As autoridades búlgaras desmentiram esta quinta-feira que o avião que transportava a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, tivesse sido alvo de interferências de GPS atribuídas à Rússia. Dias antes, a própria Comissão Europeia tinha citado informações de Sófia sugerindo que o episódio poderia estar ligado a uma manobra de guerra híbrida de Moscovo.
O primeiro-ministro Rosen Zhelyazkov declarou no parlamento que não há qualquer evidência de “interferência ou bloqueio prolongado” dos sinais de GPS no momento em que o avião aterrou em Plovdiv, no domingo, 31 de agosto. Mais tarde, admitiu que, embora os instrumentos em terra não tenham detetado qualquer anomalia, não se pode excluir que equipamentos a bordo tenham registado falhas.
Consultores técnicos ouvidos pela Euronews confirmaram que, em teoria, uma interferência localizada a bordo poderia ser plausível, ainda que sem correspondência nos registos do espaço aéreo da região.
A polémica adensou-se quando o vice-primeiro-ministro e ministro dos Transportes, Grozdan Karadjov, negou em entrevista ao canal bTV que o governo tivesse enviado qualquer relatório à Comissão Europeia a apontar Moscovo como responsável. Karadjov garantiu que apenas foi partilhada com a Agência Europeia para a Segurança da Aviação (EASA) a gravação das comunicações entre o piloto e a torre de controlo, onde se referiam “pequenos problemas” com o GPS, sem qualquer menção à Rússia.
“Cabe ainda à EASA retirar os computadores de bordo e verificar o que foi realmente registado”, acrescentou o governante.
O episódio gerou especulação intensa após relatos iniciais que sugeriam que o avião tinha sobrevoado durante uma hora o aeroporto de Plovdiv devido a falhas de navegação. No entanto, dados de plataformas como a Flightradar24 desmentem essa versão: o voo demorou uma hora e 57 minutos, apenas nove minutos acima do tempo estimado para a rota, e a aeronave tinha já partido com uma hora de atraso de Varsóvia.
Embora o avião tenha realizado voltas de espera na aproximação ao aeroporto, o atraso foi reduzido, desmentindo as alegações de que teria ficado uma hora a circular no espaço aéreo da cidade búlgara.
A Flightradar24 indicou que, segundo os dados do transponder, a qualidade do sinal GPS foi considerada “muito alta” do início ao fim do voo. “Não vimos qualquer indício de bloqueio do sinal ADS-B”, afirmou Ian Petchenik, diretor de comunicação da plataforma, citado pela Euronews.
O especialista admitiu, porém, que podem existir situações em que o GPS funcione corretamente, mas o sistema da aeronave não consiga utilizá-lo como esperado, levando os pilotos a reportarem dificuldades. “Por essa razão, o controlo aéreo disponibilizou uma aterragem assistida pelo sistema de rádio ILS, que foi concluída sem incidentes”, explicou.
Relatos de que o piloto teria recorrido a “mapas em papel” foram também rejeitados pelas autoridades búlgaras, que confirmaram a utilização do sistema ILS na aterragem.
Apesar de este caso em particular não apresentar evidências de envolvimento russo, Bruxelas lembra que os incidentes de interferência no GPS têm aumentado desde a invasão da Ucrânia em 2022, especialmente na região do Báltico. “Estamos conscientes de que este fenómeno não é específico da presidente. Infelizmente, acontece regularmente a muitas aeronaves, sobretudo junto à nossa fronteira leste”, afirmou um porta-voz da Comissão Europeia, acrescentando que é necessária uma resposta coordenada da União Europeia.