Não conheço Rute Cardoso. Já tinha visto recentemente fotos da família de Diogo Jota, afinal há pouco tempo tinha sido campeão com o Liverpool e vencido a Liga das Nações com Portugal, mas calhou que no final de junho olhasse com mais atenção para as fotos do casamento oficial daquele par há tantos anos já formado.

Já passaram mais de dois meses, longos dias, seguramente, desde que Rute passou de noiva a viúva em poucos dias, pouco mais de uma semana, mas uma coisa chamou-me a atenção – manteve o branco. Casou-se de branco, de branco esteve no funeral no marido e do cunhado.

De branco foi a Liverpool várias vezes, ora para o gigantesco memorial que se formou nos arredores de Anfield, quer para os jogos inaugurais da Premier League de Liverpool e Wolves – um jogador, mas sobretudo um ser humano como era Jota, suscitou homenagens em vários cantos que tocou. Em Anfield e no Molineux, ao lado de Ruben Neves e dos sogros, lá estava ela, de branco.

O branco deixou há muito de ser olhado como cor de luto na Europa, sendo bastante mais comum no Brasil ou na Ásia. É cor de paz, reflexão e vida. Dizem que foi a rainha Victoria, de Inglaterra, que introduziu o preto no luto quando perdeu o marido, Alberto, cor que usou durante 40 anos. Curiosamente foi também ela que fez finca pé para casar de branco – não era a cor dominante entre as noivas então.

Michel Pastoureau, um dos maiores especialistas na história das cores, aborda o tema no livro «Branco: História de uma Cor», de 2019. É notado o «luto branco» na Idade Média e na Renascença, usado sobretudo por mulheres da nobreza ou realeza, como Ana de Bretanha, que, ao tornar-se viúva, adotou o branco como traje de luto.

Para o autor, a simbologia geral do branco no luto toca temas como a pureza, a espiritualidade – basta lembrar como foi adotada pela Igreja Católica por exemplo no traje do Papa, ou em vários símbolos com as pombas ou os cordeiros – e o «celebrar a vida em vez de apenas lamentar a morte». Creio que é a isto que Rute se agarrará para continuar uma vida pelos três filhos.

Foi também de branco que esteve na semana passada na Cidade do futebol, em que o marido e Jorge Costa foram condecorados, na presença do Presidente da República e do primeiro-ministro, e eternizados no edifício e Rúben Neves teve, para mim, a homenagem mais tocante – o número de Jota, em vez de retirado, continua nas suas costas.