O Cogat, um órgão do Ministério da Defesa israelita, afirmou que a ajuda transportada por 120 camiões foi “distribuída” no domingo pela ONU e por organizações humanitárias em Gaza, onde a desnutrição atingiu “níveis alarmantes”, segundo a ONU.

Os alimentos transportados por mais de 120 camiões foram recebidos e distribuídos ontem (domingo) pela ONU e por organizações internacionais”, escreveu na rede social X o organismo que supervisiona a entrada de ajuda humanitária em Gaza.

Citado pela agência noticiosa Efe, o governo do grupo extremista palestiniano Hamas disse que apenas 73 camiões entraram na Faixa de Gaza, “a maioria foi saqueada sob o olhar atento da ocupação israelita e dos seus drones, numa clara tentativa de impedir que a ajuda chegasse aos centros de distribuição”.

Segundo o Hamas, foram feitas ainda três operações de lançamento de ajuda aérea que “não representaram mais do que o equivalente a dois camiões” e cujos mantimentos caíram em zonas consideradas de combate pelo exército israelita e inacessíveis aos civis por questões de segurança.

Israel declarou no domingo uma pausa diária nos combates para fins humanitários em certas áreas do território palestino devastado por quase 22 meses de guerra

O objetivo de Telavive é “refutar a falsa alegação de fome deliberada na Faixa de Gaza”.

A pausa vai ocorrer durante o dia em Al-Mawasi, Deir al-Balah e na cidade de Gaza das 10h00 às 20h00 (hora local) até novo aviso, avançou o Exército.

Rotas seguras designadas também estarão em vigor permanentemente das 6h00 às 23h00, acrescentou.

Também esta segunda-feira, o secretário-geral das Nações Unidas frisou que a “fome nunca deve ser usada como arma de guerra”, numa referência, em particular, aos conflitos em curso em Gaza e no Sudão.

“Os conflitos continuam a propagar a fome em Gaza, no Sudão e além. A fome alimenta a instabilidade e compromete a paz. Nunca devemos aceitar a fome como arma de guerra”, afirmou Guterres, numa videoconferência na Cimeira das Nações Unidas sobre Sistemas Alimentares (UNFSS), organizada na Etiópia.A Organização Mundial de Saúde já alertou para os “níveis alarmantes” de subnutrição na Faixa de Gaza e que o “bloqueio deliberado” de ajuda humanitária já custou a vida a muitos palestinianos.

Das 74 mortes relacionadas com a desnutrição registadas desde o início do ano, 63 ocorreram este mês, incluindo 24 crianças com menos de cinco anos, uma criança com mais de cinco anos e 38 adultos, precisou a agência da ONU.

ONU relança solução de dois Estados

A sede das Nações Unidas recebe a partir desta segunda-feira uma conferência internacional dedicada à questão palestiniana e organizada com o objetivo de relançar a chamada “solução de dois Estados” (Palestina e Israel).

O encontro de alto nível em Nova Iorque, copresidido por França e Arábia Saudita e que decorre até terça-feira, esteve inicialmente previsto para junho, mas foi adiado no último minuto devido à guerra entre Israel e o Irão.

A Assembleia Geral da ONU, composta por 193 membros, decidiu em setembro do ano passado que a conferência seria realizada em 2025. A conferência tem como objetivo definir os parâmetros para um roteiro para um Estado palestino, garantindo a segurança de Israel.

O ministro francês dos Negócios Estrangeiros, Jean-Noel Barrot, afirmou ao jornal La Tribune Dimanche numa entrevista publicada no domingo que aproveitará a conferência para pressionar outros países a se juntarem à França no reconhecimento de um Estado palestino.

A França pretende reconhecer um Estado palestino em setembro, na reunião anual de líderes mundiais na Assembleia Geral das Nações Unidas, disse o presidente Emmanuel Macron na passada semana.

“Vamos lançar um apelo em Nova Iorque para que outros países se juntem a nós para iniciar uma dinâmica ainda mais ambiciosa e exigente que culminará a 21 de setembro”, afirmou Barrot, acrescentando que esperava que, até lá, os países árabes condenassem os militantes palestinianos do Hamas e exigissem o seu desarmamento.



