Uma televisão de US$ 30.000 –ou R$ 162 mil– pode dar pistas sobre o futuro da linha de produtos da Samsung Electronics.

Em agosto, a gigante tecnológica sul-coreana apresentou uma TV 4K de 115 polegadas com o novo sistema de retroiluminação “Micro RGB”, que permite ao aparelho produzir uma gama muito maior de cores em comparação aos mais avançados modelos que a marca oferece atualmente.

Mas graças a esse preço —resultado tanto do tamanho gigantesco da tela quanto do que a empresa chama de “tecnologia revolucionária”— é improvável que a maioria das pessoas experimente a primeira TV Micro RGB da Samsung em primeira mão.

Isso pode mudar em breve. A Samsung está preparando TVs Micro RGB menores e mais baratas que usam a mesma tecnologia, disse SW Yong, presidente da divisão de displays visuais da Samsung.

“No futuro, esperamos lançar modelos de 98 e 75 polegadas”, disse, acrescentando que nem mesmo ele tem uma sala de estar grande o suficiente para acomodar uma TV de 115 polegadas. “Com isso, também esperamos aumentar a acessibilidade ao consumidor em geral, além de oferecer faixas de preço diferenciadas.”

Esses aparelhos menores provavelmente ainda seriam vendidos por um preço bem maior do que as linhas de TV tradicionais da empresa.

TVs ultragrandes se tornaram mais populares entre os consumidores. Tanto fabricantes quanto varejistas como a Best Buy afirmam que os clientes costumam escolher telas enormes em vez de tamanhos mais modestos, de 55 ou 65 polegadas.

A demanda por TVs com mais de 80 polegadas aumentou 24,5% no quarto trimestre de 2024, de acordo com a empresa de pesquisa Omdia, tornando este segmento o de mais rápido crescimento. A maioria das TVs gigantes custa uma fração do que a Samsung cobra, já que utilizam tecnologia de tela mais convencional.

As TVs LCD geralmente têm backlights brancos ou azuis. Esses LEDs emitem luz através de um filtro de cor para produzir os tons que o usuário vê na tela. Nos últimos anos, fabricantes de TV como Samsung, Hisense Group e TCL Technology Group vêm diminuindo essas luzes —e colocando mais delas em cada TV— para obter uma imagem mais impactante, com pretos mais profundos e maior contraste.

Com o Micro RGB, a Samsung está revolucionando essa fórmula com retroiluminação separada em vermelho, verde e azul, que, segundo a empresa, pode gerar “cores ultrapuras”, que cobrem uma gama de tons ainda mais ampla do que os outros aparelhos da empresa. Considerando o quão vívidas essas TVs já conseguem ser, é uma conquista impressionante. Alguns dos concorrentes da Samsung, incluindo a Sony Group e a TCL, já desenvolveram tecnologias de retroiluminação semelhantes à Micro RGB.

Mas mesmo a nova abordagem tem suas desvantagens. Os aparelhos Micro RGB não conseguem igualar os pretos intensos das TVs OLED, que usam pixels autoemissivos que não requerem luz de fundo.

“Acredito que as tecnologias OLED e Micro RGB coexistirão por muito tempo, e a razão é que cada uma tem seus próprios pontos fortes”, disse Yong. A Samsung tem vários modelos OLED em sua linha de TVs lançadas este ano.

Micro RGB é uma tecnologia completamente diferente da MicroLED, que vários fabricantes de TV vêm apresentando há anos na Consumer Electronics Show, em Las Vegas (EUA). A MicroLED tem sido apontada como uma possível sucessora da OLED e oferece muitas das mesmas vantagens, além de outros benefícios como maior brilho, design modular e maior vida útil.

A Samsung oferece TVs MicroLED há vários anos, mas os preços exorbitantes –acima de US$ 200.000 (R$ 1 milhão) para alguns tamanhos– têm mantido esses modelos fora do alcance do consumidor médio. É improvável que isso mude tão cedo.

Pelo menos a curto prazo, a grande maioria dos compradores de TV prefere a linha tradicional da Samsung, que inclui modelos que priorizam a qualidade da imagem –como OLEDs e a série “Neo QLED” da empresa– e outros que priorizam o estilo. A The Frame, que exibe obras de arte quando a TV está ociosa, provou ser popular.

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A Samsung continua sendo a principal fabricante global de TVs em participação de mercado desde 2006. Mas concorrentes como Hisense e TCL conquistaram ganhos significativos em vendas nos últimos anos, oferecendo TVs com alta qualidade de imagem, que aumentaram as expectativas dos consumidores.

Assim como suas concorrentes, a Samsung se esforça para integrar recursos de inteligência artificial em toda a sua linha de TVs. Inicialmente, esses recursos visavam melhorar a qualidade de vídeo e áudio sem exigir que os usuários ajustassem configurações complexas. Mas agora as TVs suportam comandos de voz mais sofisticados: pedir uma recomendação de filme ou programa de TV, por exemplo, parece muito mais natural do que há apenas um ou dois anos.

“O que vemos, e esperamos que continue a evoluir, é que a tela da TV seja capaz de dialogar interativamente com nossos consumidores”, disse Yong. “E para nos prepararmos para essas mudanças, estamos trabalhando em estreita colaboração com as grandes empresas de tecnologia para que todos possamos oferecer experiências inovadoras aos nossos consumidores.”

Folha Mercado

No final de agosto, a Microsoft lançou um aplicativo Copilot para os aparelhos mais recentes da Samsung, que oferece ao assistente de voz um avatar amigável na tela.

Também há espaço para que a experiência visual evolua potencialmente. Para frustração de alguns entusiastas de home theater, a empresa há muito tempo evita oferecer em suas TVs o Dolby Vision, um formato de vídeo de alta faixa dinâmica. Em vez disso, tem privilegiado o HDR10+ de padrão aberto, que oferece resultados semelhantes e é oferecido com uma ampla variedade de conteúdo.

“Se houver uma forte preferência dos consumidores pelo Dolby, é claro que analisaremos isso”, disse Yong.

Nesta semana, a Dolby apresentou o Dolby Vision 2 mas, assim como a versão original, a Samsung não sinalizou nenhum interesse em apoiar a tecnologia.