Mais que uma banda, uma lenda. Sem jamais sequer ter roçado as paradas de sucessos em mais de 30 anos de existência, a PELVs é um nome que todo mundo da cena da música alternativa brasileira já ouviu falar algum dia.

Uma instituição do indie rock nacional, que, em 1993, quando seus integrantes ainda eram adolescentes, chamou a atenção do guitarrista da Legião Urbana, Dado Villa-Lobos, e o convenceu a lançar pelo seu selo independente, o RockIt!, seu LP de estreia, “Peter Greenaway’s Surf”. Uma banda que agora, depois de uma década longe dos palcos, volta à atividade para o show de abertura, quarta-feira (3), no Circo Voador, de uma de suas grandes inspirações: o grupo escocês Teenage Fanclub.

Vindos das muitas fases da PELVs, reúnem-se os fundadores Gustavo Seabra e Rafael Genu, mais Rodrigo Gordinho, Ricardo Ribeiro, André Saddy, Clínio Carvalho, Daniel Develly e um convidado, o trompetista Pedro Alcoforado.

— A PELVs é assim: baixo, bateria, teclado e umas 15 guitarras, mais ou menos — ironiza Saddy, o tecladista.

— Cabe sempre mais um — completa Gordinho, o responsável por uma dessas “15 guitarras”.

Segundo Ricardo, o baterista, o hiato da PELVs aconteceu muito porque as pessoas foram se mudando do Rio.

— Eu moro em Brasília, o Clínio mora em Curitiba, o Gordinho e o Genu estão morando em São Paulo… isso foi deixando a banda com dificuldades para se encontrar para tocar. Nesse reencontro, não parecia que a gente não tocava há dez anos. Tudo fluiu muito bem, está sendo mais uma coisa de recuperar a memória muscular. O entrosamento continua, a gente se fala pelo olhar.

‘Desculpa antecipada’

O convite para abrir o show do Teenage Fanclub antecipou os planos da volta aos palcos, pensada para a festa da reedição de 25 anos do terceiro álbum, “Peninsula”, feita recentemente em vinil pelo selo Midsummer Madness, com prensagem da Rocinante.

— Em fevereiro, encontrei o Gordinho e o Genu em São Paulo e eles já estavam animados para o revival da PELVs. A desculpa perfeita foi o show de Teenage, todo mundo ia nele — admite Ricardo Ribeiro.

Fundada em 1991 por Gustavo, Genu, VRS Marcos e Dodô Azevedo (hoje DJ e escritor), a PELVs viu alguns espectadores virarem integrantes. Gordinho começou a seguir o grupo em festivais depois de vê-los em um show e acabou por entrar na formação. Assim como Saddy.

— A gente admirava muito a PELVs. É uma banda com muita personalidade — diz o tecladista.

Para Gustavo, uma reestruturação importante da PELVs foi na virada dos anos 1990 para 2000, quando saiu Dodô e entraram Ricardo e Gordinho.

— Dodô era um baterista fraco, mas criava muito, compondo e tocando. Os shows eram uma coisa quase jazzística, ninguém sabia muito o que esperar. Ninguém sabia se o Dodô ia levar uma música por 20 minutos a mais do que o combinado — recorda. — Quando o Ricardo e o Gordinho entraram, no início a gente fez alguns shows muito ruins, porque tentava seguir mais ou menos a ideia da banda. Mas não funcionava com eles. Passamos a ensaiar mais, e a dizer “essa música acaba aqui, essa música tem essa e essa parte”.

Integrantes da banca carioca PELVs e amigos, em 2006 — Foto: Divulgação/Cadu Pilotto Integrantes da banca carioca PELVs e amigos, em 2006 — Foto: Divulgação/Cadu Pilotto

Gustavo considera 2001 o ano em que os integrantes da PELVs estavam mais entrosados. E, não por acaso, lançaram “Peninsula”, “um disco pop, um disco redondo, um disco sem musiquinha, sem vinhetas”.

— Acho que esse disco meio que fura a bolha do indie — analisa Ricardo. — Enquanto o “Peter Greenaway” era aquele lo-fi bem indiezão, o “Peninsula” talvez seja a maturidade da PELVs na questão criativa.

Segundo Gustavo Seabra, a PELVs é uma banda que sempre existiu “sem nenhuma pretensão”.

— Porque talvez isso pudesse ter estragado tudo. Um ou dois podiam ter pretensões maiores, do tipo fazer carreira no exterior. A gente até cogitou ir para Europa, ficar um tempo por lá, mas nada assim firme, era só papo de mesa de bar. A ideia nunca se concretizou porque nunca todo mundo estava disponível para ir — admite o cantor e guitarrista, lembrando momentos de glória da Pelvs, como aquele em que abriram os shows do grupo americano Luna no Brasil, em 2001. — A gente abriu para outras grandes bandas que a gente adora, como o Yo La Tengo, o Teenage Fanclub e o Superchunk… todos esses momentos foram muito legais.

Banda hoje inviável para turnês, a PELVs deve, em sua volta, fazer ainda alguns shows de divulgação do relançamento de “Peninsula”. E gravar seu quinto álbum.

— Eu, particularmente, sempre tive muito mais prazer em gravar discos e fazer músicas novas do que ficar divulgando a banda ou viajando — diz Gustavo.