A lista de notícias sobre a perda de biodiversidade é lamentavelmente longa e cresce de ano para ano, sobretudo no que diz respeito ao impacto da acção humana nesta crise de biodiversidade. Um novo estudo traz um sopro de esperança, mas com vários alertas ao perigo que pode existir no futuro: apesar de as “famílias de espécies” estarem inequivocamente mais pobres, ainda não estamos a testemunhar uma “extinção em massa”, que tem sido frequentemente proclamada por outros cientistas.
Após uma análise à extinção de espécies nos últimos 500 anos, uma equipa de cientistas concluiu que 102 géneros de organismos vivos foram extintos (90 animais, 12 plantas), juntamente com 10 famílias e duas ordens.
“Embora as extinções ao nível das espécies sejam elevadas, as perdas ao nível dos géneros permanecem relativamente baixas”, defendem os autores do estudo publicado esta quinta-feira na revista PLOS Biology, sugerindo que “as taxas actuais de extinção ainda não atingiram o nível de uma “extinção em massa”. “Até agora”, acrescentam.
Avaliar a escala da extinção
“Centenas de espécies foram extintas nos últimos séculos, mas as perdas são poucas entre os níveis de classificação maiores, o que significa que ainda não estamos a testemunhar uma extinção em massa”, refere a nota de imprensa sobre o estudo assinado por John Wiens, da Universidade do Arizona, e Kristen Saban, da Universidade de Harvard, ambas nos EUA.
Os autores do estudo salientam que estes resultados não diminuem a gravidade das ameaças à biodiversidade. Pelo contrário, enfatizam ainda mais a importância de uma avaliação completa e precisa da escala de extinção, se quisermos evitar mais perdas.
John Wiens e Kristen Saban analisaram dados sobre mais de 22 mil géneros de plantas e animais avaliados pela União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) para quantificar a gravidade das extinções de nível superior modernas. Resultado? “A análise identificou 102 extinções conhecidas de géneros desde o ano 1500, o que representa menos de 0,5% dos géneros avaliados”, assinalam.
Extinções raras
Numa descrição dos resultados mais pormenorizada, os investigadores referem que “essas extinções não foram distribuídas uniformemente no tempo ou no espaço; quase metade ocorreu entre aves e mamíferos, mais de três quartos eram endémicas de ilhas e as taxas de extinção mais elevadas ocorreram no final do século XIX e início do século XX”.
A possibilidade de estarmos a testemunhar actualmente uma rápida “extinção em massa” tem sido avançada por diversos especialistas e apoiada em artigos científicos. No entanto, John Wiens afirma: “Descobrimos que as extinções de géneros são muito raras entre plantas e animais, que eram principalmente de géneros encontrados apenas em ilhas e que essas extinções, na verdade, diminuíram nos últimos 100 anos, em vez de acelerarem rapidamente.”
Assim, os resultados desta investigação dizem-nos que “a maioria dessas extinções ao nível do género ocorreu entre mamíferos e aves, assim como todas as extinções de famílias e ordens”. Os autores escrevem que “apesar da alegação de que as extinções de taxas superiores estão a acelerar rapidamente, as taxas mais elevadas de extinções ao nível do género ocorreram há mais de 100 anos e diminuíram subsequentemente”.
“Nunca houve qualquer evidência de que essas extinções, que atingiram o pico há cerca de 100 anos e ocorreram principalmente em ilhas isoladas, colocassem em risco a sobrevivência humana. Argumentamos que a razão pela qual as extinções futuras devem ser impedidas não é porque elas ameaçam os seres humanos, mas porque é moralmente errado os seres humanos levarem outras espécies à extinção”, refere John Wiens.
Kristen Saban remata: “Agora, mais do que nunca, dada a desconfiança generalizada na ciência, é importante que conduzamos pesquisas de conservação com cuidado e as apresentemos com precisão.”