Não são só os sistemas de saúde e de transportes que devem estar preparados para uma situação de guerra, de acordo com o novo protocolo “Operação Alemanha”, elaborado pelo tenente-general André Bodemann, que nas suas mais de 1.000 páginas detalhou como reorganizar as capacidades militares e civis em caso de um possível conflito de grande escala.
Embora as famílias alemãs recebam instruções há mais de dois anos sobre as necessidades básicas que devem ter em casa, incluindo alimentos não perecíveis e água potável para pelo menos duas semanas de consumo, relatou o jornal espanhol ‘ABC’, o Governo alemão pode encontrar-se numa situação em que necessite de fornecer alimentos, e o Ministério da Agricultura é responsável por garantir este cenário.
Mais concretamente, é o Departamento Federal de Agricultura e Alimentação (BLE) o responsável por garantir estes stocks, que em termos técnicos são designados por “reserva de emergência civil”. O ministro da Agricultura, Alois Rainer, indicou um plano urgente para a criação de um enorme depósito de alimentos preparados, porque “o que agora temos de armazenar deve primeiro ser preparado”.
“Não basta pensar em armas. Estamos atualmente numa situação de política de segurança que nos faz refletir, e a segurança alimentar também desempenha um papel importante”, explicou o ministro. “Não é brincadeira; estamos tão habituados a ir ao supermercado com tanta facilidade que não nos apercebemos de que não poderíamos viver sem comida e bebida.”
Desde meados da década de 1960 que o Governo federal mantém stocks de emergência para o caso de uma crise: centenas de milhares de toneladas de grãos, ervilhas, lentilhas, arroz e leite condensado estão armazenados em armazéns por todo o país.
No entanto, estas reservas apenas ajudariam a ultrapassar os problemas de curto prazo em caso de conflito militar, desastre natural ou acidente técnico de grande escala. “Quero expandir isto para uma reserva nacional com produtos prontos” que possam ser “consumidos imediatamente, simplesmente aquecendo-os. Estou a pensar em ravioli ou lentilhas enlatadas… Em todo o caso, coisas já cozinhadas”, referiu o ministro.
Rainer estimou “entre 80 e 90 milhões de euros” para o projeto e gostaria de envolver mais o setor privado na sua implementação. “A minha abordagem seria envolver o setor privado, as grandes cadeias alimentares. Têm as cadeias de abastecimento, têm capacidade de armazenamento”, apontou: o objetivo é conseguir fornecer à população pelo menos uma refeição quente por dia durante várias semanas, graças ao abastecimento em mais de 150 armazéns, cujas localizações não serão divulgadas.
O Serviço Nacional de Saúde Alemão (THW) está a planear rotas de transporte seguras para, eventualmente, levar os alimentos armazenados para abrigos. Dos 2.000 bunkers da época da Guerra Fria, restam apenas 579, com espaço para apenas 478 mil pessoas — 0,5% da população de 83,5 milhões da Alemanha. Esta rede de abrigos está a ser expandida com a readaptação de estações de metro, caves e parques de estacionamento subterrâneos, além da criação de um diretório digital de abrigos e da organização da distribuição aos cidadãos através de uma aplicação.
Todos estes abrigos devem poder receber mantimentos alimentares, que serão provavelmente geridos por reservistas do exército.