Cruzamento de Pedro Neto, Cristiano Ronaldo apareceu e encostou para o fundo das redes. Um momento de emoção no estádio, que celebrou como se de um golo da casa se tratasse, e pleno de significado: numa partida que marcou o regresso de Portugal à competição desde a morte de Diogo Jota, o capitão fez, na altura, o 2-0, ao minuto 21, o mesmo número que o antigo internacional português usava ao serviço da Seleção Nacional. Num jogo que começou precisamente com um minuto de silêncio em homenagem a Jota, a exibição portuguesa mostrou-se digna de respeitar o legado do antigo companheiro. Uma prestação em crescendo até pouco depois da hora de jogo, que estabilizou após o 5-0 final, e que não deixou qualquer sombra de dúvida sobre a justiça da vitória frente à Arménia.
É certo que a Seleção Nacional se apresenta agora com mais qualidade que mostrava na vitória por 3-2 em 2015 ou no empate por 1-1 em 2007 em casa dos arménios, mas nem por isso este deixava de ser um terreno potencialmente difícil, sobretudo numa fase tão inicial deste percurso rumo ao Mundial 2026. A seleção da casa também tratou de, entre os 10 e os 20 minutos, colocar em sentido a defesa portuguesa. A lição estava bem estudada: manter compacto o 5x3x2 e aproveitar rapidamente a subida dos laterais portugueses para criar igualdade numérica. Ainda causou algum respeito nesse espaço de tempo e ficou na memória, aos 44’, uma arrancada do capitão Barseghyan que ainda entusiasmou o estádio.
Portugal conseguiu, ainda assim e sem qualquer surpresa, controlar sempre o jogo. A partir de trás, Vitinha foi pautando o ritmo e, perante a ausência de pressão adversária, assumiu cada vez mais a progressão com bola, algo que deu qualidade à equipa portuguesa. O jogo da Seleção no primeiro tempo incidiu sobretudo pelo corredor direito, onde Pedro Neto e João Cancelo assumiram mais protagonismo que Bruno Fernandes e Nuno Mendes, mais descaídos para a esquerda.
Foi, aliás, um regresso de sonho para Cancelo, que representou a Seleção pela primeira vez desde novembro do ano passado. Teve liberdade para bailar, encontrar-se no 1 para 1 e mostrar como é, ainda, um dos mais talentosos laterais do globo. 10 minutos bastaram para que encontrasse a cabeça de João Félix após sentar o opositor direto para o avançado do Al Nassr fazer o sexto golo em quatro jogos em 2025/26. Aos 21’, Cristiano Ronaldo fez o já mencionado 2-0 e apontou para o céu, dedicando o golo ao pai, no dia que marcou os 20 anos da morte do progenitor. 11 minutos depois voltou a tentar, mas o disparo foi defendido por Avagyan, mas, no seguimento da jogada, a bola sobrou para Cancelo que, à entrada da área, fez o 3-0 e carimbou uma primeira parte de excelente nível.
Era esse o resultado ao intervalo e o marcador refletia bem a diferença no marcador. É certo que Portugal não havia conseguido estancar todas as arrancadas da equipa adversária, mas não chegou a permitir qualquer remate à baliza. Domínio avassalador e eficácia quase perfeita: cinco remates à baliza, três golos. Estava bem espelhada a superioridade no primeiro tempo e, no segundo, tudo ficaria fechado bem cedo.
Os primeiros 17 minutos do segundo tempo foram um vendaval ofensivo de Portugal. 10 anos depois, mais ou menos do mesmo sítio, Cristiano Ronaldo voltou a fazer como em 2015: um disparo de meia distância aos 46′ só parou no fundo das redes da Arménia — na altura foi o golo 55 pela Seleção, agora foi 140.º. A pressão portuguesa engoliu por completo os adversários, que não conseguiram ter resposta, nem em qualidade nem em velocidade, para o ímpeto imprimido pelos portugueses nessa fase, que culminou com um toque artístico de Félix a passe de Gonçalo Ramos aos 61’. Estava feito o 5-0 e, pelo meio destes dois golos, já Bruno Fernandes havia atirado ao poste. Depois da avalanche de controlo do primeiro tempo, com 75% de posse de bola, uma onda de verticalidade atirou para terra qualquer ímpeto dos arménios.
Depois disso… foi só respirar. Não é que Portugal não tenha conseguido criar perigo, com Pedro Gonçalves, em duas ocasiões, a ficar muito perto de se estrear a marcar com a camisola das quinas. Mas, por essa altura, já Roberto Martínez tinha feito substituições e Portugal descansava com bola, acelerando aqui e ali, num claro gesto de gestão física e do jogo. A Arménia ainda obrigou Diogo Costa a três intervenções, mas todas elas encaixadas com serenidade.
Portugal teve a eficácia no primeiro tempo, sufocou no início do segundo e geriu durante quase meia hora sem sofrer golos. A eficácia da primeira parte não regressou para a segunda, mas perante tanto caudal ofensivo, sobretudo contra um adversário que foi, aos poucos, perdendo a capacidade de resposta e o entusiasmo de quem enfrentava uma das melhores seleções do Mundo, não chegou a ser necessário. Neste regresso à competição, Portugal homenageou um dos seus com aquilo que melhor podia fazer: um jogo muito positivo a todos os níveis e os três pontos.