma ferramenta essencial de cidadania e de desenvolvimento do potencial humano e para que a leitura se transforme num hábito sustentável ao longo da vida”, sublinhou o representante de editores e livreiros.

A leitura por lazer é uma atividade praticada por cerca de 60% dos portugueses com 15 ou mais anos, segundo o estudo, que preferem o livro em papel em relação à edição digital.

As mulheres e as pessoas entre os 35 e os 54 anos estão entre os mais leais ao livro, com a faixa etária entre os 25 e os 34 anos a apresentar o maior índice de leitura. O maior crescimento da adesão à leitura situa-se entre os 15 e os 24 anos.

A falta de interesse e de tempo estão entre os principais motivos para o afastamento da leitura. Entre os não leitores, que representam cerca de um em cada quatro residentes em Portugal e percecionam a escola como decisiva no reforço dos hábitos de leitura adquiridos em casa (40%), as razões mais apontadas para a ausência de leitura são a falta de interesse (46%), a falta de tempo (39%) e a preferência por outras atividades de lazer (35%).

Em termos globais, a leitura surge atrás de outras ocupações de tempos livres, como conviver com amigos (mais de 90%), estar nas redes sociais (84%), ver televisão em geral (72%), assistir a eventos culturais ou desportivos (72%) e praticar desporto (63%).

Em termos de compra de livros, em Portugal, o estudo reflete uma descida em 2024 em relação ao ano anterior: 58% dos residentes adquiriram livros no ano passado, contra 65% em 2023, com uma média de 3,9 exemplares por pessoa, para 4,8 em 2023.

O mercado livreiro, no entanto, registou em 2024 um crescimento em valor de 9%, alcançando os 204 milhões de euros, face aos 187 milhões de 2023.

Para a APEL, a conjugação destes dados aponta para uma maior concentração da compra de livros no universo dos leitores, com destaque para a faixa etária entre os 35 e os 54 anos (82%).

O romance continua a ser a categoria com maior procura (66% em 2024; 61% em 2023), seguido pelo policial e romance histórico, ambos com 45%, e pelo infantojuvenil com 40% em 2024 (42% em 2023).

Quem comprou livros em 2024 fê-lo sobretudo para consumo próprio (82%, igual a 2023) ou para oferecer (34%, contra 44% em 2023).

Em julho, quando da apresentação do encontro Book 2.0, o presidente da APEL, Miguel Pauseiro, disse que os números relativos aos últimos anos são entusiasmantes, embora haja ainda muito por fazer.

“Entre 2021 e 2024, o mercado livreiro cresceu um pouco mais de 30% em valor e um pouco menos de 30% em unidades [livros vendidos]. Os primeiros meses de 2025 apontam no mesmo sentido”, com “grande tração” nas redes sociais e clubes de leitura, “com muita atividade e partilha”.

Para Miguel Pauseiro, “tudo isto é bom, mas ainda se lê pouco em Portugal, ler ainda não é um hábito diário, regular e transversal a toda a sociedade”, com os indicadores ‘per capita’ a situarem-se entre “os mais baixos da Europa”.

“Estamos 30% abaixo de Espanha, 40% abaixo de Itália, 80% abaixo dos Países Baixos, no Reino Unido compra-se mais do dobro dos livros ‘per capita’ e em França compra-se quase quatro vezes mais. O número de livrarias em Portugal é criticamente baixo quando comparado com estes países”, afirmou então.

A ministra da Cultura, Juventude e Desporto, Margarida Balseiro Lopes, presente na apresentação do Book 2.0, disse por seu lado que “um país que valoriza o livro é um país que compreende que educar não é apenas transmitir conhecimento, mas também formar espírito crítico, sensibilidade e imaginação”, levando a “uma sociedade mais preparada, mais livre e mais consciente das escolhas que faz”.

Na altura, Margarida Balseiro Lopes anunciou que o Governo vai avançar com a segunda edição do cheque-livro até ao final do ano, e que o valor atribuído a cada um desses vales será reforçado, depois de a primeira edição, no valor de 20 euros, ter apresentado uma taxa de execução de 20%.

Para o presidente da APEL, “o valor é relevante”. “Não é num ano que vamos fazer leitores, mas também não é com 20 euros”, valor que ficou “muito longe” dos 100 euros propostos pela associação, mais “compaginável com o objetivo de criar leitores”, segundo Miguel Pauseiro.

“Não se criam leitores com a compra de um livro, criam-se leitores com uma regularidade do hábito da leitura e, portanto, isso pressupõe mais do que uma compra”, defendeu então o responsável.