Adultos jovens com câncer colorretal tendem a ter tumores mais agressivos do que pacientes mais velhos com a doença, de acordo com um estudo brasileiro. Além disso, observou-se que eles têm maior risco de recidiva — quando a doença volta depois de um período em que parecia ter “desaparecido”.

Câncer de intestino está cada vez mais frequente entre adultos jovens. Neles, tumor tende a ser mais agressivo, sugere pesquisa brasileira Foto: Rasi/Adobe Stock

Os resultados do estudo foram apresentados nesta sexta-feira, 5, no 73º Congresso Brasileiro de Coloproctologia, que ocorre em São Paulo, entre 3 e 6 de setembro. A pesquisa ainda não foi publicada em uma revista científica — ela está na fase de revisão por pares que antecede a publicação.

O câncer colorretal abrange os tumores que se iniciam na parte do intestino grosso (cólon), no reto (final do intestino) e no ânus, de acordo com o Ministério da Saúde. Sem considerar os tumores de pele não melanoma, ele ocupa a terceira posição entre os tipos de câncer mais frequentes no Brasil, segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca).

Conforme mostrou o Estadão, os casos de câncer colorretal devem aumentar em 21% no Brasil entre os anos de 2030 e 2040, de acordo com um estudo da Fundação do Câncer. Os registros devem saltar de 58.830, em 2030, para 71.050, em 2040.

Tradicionalmente, esse tipo de câncer era mais comum em pessoas acima de 50 anos, mas estudos recentes indicam que a doença está se tornando cada vez mais frequente em adultos com menos de 45 anos, inclusive no Brasil.

Mais agressivo e com mais chance de recidiva

O novo estudo acompanhou 434 pessoas com câncer colorretal submetidas à cirurgia — principal forma de tratamento de tumores do tipo — no Hospital Universitário de Brasília entre 2010 e 2020. Cada paciente foi acompanhado por mais ou menos três anos após o procedimento.

Para fins de análise, eles foram divididos em dois grupos de acordo com a idade: pacientes com 18 a 49 anos (ao todo, 78) e aqueles com 50 anos ou mais (356). Os pesquisadores perceberam que, olhando para ambos os grupos, a maioria dos pacientes apresentaram tumores considerados mais diferenciados, ou seja, que têm um perfil de agressividade menor.

No entanto, a proporção de tumores conhecidos como indiferenciados, isto é, mais graves, foi maior no grupo mais jovem. A prevalência foi de 15,25% entre aqueles de 18 a 49 anos, contra 7,97% em pessoas acima de 50 anos, de acordo com André Araújo de Medeiros Silva, um dos especialistas que conduziram o estudo e coordenador do serviço de coloproctologia do Hospital Santa Lúcia Norte, em Brasília.

“O tumor indiferenciado é mais ‘desorganizado’”, explica ele. “Ele perde a capacidade de controlar a multiplicação celular e, por isso, cresce rapidamente e tem maior chance de gerar metástases (quando células de um câncer se espalham para outras partes do corpo, formando novos tumores).”

Isso não é exatamente inesperado. Afinal, historicamente, oncologistas observam que tumores em pacientes mais jovens costumam ter um perfil mais agressivo — um fenômeno que tem a ver com a própria “biologia” do câncer.

Conforme explica o Inca, embora os tumores possam ser muito diferentes entre si, têm em comum o fato de serem marcados pelo crescimento desordenado de células. Devido a mutações no DNA, essas células recebem instruções erradas e passam a se dividir rapidamente, de maneira agressiva e incontrolável.

Esse processo de desorganização celular acontece o tempo todo no organismo, mas costuma ser controlado por mecanismos naturais de defesa.

“À medida que envelhecemos, essa capacidade de controle vai diminuindo. Já no paciente jovem, o organismo ainda é muito proficiente. Então, para que um tumor consiga se desenvolver, ele precisa ser mais agressivo para vencer essas barreiras”, explica Silva.

Além da descoberta relativa à agressividade, os pesquisadores identificaram que os pacientes mais jovens apresentaram mais recidivas. O risco foi 93% maior, de acordo com Silva.

Mais jovens com câncer colorretal

Especialistas ainda investigam por que o câncer colorretal tem se tornado mais comum em adultos jovens. Para Silva, isso tem a ver, ao mesmo tempo, com o sucesso de estratégias de rastreio e com fatores de estilo de vida, como má alimentação e sedentarismo.

“Historicamente, a curva de incidência do câncer colorretal sempre era ascendente, até se iniciarem as estratégias de prevenção, que até pouco tempo eram recomendadas a partir dos 50 anos, com adesão mais efetiva dos pacientes a partir dos 60”, explica.

A colonoscopia, por exemplo, pode prevenir até 96% dos casos de câncer colorretal, segundo ele. Esse exame permite identificar e remover pólipos, que são pequenas feridas ou caroços no intestino capazes de se “transformar” em câncer.

Quando essas medidas de rastreio foram implementadas, a tendência de aumento causada por má alimentação — marcada especialmente por consumo de alimentos ultraprocessados e baixa ingestão de fibras — e sedentarismo, começou a ser interrompida, diz o médico.

Mas, na população mais jovem, essas estratégias ainda não eram implementadas. Eles continuaram expostos a esses fatores de risco sem qualquer prevenção, e a incidência passou a crescer nesse grupo, explica.

Detecção precoce

O câncer colorretal é uma doença tratável e frequentemente curável, segundo o Inca. Quanto mais cedo a detecção, maiores as chances de recuperação do paciente.

A detecção precoce costuma ser feita por meio de rastreamento, recomendado principalmente para pessoas a partir dos 45 anos. O rastreio pode inclui exames como a colonoscopia.

Considerando as taxas ascendentes desse tumor na população, todos precisam estar atentos aos sintomas, que, no início, podem ser bastante inespecíficos. De acordo com o Inca, vale atenção para:

  • sangue nas fezes;
  • alteração do hábito intestinal (diarreia e/ou prisão de ventre);
  • dor, cólica ou desconforto abdominal;
  • fraqueza e anemia;
  • perda de peso sem causa aparente;
  • alteração na forma das fezes (muito finas e compridas);
  • massa abdominal.

“Na maior parte das vezes esses sintomas não são causados por câncer, mas é importante que eles sejam investigados por um médico, principalmente se não melhorarem em alguns dias”, afirma o Inca.