O nome do deus dos deuses (na mitologia romana) assenta que nem uma luva: Júpiter é o novo supercomputador europeu e também o mais rápido. É, aliás, um dos mais rápidos do mundo, atingindo a capacidade de executar cálculos à exaescala – ou seja, acima das 1.000.000.000.000.000.000 (isto é, um quintilião) operações executadas por segundo. A Europa entra agora nesta escala de computação, depois da inauguração desta máquina esta sexta-feira, na Alemanha, e com promessas para cumprir na descoberta de novas moléculas para medicamentos ou mesmo na construção mais rápida de modelos com inteligência artificial.
Vamos a um exemplo. Se utilizarmos toda a população mundial – mais de oito mil milhões de habitantes – e cada pessoa executar um cálculo por segundo, toda a população do planeta demoraria mais de quatro anos a fazer as operações que um computador de exaescala faz em apenas um segundo. Neste momento, o Júpiter está em quarto lugar na lista “TOP500”, que acompanha a velocidade dos supercomputadores em todo o mundo. É, ainda assim, o mais eficiente em termos energéticos dos supercomputadores que estão entre os cinco mais rápidos – reiterando o sempre presente compromisso com a sustentabilidade da União Europeia.
O supercomputador Júpiter é imponente não só pelo nome: tem 130 metros de comprimento, 2,5 metros de altura e pesa 420 toneladas. Desde 2018, quando foi criada a rede europeia EuroHPC (Empresa Comum para a Computação Europeia de Alto Desempenho), que uma máquina com estas proporções está em vista. Primeiro avançaram oito supercomputadores por toda a Europa, incluindo o Deucalion em Portugal. Agora, chega uma máquina ainda maior e cujos custos são divididos entre a Europa e a Alemanha – cada um pagou metade dos 500 milhões de euros que custou o Júpiter.
Este supercomputador europeu, a que investigadores e empresas de todos os países da União Europeia poderão recorrer, ficará instalado no Centro de Investigação Jülich, na Alemanha, e conta com tecnologia da empresa Nvidia para garantir toda a capacidade de computação que promete.
Esta também é uma questão da posição da Europa a nível global. Neste momento, os Estados Unidos têm três supercomputadores de exaescala e a Europa tem este
Pedro Alberto
“O Júpiter representa um marco histórico, impulsionando o poder computacional da Europa a um nível sem precedentes”, diz Anders Jensen, director-executivo da EuroHPC, citado em comunicado. “Com as suas capacidades de exaescala, o Júpiter impulsionará avanços na ciência, na indústria e na sociedade, reforçando a soberania tecnológica e a competitividade global da Europa.”
Para que serve um supercomputador?
Os supercomputadores permitem analisar enormes volumes de dados num período bastante mais curto do que o normal ou fazer múltiplos cálculos. Os melhores exemplos da sua aplicação estão na física – a testar hipóteses, modelos ou a transformar os imensos dados sobre o universo em imagens ou informação visual mais simples – ou até na biologia – com a criação de modelos de um vírus para o compreender e, se necessário, descobrir os pontos fracos.
“Há vários problemas científicos que beneficiarão desta exaescala [do Júpiter e até a própria inteligência artificial] e este computador também tem uma capacidade acrescida de treino de modelos”, sublinha Pedro Alberto, professor da Universidade de Coimbra e director do Laboratório de Computação Avançada da mesma instituição.
O supercomputador Júpiter será o primeiro a atingir uma capacidade de cálculo na exaescala
Sascha Kreklau/Centro de Investigação Jülich
Um exemplo comum do uso destes supercomputadores são as previsões meteorológicas ou os modelos climáticos em que se analisam enormes conjuntos de dados e são necessárias muitas simulações – afinal, estamos a falar de probabilidades. Neste capítulo, não só será importante conhecer o tempo antes de sairmos de casa, mas também a prevenção mais eficaz do risco de incêndios florestais, por exemplo.
“Se tiver um sistema suficientemente grande consigo fazer muitas simulações complexas e posso poupar tempo aí. Muitas vezes não é necessária apenas uma simulação, preciso de várias – como no caso do clima”, diz Pedro Alberto.
Há outras aplicações, nomeadamente a descoberta e simulação de efeitos de moléculas com potencial para se tornarem fármacos ou até o desenvolvimento e treino de modelos de inteligência artificial. Será o primeiro supercomputador competitivo no treino de modelos de inteligência artificial face à concorrência da China e dos Estados Unidos. Segundo um relatório da Universidade de Stanford (Estados Unidos) sobre o desenvolvimento destes modelos, em 2024 40 modelos “notáveis” foram criados em instituições norte-americanas, 15 em instituições chinesas e apenas três na Europa.
“Esta também é uma questão da posição da Europa a nível global. Neste momento, os Estados Unidos têm três supercomputadores de exaescala e a Europa tem este – e está previsto que tenha um outro francês”, explica Pedro Alberto. O segundo supercomputador de exaescala na Europa será instalado em França e terá o nome de Alice Recoque, cientista pioneira da computação francesa. Não há ainda previsão para a sua entrada em funcionamento.