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Há uma semana, o avião que transportava a chefe da União Europeia, Ursula von der Leyen, terá sido forçado a pousar na Bulgária recorrendo a mapas de papel, depois de os sistemas de navegação GPS terem sido bloqueados. As autoridades búlgaras alegaram que o bloqueio foi interferência russa deliberada, embora um porta-voz do Kremlin tenha dito ao ‘Financial Times’ que isso era “incorreto”.

A interferência do GPS na aviação tem vindo a aumentar, pelo que se levantam as questões: o que se pode fazer a esse respeito? Mas, sobretudo, é necessário preocupar-se quando viajar?

Como funciona o bloqueio de GPS?

O Sistema de Posicionamento Global (GPS) e outros sistemas de navegação por satélite utilizam sinais de rádio de satélites para calcular a posição, apontou Lucia McCallum, cientista sénior em Geodésia, na Universidade da Tasmânia (Austrália), num artigo no site ‘The Conversation’. Para determinar a posição, um GPS precisa de uma linha de visão direta para pelo menos quatro satélites.

Há duas maneiras de interromper a navegação por satélite.

A primeira é o bloqueio. Funciona simplesmente transmitindo ruído de rádio de alta intensidade na mesma banda de frequência usada pelos satélites de navegação. A interferência abafa o sinal do satélite – como se tivesse alguém a gritar ao seu ouvido de forma a impedir que ouça o que alguém está a dizer do outro lado da sala. Terá sido o que aconteceu na Bulgária.

A segunda maneira de interferir na navegação por satélite é chamada de spoofing, e é um pouco mais elegante. A spoofing envolve o envio de sinais de rádio que fingem vir dos satélites de navegação. Enquanto o bloqueio impede o sistema de navegação por satélite de produzir qualquer localização, a falsificação engana-o, fazendo-o fornecer uma localização falsa, com resultados potencialmente catastróficos.

O bloqueio e a falsificação estão a tornar-se mais comuns?

De acordo com a especialista, sim. O bloqueio e a falsificação parecem estar a tornar-se mais comuns, especialmente em zonas de conflito no Médio Oriente e na Europa Oriental.

Uma base clandestina russa perto da fronteira com a Polónia é supostamente responsável pela interferência de sistemas de navegação por satélite na região do Báltico. Navios no Mar Vermelho relatam interferências frequentes, provavelmente de rebeldes Houthi no Iémen. Esses incidentes cada vez mais comuns destacam o quão vulneráveis nos torna a ​​nossa dependência da navegação por satélite.

O que pode ser feito em relação à interferência?

A melhor resposta à interferência é ter opções de navegação de reserva. O GPS, usado nos EUA, é o sistema de navegação por satélite mais conhecido e utilizado, mas existem outros.

A UE opera um sistema paralelo chamado Galileo, enquanto a Rússia tem um chamado GLONASS e a China opera os seus próprios satélites BeiDou.

Cada um desses sistemas opera usando frequências de rádio ligeiramente diferentes. Alguns sistemas de navegação podem sintonizar mais de um conjunto de satélites – portanto, mesmo que um esteja bloqueado, outros podem estar disponíveis.

O Galileo também possui um recurso de “segurança de vida”, que permite aos utilizadores detetar falsificações. O sistema SouthPAN, em desenvolvimento na Austrália, também oferecerá um recurso semelhante.

Outra característica comum dos sistemas de navegação é a deteção inercial, que se baseia em sensores como giroscópios e barómetros para detetar diretamente o movimento e calcular a posição.

A maioria dos sistemas de navegação automóvel utiliza sensores inerciais para rastrear a localização em cidades ou túneis onde não há linha de visão direta para satélites. A deteção inercial funciona bem por curtos períodos, mas rapidamente se torna imprecisa e precisa de ser recalibrada através de uma consulta aos sistemas de satélite.

Muitos investigadores pelo mundo fora estão a tentar desenvolver novas alternativas à navegação por satélite usando sensores extremamente precisos. Um desenvolvimento recente usa pequenas flutuações no campo magnético da Terra para detetar a posição, por exemplo.

É motivo de preocupação se decidir voar?

Passageiros aéreos comuns não precisam se preocupar com interferências ou falsificações. Para começar, isso é muito raro — especialmente fora de zonas de conflito.

Por outro lado, a indústria da aviação é altamente regulamentada e extremamente segura. Mesmo onde a navegação por satélite não funciona, existem opções alternativas.