Indústria de veículos elétricos dos Estados Unidos tem vindo a reduzir importações de grafite da China. As reservas moçambicanas em Cabo Delgado são alternativa.
A Syrah Resources, empresa australiana que produz grafite natural na mina moçambicana de Balama, anunciou a exportação de 10 mil toneladas daquele mineral para os Estados Unidos da América, cuja indústria de automóveis elétricos depende largamente da importação de vários minerais críticos.
Moçambique é, tal como a China – o maior produtor e exportador de grafite do mundo –, o Brasil e Madagáscar, um centro estratégico para a transição energética dadas as grandes reservas de grafite e de outros materiais que alimentam o mercado em expansão dos veículos elétricos mercado, metas ambientais, guerras comerciais e, nalgumas regiões, conflitos armados.
O anúncio da Syrah sobre o envio da mercadoria deste o Índico até ao Atlântico foi feito no dia 1 de setembro do mês. “A Syrah Resources tem o prazer de confirmar o seu primeiro carregamento breakbulk de grafite natural com destino aos EUA. 10 mil toneladas de grafite estão atualmente a caminho de uma série de clientes sediados nos EUA”, escreveu a empresa nas redes sociais.
Foi em 2018 que a Syrah, através da subsidiária Twigg Exploration and Mining Limitada, começou a operar aquela que é uma das maiores minas de grafite do mundo, localizada em Cabo Delgado, da qual a Tesla conta, em parte, para o fabrico de baterias elétricas. Com o grafite natural extraído no Norte de Moçambique conta, também, a fabricante norte-americana de Lucid Motors, cotada no Nasdaq e sediada em Silicon Valley.
Na mesma nota, a empresa australiana diz que “está a liderar o caminho para garantir uma forte fonte de abastecimento nos EUA para material de ânodo de bateria, essencial no mercado de veículos eléctricos de elevado crescimento”.
A necessidade da redução da dependência de “minerais críticos” importados pelos principais fabricante de veículos elétricos dos EUA, sobretudo da China, tem aberto caminho a outros mercados produtores de grafite, com Moçambique a reclamar um papel importante nesta estratégia. Em 2024, a agência governamental dos EUAInternational Development Finance Corporation (DFC) concedeu à Syrah um empréstimo de 150 milhões de euros (128,8 milhões de dólares) para investimento nas operações em Balama, situada a cerca de 200 quilómetros a oeste da cidade portuária de Pemba, capital de Cabo Delgado.
De Cabo Delgado para o Niassa
Com uma capacidade inicial de produção de 100 mil toneladas por ano, a exploração de grafite na província do Niassa teve início no dia 5 de maio deste ano. À frente da mina está a empresa chinesa DH Mining Development Limited, que deverá investir mais de 27,3 milhões de euros (1.970 milhões de meticais) nas operações.
Acordo com a Tesla
A Syrah e aquela que foi a maior fabricante de veículos elétricos até ser superada pela chinesa BYS assinaram, em dezembro de 2021, um acordo para o fornecimento de oito mil toneladas de material de ânodo ativo de grafite natural por ano a partir da sua fábrica de grafite em Vidalia, localizada no estado norte-americano do Louisiana.
O contrato de exploração mineira da Twigg Exploration and Mining no país foi aprovado pelo governo de Moçambique em 29 de agosto de 2017, em plena expansão do mercado de automóveis elétricos. De acordo com a empresa australiana, a fábrica de processamento de Balama, em plena capacidade, será capaz de produzir 350 mil toneladas de grafite por ano durante 40 anos de vida da mina.
Apesar de ser um dos maiores produtos de grafite natural do mundo, os números do ano passado ficaram abaixo do esperado. A produção de grafite para baterias de carros elétricos, recuou 64% em 2024, para 34.899 toneladas, um dos registos mais baixos dos últimos anos, segundo dados do governo de Maputo.