Como parte da Estratégia Nacional de Enfrentamento das Arboviroses no Brasil, o Ministério da Saúde (MS), por meio da Fiocruz, inaugurou, nesta terça-feira (9/9), a biofábrica de Wolbachia em Brasília, no Distrito Federal (DF). Também foi iniciada a implementação do Método Wolbachia na cidade e nos municípios de Luziânia e Valparaíso, no Estado de Goiás. As liberações dos mosquitos serão realizadas por 26 semanas, beneficiando mais de 758 mil habitantes. A iniciativa conta com a participação das secretarias de saúde locais. 

O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, participou do lançamento da biofábrica, acompanhado pela secretária de vigilância em Saúde e Ambiente, Mariângela Simão. Vice-presidente de Produção e Inovação em Saúde (VPPIS/Fiocruz), Priscila Ferraz também esteve presente na ocasião. “Uma das ações para a redução da dengue é, justamente, o uso de novas tecnologias. Aqui no DF e em Goiás, a biofábrica vai impactar mais de 758 mil pessoas. Só estamos fazendo isso porque o Brasil assumiu o desafio de ser o Brasil com ‘S’ de SUS, de Saúde e de Soberania. Nós vamos ensinar o mundo como combater a dengue”, afirmou Padilha. O ministro reforçou ainda que o próximo passo do Ministério da Saúde no combate à dengue também envolve tecnologia: “o Brasil está desenvolvendo, em parceria com o Instituto Butantan, uma vacina 100% nacional para enfrentar a dengue”.

Ministro da Saúde Alexandre Padilha inaugurando a fábrica em Brasília

MS e Fiocruz inauguram biofábrica de Wolbachia em Brasília, no Distrito Federal (foto: Divulgação)

O ministro antecipou que a pasta vai pactuar um Dia D nacional de mobilização contra a dengue ainda neste semestre, com o objetivo de chamar a atenção da sociedade, especialmente nas escolas. A iniciativa também prevê o monitoramento dos dados entomológicos, da situação do mosquito e a consolidação das informações epidemiológicas disponíveis. “O objetivo é que entremos no próximo ano com o time já organizado, bem treinado, sabendo onde e como atuar, para que, mais uma vez, possamos alcançar uma vitória contra a dengue”, afirmou Padilha.

“Em 2024, o DF foi uma das Unidades Federativas com maior número de casos e óbitos por dengue no país. A chegada do Método Wolbachia na localidade e em seu entorno representa um avanço significativo nas ações do [Sistema Único de Saúde] SUS e no combate às arboviroses nesta região, sendo uma estratégica complementar do MS e da Fiocruz às atividades já desenvolvidas pelos governos locais nos municípios”, afirma a vice-presidente de Produção e Inovação em Saúde (VPPIS/Fiocruz), Priscila Ferraz. “Esta é uma tecnologia comprovadamente eficaz, da qual a Fiocruz participa desde o início de sua implantação no Brasil. Estamos oferecendo soluções para dar escala e sustentabilidade ao projeto, com ações como a inauguração recente da maior biofábrica do mundo, em Curitiba, que poderá produzir mais de 100 milhões de mosquitos por ano”.

Ação no DF e em Goiás

A pasta investiu R$ 9,7 milhões na ação que beneficiará três municípios, que enfrentaram alta transmissão de dengue nos últimos anos: em Brasília, 563 mil pessoas; Valparaíso (GO), 87,8 mil; e em Luziânia, 107,3 mil habitantes de áreas de transmissão de arboviroses. Os números mais recentes mostram que, no Brasil, houve uma queda de 75% nos casos entre 2024 e 2025. No Distrito Federal, essa redução chegou a 96% e, no estado de Goiás, a 71%.

Os mosquitos liberados no DF, Valparaíso de Goiás e Luziânia são produzidos na biofábrica inaugurada em julho de 2025, em Curitiba (PR), que tem capacidade para produzir 100 milhões de ovos por semana. A escolha dos municípios prioritários é feita pelo Ministério da Saúde com base em indicadores epidemiológicos, ou seja, na ocorrência, em padrões elevados, de casos de arboviroses nos últimos anos. 

Com a ampliação do método, o MS complementa as estratégias de enfrentamento às arboviroses urbanas, com base em evidências científicas. O método é recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e passou a fazer parte das políticas públicas de saúde do Brasil, com autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). 

Para que o método seja ainda mais eficaz, a população deve manter os cuidados tradicionais contra o Aedes aegypti como não deixar acumular água parada, apoiada pelas atividades dos Agentes de Combate às Endemias.

Nas três localidades, o governo do Estado e as prefeituras são parceiros na implantação do método, fornecendo agentes de saúde, além dos insumos necessários para operacionalização da produção e do trabalho de campo. A Wolbito do Brasil atua com o desenvolvimento das atividades relacionadas à metodologia, incluindo a produção, em larga escala, dos ovos dos mosquitos. 

“Os três locais dão um passo importante no enfrentamento da dengue, com uma solução que é natural, segura e autossustentável. A parceria entre as diversas instituições responsáveis pela iniciativa reforça o compromisso com a saúde pública e com o uso de tecnologias baseadas em evidências”, afirma CEO da Wolbito do Brasil, Luciano Moreira.

Método Wolbachia

O método utiliza mosquitos Aedes aegypti que carregam a Wolbachia, uma bactéria naturalmente presente em mais da metade dos insetos da natureza. Os mosquitos com Wolbachia passam a se reproduzirem com os mosquitos locais, transmitindo a bactéria para seus filhotes. O processo ocorre de forma contínua, não sendo necessária nova liberação de insetos. Por isso, o método é considerado autossustentável. Com o tempo, a maioria dos mosquitos da região passa a ter Wolbachia, reduzindo significativamente a transmissão dos vírus da dengue, zika e chikungunya e protegendo a população de forma ininterrupta. Uma pesquisa prévia às liberações indicou que a grande maioria das pessoas aprova a implantação da tecnologia, demonstrando confiança na ciência e disposição em colaborar com a iniciativa.

A tecnologia do Método Wolbachia é respaldada por estudos científicos nacionais e internacionais, e já foi implementada com sucesso em diversas cidades do Brasil e do mundo, sempre com reduções expressivas nos casos de arboviroses. Em Niterói, no Rio de Janeiro, por exemplo, os mais recentes dados preliminares apontam redução de 88,8% nos casos de dengue. 

O método é uma ação complementar a outras de enfrentamento a arboviroses. A população continua tendo papel fundamental no processo, mantendo os cuidados tradicionais contra o Aedes aegypti e colaborando com os agentes da iniciativa.

Wolbito do Brasil

A Wolbito do Brasil é a maior biofábrica de Wolbitos (Aedes aegypti com Wolbachia) do mundo e tem como missão ajudar a proteger a população de doenças como dengue, zika e chikungunya. Atua com o Método Wolbachia, presente em diversos países, iniciado no Brasil pelo World Mosquito Program (WMP) em 2014. A empresa é um desdobramento estratégico do WMP, em parceria com o Instituto de Biologia Molecular do Paraná (IBMP), para consolidar e expandir a implementação do Método Wolbachia no país, garantindo sua sustentabilidade e impacto em larga escala.