“Quem quer que exerça um cargo político é politicamente responsável pelo exercício”, alertou o chefe de Estado em declarações aos jornalistas após participar nas cerimónias fúnebres das vítimas mortais do descarrilamento.

“Eu sou politicamente responsável, por isso é que escrevi aos chefes de Estado estrangeiros em nome do Estado português”, exemplificou o presidente, acrescentando que “para efetivar a responsabilidade é preciso ter o relatório completo, mas que ela existe por princípio, sim”.

“Quem está à frente de uma instituição pública responde politicamente (…) por aquilo que aconteça de menos bem nessa instituição, mesmo que sem culpa nenhuma, mesmo que sem intervenção nenhuma”, reiterou.

Marcelo Rebelo de Sousa sublinhou que a responsabilidade política, “no caso de ser um cargo eletivo, é perante os eleitores”, pelo que, numa altura em que o país está a pouco mais de um mês das autárquicas, surge a oportunidade “de os eleitores se manifestarem”.As eleições autárquicas darão “a quem tem de decidir a possibilidade de a culpa não morrer solteira”, vincou o presidente.

O chefe de Estado disse também ter compreendido a posição do presidente da Carris quando pôs o lugar à disposição “porque hoje, no direito português (…), o simples facto de uma instituição pública no seu funcionamento (…) determinar consequências desta gravidade determina uma responsabilidade jurídica objetiva”.

Destacou, porém, que o relatório inicial sobre o descarrilamento “tem o cuidado de dizer que há muitas dúvidas e muitas pistas a desenvolver até ao relatório prometido para daqui a 45 dias”.

Segundo este relatório, com os elementos disponíveis até ao momento não é possível determinar a responsabilidade de pessoas nem organizações.

Marcelo Rebelo de Sousa apontou também o facto de o documento questionar “porque é que se soltou, no ponto de fixação de uma cabine, o cabo” ou “porque é que a redundância não existe ou não funcionou” quando foram acionados os dois sistemas de travagem.


O presidente transmitiu ainda as suas condolências às famílias e amigos das vítimas portuguesas, assim como aos chefes de Estado dos países de onde eram originais as vítimas estrangeiras.


O elevador da Glória, em Lisboa, descarrilou quarta-feira, pelas 18h00, fazendo 16 vítimas mortais e vários feridos. O Governo decretou um dia de luto nacional na quinta-feira e a Câmara de Lisboa decidiu adotar três dias de luto municipal.