Low tentou perceber junto a fontes do palácio se o pedido de desculpas aconteceu, contudo as respostas foram de que o que se passou dentro da audiência entre Johnson e Isabel II não saiu cá para fora. Anos depois, o autor questionou o antigo primeiro-ministro sobre o tema, por e-mail, e recebeu a seguinte resposta: “De tudo o que pude saber, no palácio acharam o julgamento do Supremo Tribunal tão peculiar quanto eu”, escreveu Boris Johnson, para depois afirmar: “Não posso comentar sobre as visões da Rainha, mas a ideia de um pedido de desculpas é completamente ficcional”.

Menos de um ano depois da polémica com a suspensão do Parlamento, Boris Johnson voltou a ser protagonista de um momento curioso com a rainha Isabel II. Ou melhor — quase foi. Em março de 2020, dois dias depois do primeiro-ministro falar aos britânicos e pedir que parassem com os contactos físicos não essenciais devido à pandemia de covid-19, Boris Johnson quase infetou a rainha com o vírus. De acordo com o seu secretário privado, Martin Reynolds, o primeiro-ministro estava pronto para encontrar Isabel II na sua audiência semanal, contudo, tinha tosse. “Não tinha sido diagnosticado, mas claramente tinha o vírus”, disse uma fonte a Low. Foi quando Dominic Cummings, antigo conselheiro do primeiro-ministro, foi chamado. “Disse: ‘Se passares o coronavírus para a Rainha e ela morrer, o que vais fazer? Não podes correr este risco, é insano’”, recordou Cummings, numa conversa com a editora de política da BBC, Laura Kuenssberg. Entretanto, outra fonte lembra do conselheiro falar de uma forma menos polida: “Vais matar a Rainha. Estás maluco?”

Low descreve que também a rainha Isabel II precisou de ser convencida a parar com as audiências presenciais. Edward Young, secretário privado da rainha, disse na Casa dos Lordes que a monarca queria manter as reuniões, numa “atitude do tipo ‘bom, terei que morrer um dia’”. Contudo, Reynolds e Young acabaram por resolver a situação: o secretário de Jonhson disse que o palácio queria cancelar a audiência, enquanto o secretário da rainha disse que era o primeiro-ministro a desistir. A conversa decorreu por telefone — uma semana depois Boris Johnson anunciou que havia sido diagnosticado com covid-19.

Já as relações da Rainha com Margaret Thatcher terão sido ainda mais tensas, enquanto Isabel II deu-se bem com Harold Wilson, John Major e Tony Blair, a quem terá ligado para parabenizar quando um acordo na Irlanda do Norte foi assinado, em 1998. “Na altura pensei: ‘Aposto que ela não o faz com frequência”, disse Blair.