A conferência ocorre enquanto a guerra de 22 meses entre Israel e o Hamas em Gaza se mantém.

O conflito começou em 7 de outubro de 2023, quando o Hamas matou 1.200 pessoas no sul de Israel e fez cerca de 250 reféns, de acordo com dados israelitas. Desde então, a campanha militar de Israel matou quase 60 mil palestinos, segundo as autoridades de saúde de Gaza.

Os EUA não participarão da conferência na ONU, avançou um porta-voz do Departamento de Estado, que descreveu a reunião como “um presente para o Hamas, que continua a rejeitar as propostas de cessar-fogo aceites por Israel que levariam à libertação dos reféns e trariam calma a Gaza”.

O porta-voz do Departamento de Estado acrescentou que Washington votou contra a Assembleia Geral no ano passado, que apelava à realização da conferência, e que “não apoiaria ações que comprometessem a perspetiva de uma resolução pacífica e duradoura do conflito”.

Israel também não participará da conferência, para Jonathan Harounoff, porta-voz internacional da missão de Israel na ONU, a reunião “não aborda com urgência a questão de condenar o Hamas e devolver todos os reféns que ainda estão na posse do Hamas”.

A ONU há muito tempo apoia a visão de dois Estados vivendo lado a lado dentro de fronteiras seguras e reconhecidas.

Os palestinianos querem um Estado na Cisjordânia, em Jerusalém Oriental e na Faixa de Gaza, todos territórios conquistados por Israel na guerra de 1967 com os Estados árabes vizinhos. Em maio de 2024, a Assembleia Geral das Nações Unidas apoiou por esmagadora maioria a candidatura palestiniana a membro pleno da ONU, reconhecendo-a como qualificada para aderir e recomendando ao Conselho de Segurança da ONU que “reconsiderasse a questão favoravelmente”.

A resolução obteve 143 votos a favor e nove contra. A votação da Assembleia Geral foi uma pesquisa global de apoio à tentativa palestina de se tornar membro pleno da ONU — uma medida que reconheceria efetivamente um Estado palestino — depois que os EUA vetaram a proposta no Conselho de Segurança da ONU várias semanas antes.

O papel da ONU na questão palestiniana

Há mais de 75 anos, desde a divisão da Palestina entre um Estado judeu e outro árabe, a ONU tem um papel fundamental na história dos palestinianos, questão que voltou a ser o centro de uma conferência internacional esta semana em Nova Iorque.

Em 29 de novembro de 1947, a Assembleia Geral da ONU aprovou a resolução 181 sobre a partilha da Palestina, então sob mandato britânico, e a criação de dois Estados, um judeu e outro árabe, com Jerusalém tendo um estatuto internacional. Os Estados árabes e os palestinianos opuseram-se. O movimento sionista aceitou.

Em 14 de maio de 1948, o Estado de Israel é proclamado. Os exércitos árabes entram em guerra contra este novo Estado, que obtém uma vitória esmagadora em 1949.

Em 1967, a resolução 242 do Conselho de Segurança estabelece as bases para uma paz justa e duradoura, mas introduz uma ambiguidade entre as diferentes versões linguísticas.

A 13 de novembro de 1974, Yasser Arafat, líder da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), criada dez anos antes, profere o seu primeiro discurso na tribuna da ONU, onde aparece com um ramo de oliveira e uma pistola.

O principal avanço em direção à paz não veio da ONU. Em 1993, Israel e a OLP, que proclamou em 1988 o “Estado palestino independente”, concluíram negociações secretas em Oslo e assinaram em Washington uma declaração de princípios sobre a autonomia palestina. Em 1994, Yasser Arafat regressa aos Territórios Palestinos, após 27 anos de exílio, e estabelece lá a Autoridade Palestiniana.



As decisões do Conselho de Segurança sobre a questão palestiniana dependem em grande parte da posição americana.


Desde 1970, os Estados Unidos utilizaram o seu veto cerca de 40 vezes para proteger o seu aliado israelita. Mas, por vezes, permitem resoluções importantes.


c/ agências