Nem toda enxaqueca se manifesta como “uma dor de cabeça forte”. Para uma parcela significativa de pacientes, os primeiros, e às vezes únicos, sinais são alterações visuais (luzes, escotomas, distorções) ou auditivas (hipersensibilidade ao som, zumbido, sensação de pressão).
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“Essas manifestações podem confundir pacientes e médicos, levando a exames neurológicos, oftalmológicos ou otorrinolaringológicos repetidos antes do diagnóstico de enxaqueca. Embora seja frequentemente associada a dores de cabeça intensas, nem todas as manifestações dessa doença incluem esse sintoma. Um exemplo notável é a enxaqueca vestibular, na qual os pacientes podem experimentar episódios de tontura e vertigem sem a presença concomitante da dor de cabeça. Ainda existem quadros como a da enxaqueca silenciosa e enxaqueca com aura sem dor de cabeça”, explica o neurologista especialista em Cefaleia Tiago de Paula, membro da International Headache Society (IHS) e da Sociedade Brasileira de Cefaleia (SBC).
Enxaqueca. Foto: Freepik — Foto: Freepik
Segundo o especialista, a enxaqueca é uma doença neurológica comum. Dentre as formas, a enxaqueca com aura — quando há sintomas neurológicos transitórios antes ou durante a crise — afeta cerca de 25 a 33% dos portadores.
“A aura é, na grande maioria dos casos, de natureza visual”, comenta o especialista. “Há ainda formas que envolvem o aparelho vestibular e o ouvido: a enxaqueca vestibular é um subtipo frequentemente subdiagnosticado, e ataques vestibulares podem ocorrer com ou sem dor de cabeça. Estudos e revisões apontam que uma fração relevante (em torno de 20 a 30% em algumas séries) dos episódios vestibulares na enxaqueca não é acompanhada de cefaleia. Além disso, sintomas cocleares como zumbido, sensação de pressão auricular e hipersensibilidade sonora (fonofobia/hiperacusia) são relatados com frequência.”
O especialista detalha que, na aura visual, os pacientes enxergam flashes de luz, linhas em ziguezague que crescem no campo visual, manchas escuras (escotomas) e distorções no tamanho ou na forma dos objetos (metamorfopsias). “Essas alterações costumam evoluir em minutos e durar normalmente até uma hora.”
Distúrbios auditivos e vestibulares podem se manifestar como sensibilidade extrema a ruídos (fonofobia), percepção de sons mais altos ou distorcidos (hiperacusia), zumbido, sensação de ouvido tampado ou pressão. “Na enxaqueca vestibular, o paciente descreve vertigem intensa, instabilidade ou sensação de deslocamento espacial, por períodos que variam de segundos a dias”, acrescenta Tiago de Paula.
Por que tantos ficam sem diagnóstico?
Muitas pessoas e até profissionais ainda associam “enxaqueca” exclusivamente à dor de cabeça. “Quando a manifestação inicial é visual ou auditiva, ou quando a aura surge sem dor, o quadro é frequentemente encaminhado para oftalmologia, otorrino ou investigado como possível acidente vascular cerebral, epilepsia ou transtorno psiquiátrico. Estudos de revisão e guias clínicos salientam que a apresentação atípica e a variabilidade (duração, lateralização, sintomas associados) são a principal razão para atrasos diagnósticos e tratamentos inapropriados. Estima-se que cerca de 5% dos pacientes com enxaqueca apresentem aura típica sem cefaleia (acefálgicos), o que aumenta o risco de erro diagnóstico”, destaca o especialista.
Impacto na vida: além do sintoma agudo
Pacientes com distúrbios sensoriais de enxaqueca relatam incapacidade temporária para dirigir, trabalhar, ler ou ouvir — atividades básicas que comprometem produtividade e qualidade de vida. “Além disso, a imprevisibilidade das crises e a incompreensão social (muitos não reconhecem a aura como doença neurológica) geram angústia, evasão de atividades sociais e impacto psicológico. A sobreposição com transtornos de ansiedade e disfunções vestibulares crônicas pode complicar ainda mais o quadro”, destaca o especialista.
Quando suspeitar de enxaqueca?
O especialista recomenda considerar a hipótese de enxaqueca quando houver:
- Episódios recorrentes de alterações visuais (flashes, escotomas, formas em ziguezague) com padrão semelhante entre si;
- Sintomas que se desenvolvem gradualmente ao longo de minutos e se resolvem em até uma hora (no caso de aura);
- Coexistência de fotofobia, náusea, fonofobia ou antecedente familiar de enxaqueca;
- Crises vestibulares associadas a sintomas migranosos (foto/fonofobia, náusea) mesmo quando não há dor de cabeça.
Sobre a abordagem clínica e terapêutica, Tiago de Paula explica que é necessária uma avaliação detalhada, incluindo história clínica (descrição dos episódios, duração, fatores desencadeantes, histórico familiar), exame neurológico e, quando indicado, exames para excluir causas estruturais, especialmente em padrões atípicos ou com déficits persistentes.
“Diagnosticada a enxaqueca, o mais importante é tratar a doença, que é crônica. É necessário tratar a doença com um especialista e fazer a pessoa viver como se a doença não existisse. Dessa forma, o cérebro fica mais saudável, evitando crises com sintomas auditivos e visuais”, finaliza o especialista Tiago de Paula.