Os Estados Unidos estão a planear retirar, de forma gradual, parte dos fundos destinados à defesa de países europeus na fronteira com a Rússia, avançou esta quinta-feira o Financial Times, que cita fontes familiarizadas com o assunto.

O plano segue o compromisso do Presidente Donald Trump com a agenda America first (em português, “América primeiro”), que coloca os interesses de Washington no topo das prioridades da política externa dos EUA, cortando na assistência a países estrangeiros e pressionando os Estados europeus a assumir uma fatia maior dos seus gastos em defesa — mesmo depois de os aliados da NATO terem concordado com uma nova meta de investimento de 5% do PIB.

Estónia, Letónia e Lituânia estão entre os principais beneficiários dos fundos norte-americanos, depois de a guerra na Ucrânia ter aumentado as preocupações das nações europeias quanto à instabilidade na fronteira Leste do continente e à possibilidade de novas agressões por parte de Moscovo.

Na semana passada, o Pentágono terá informado diplomatas europeus que os Estados Unidos iam parar de financiar equipamentos e programas de treino de unidades militares no Leste europeu, que estariam na linha da frente de um eventual novo conflito com a Rússia.

Os orçamentos para estes programas de assistência à defesa requerem a aprovação do Congresso norte-americano, mas a Administração Trump não terá renovado os pedidos para um reforço do financiamento. As verbas já aprovadas serão utilizadas até ao final de Setembro de 2026.

Em resposta a um pedido de esclarecimentos, fonte da Casa Branca justificou a decisão como parte dos esforços de Donald Trump para “reavaliar e realinhar a ajuda externa dos Estados Unidos”, anunciados assim que tomou posse como Presidente, em Janeiro passado.

À data, o Departamento de Estado norte-americano decretou o congelamento imediato de todos os programas de ajuda internacional e de apoio ao desenvolvimento, com uma excepção: o apoio financeiro para fins militares destinado a Israel e ao Egipto.

“Esta medida foi coordenada com os países europeus, em linha com a ordem executiva [assinada no primeiro dia de regresso à Sala Oval] e a ênfase que é há muito dada pelo Presidente em assegurar que a Europa assume mais responsabilidade pela sua própria defesa”, disse a mesma fonte, citada pelo Financial Times.

A senadora democrata Jeanne Shaheen, membro da Comissão de Relações Internacionais da câmara alta do Congresso, é uma das vozes críticas da decisão. “Não faz sentido nenhum reduzir a prontidão da defesa dos nossos aliados, ao mesmo tempo que lhes pedimos que reforcem as suas capacidades. Ao cortamos na formação de soldados aliados, estamos também a colocar em risco as tropas americanas”, argumentou, em comunicado.

Além disso, sublinhou, o plano “envia sinais errados” e pode minar as tentativas de pressionar Vladimir Putin a sentar-se à mesa das negociações para um cessar-fogo na Ucrânia.