Quem tem medo compra um cão, costuma dizer-se, mas faz já agora 19 anos que uma alternativa possível a esse velho adágio é ir ao MotelX (o cão é facultativo). O Festival Internacional de Cinema de Terror de Lisboa assenta arraiais esta terça-feira no cinema São Jorge, onde ficará até dia 15 para gáudio dos muitos apreciadores que já fizeram do festival lisboeta um rendez-vous anual. A edição 2025 abre oficialmente com a antestreia de The Long Walk – O Desafio, adaptação de Stephen King pelo realizador de The Hunger Games, Francis Lawrence (20h45); encerra oficialmente domingo com The Home, de James de Monaco, criador da série A Purga 8 (21h30); e revela o vencedor do prémio Méliès d’Argent para melhor longa-metragem europeia de terror na noite de segunda-feira, 15 (21h15).

A concurso para este prémio atribuído pela Federação Méliès de Festivais Internacionais, sediada na Bélgica, encontram-se oito longas, entre as quais La Tour de Glace, conto de fadas sensorial de Lucile Hadzihalilovic, com Marion Cotillard (quarta-feira, 16h15), e Mother’s Baby, pesadelo sobre a maternidade da austríaca Johanna Moder (quarta-feira, 23h55) — ambas estreadas na competição principal de Berlim 2025.

Mas, nesta secção competitiva, o destaque vai, primeiro, para a nova longa-metragem do português Jorge Cramez, Sombras (sábado, 17h50), com Victoria Guerra e Pedro Lacerda, que será exibida em antestreia antes de chegar às salas no início de Outubro. E, depois, para Bulk, onde o cineasta britânico Ben Wheatley (The Kill List, In the Earth, A Field in England) regressa às suas origens “faça-você-mesmo” com uma proposta experimental e lúdica de ficção científica, rodada com apenas quatro actores e uma equipa mínima, com iPhone e GoPro (quarta-feira, 21h35, e quinta, 19h40). Os outros títulos a concurso vêm da Grécia (Buzzheart, do greco-americano Dennis Iliadis), França (Que Ma Volonté Soit Faite, de Julia Kowalski), Sérvia (Karmadonna, de Aleksander Radivojevic) e Reino Unido (Hallow Road, de Babak Anvari).




The Home, de James de Monaco, criador da série A Purga 8, encerra o MotelX
David Giesbrecht/cortesia motelx

Secções paralelas e painéis de discussão

Algumas das escolhas mais interessantes estão nas secções paralelas. Aí encontramos Enterre Seus Mortos, a mais recente obra do brasileiro Marco Dutra (As Boas Maneiras), em presença do realizador e do produtor Rodrigo Teixeira (sábado, 20h45); uma curiosa proposta tailandesa aclamada em Cannes, A Useful Ghost, de Ratchapoom Boombunchachoke (sexta, 18h35 e segunda, 16h00); a nova iteração do culto Toxic Avenger sob os traços de Peter Dinklage e dirigida por Macon Blair (sexta, à meia-noite); e os primeiros filmes de duas ilustres “filhas de”. A saber: Tina Romero (filha de George A. Romero), que filma o encontro entre zombies e drag queens em Queens of the Dead (sábado, à meia-noite), e Julie Pacino (filha de Al Pacino), com I Live Here Now (domingo, 16h05).

Apresentar-se-ão ainda um dos títulos recentes mais aclamados da produção britânica, Dragonfly, de Paul Andrew Williams (domingo, 19h30), com duas senhoras actrizes, Brenda Blethyn e Andrea Riseborough; e o mais recente delírio do francês Quentin Dupieux, L’Accident de Piano, sátira às redes sociais com Adèle Exarchopoulos e Sandrine Kiberlain (quinta, 21h30).

Portugal não se limita a estar presente com Sombras, visto que haverá a tradicional competição de Curtas de Terror Portuguesas, este ano com 12 entradas a concurso, mas também um programa temático intitulado O Baile das Bruxas, exibindo entre outros Alma Viva, de Cristèle Alves Meira, O Crime da Aldeia Velha, de Manuel Guimarães, e A Maldição de Marialva, de António de Macedo. Para além disso, haverá ainda a antestreia (quarta, às 22h30) do thriller psicológico do português Nuno Bernardo, A Pianista, com Teresa Tavares e Miguel Borges, que chega às salas logo no dia 11.




A nova iteração do culto Toxic Avenger sob os traços de Peter Dinklage e dirigida por Macon Blair
Yana Blajeva/cortesia motelx

A esse propósito, valerá a pena estar atento aos painéis de discussão na tarde de sexta-feira na sala 2 do São Jorge, relativos à fraca implantação do género na nossa produção, sob o genérico Um País com Medo do Terror e introduzido pelo investigador e programador da Cinemateca Portuguesa Ricardo Vieira Lisboa. A partir das 14h30, suceder-se-ão três mesas redondas sobre, respectivamente, a produção, a distribuição e a comunicação do cinema de género no nosso país, com a presença, entre outros, do vice-presidente do Instituto do Cinema e do Audiovisual, Manuel Claro, do responsável de distribuição e marketing da distribuidora Nos Audiovisuais, Saul Rafael, e do produtor, distribuidor e exibidor Pedro Borges.

Uma das raras cineastas portuguesas a terem trabalhado regularmente no género dá a partir deste ano nome ao Prémio Noémia Delgado para Mulheres Notáveis no Terror. A primeira galardoada é a produtora americana Gale Anne Hurd, que acompanhou os primeiros anos da carreira de James Cameron (com quem foi casada) e produziu entre outros Armageddon, Em Nome de Caim (de Brian de Palma), O Cume de Dante ou a série The Walking Dead. Serão exibidas duas das suas produções mais conhecidas — Aliens – O Recontro Final (quarta, às 19h) e Palpitações (quinta, 19h10) — e Gale Anne Hurd dará igualmente uma masterclass a decorrer na esplanada da Cinemateca Portuguesa (sexta, 19h15).

Não faltarão os tradicionais sustos para os mais jovens, na secção Lobo Mau, este ano com duas antestreias, Ângelo na Floresta Mágica, da dupla francesa Vincent Paronnaud e Alexis Ducord, e Uma Noite no Zoo, dos espanhóis Rodrigo Pérez-Castro e Ricardo Curtis. Nem as raridades dedicadas aos estudiosos mais ferrenhos — este ano serão Los Mil Ojos del Asesino, um quase-giallo rodado em Lisboa pelo espanhol Juan Bosch à beira do 25 de Abril (quarta, 21h30), e um olhar sobre Herschell Gordon Lewis, figura importante das cenas gore e exploitation, com um ensaio visual de Carlos Alberto Carrilho a acompanhar a projecção de duas longas do cineasta americano (segunda, 19h30). Toda a programação pode ser consultada no site oficial.