Apesar dos avanços significativos da ciência nas últimas décadas, há uma projeção preocupante referente ao câncer em um cenário global. No evento MSD em Pauta, promovido pela empresa farmacêutica na manhã desta terça-feira (9), em Porto Alegre, a diretora médica da multinacional no Brasil, Márcia Abadi, conta que está previsto um aumento de 56% no número de casos de 2020 para 2040, passando de 19,3 milhões para 30,2 milhões de registros.
Segundo a doutora, a principal razão para o índice está na longevidade das pessoas, que aumentou exponencialmente neste século. Com outras doenças se tornando menos fatais por conta dos tratamentos mais eficazes, aumentam os casos de câncer e novas mutações genéticas. “Existem também os hábitos da vida moderna que acabam nos expondo a carcinógenos, substâncias que levam ao aumento da doença”, completa.
No Brasil, são 704 mil novos casos entre 2023 e 2025. “É bastante”, cita Márcia. O câncer de mama é a principal incidência na mulher e o de próstata no homem, além do câncer colorretal e o de pulmão, explica. Ademais, cerca de 70% da incidência está nas regiões Sul e Sudeste. Ela entende que os principais fatores são a demografia e uma grande quantidade de pessoas que vêm de outros estados para serem tratadas. No Sul, os dados apontam 11 mil casos por ano de câncer de mama; 8.600 de próstata; 8.100 de colorretal; 8.000 de pulmão.
A nível global, o câncer mais letal é o de pulmão, diretamente ligado ao tabagismo que, em solo brasileiro, causa 25% das mortes pela doença, e acende um alerta na área da saúde. Após 30 anos de quedas subsequentes no consumo de tabaco, 2024 registrou um aumento de 9,3% para 11,3% da população que faz o uso da substância. O índice é similar ao registro de 2012 e representa mais de uma década de retrocesso, informa a pneumologista na Santa Casa de Porto Alegre Manuela Cavalcanti.
Para combater este e os demais cânceres, a aposta está no diagnóstico precoce, que aumenta significativamente a chance de cura, enfatiza Márcia, elaborando sobre a importância do rastreio, que é “quando fazemos exames para conseguir um diagnóstico muito antes de surgirem sintomas e sinais. Quanto mais cedo, maior é a chance de cura. Caso contrário, vamos nos ater apenas à reabilitação e, infelizmente, aos cuidados paliativos”, detalha.
A especialista exemplifica o impacto do reconhecimento tardio ao relatar que entre 75% e 85% dos pacientes de câncer de pulmão são diagnosticados em estágios avançados, o que explica a taxa de mortalidade elevada. E, por outro lado, cita que a sobrevida de cinco anos quando a paciente com câncer de mama é descoberta no primeiro estágio tem cerca de 99% de chance.
Ainda sobre rastreamento, Manuela explica que, nos casos oriundos do tabagismo, que além do pulmão, também afeta o esôfago e o rim, por exemplo, a metodologia para identificar pacientes antes dos sintomas estabelece características para monitoramento. “Pegamos quem tem entre 50 e 80 anos. Precisam ser pacientes que fumam ou que pararam de fumar a menos de 15 anos. E precisam ter uma carga tabágica alta”, aprofunda a pneumologista. A conta para definir o nível de exposição à substância é o equivalente a uma carteira de cigarro por dia durante 20 anos. O método foi estabelecido em 2023 pelas sociedades brasileiras de cirurgia torácica, pneumologia e radiologia.
Já a cirurgiã torácica da Santa Casa, Fabíola Perin exalta a importância de inserir diversas áreas da medicina no debate sobre o tratamento do câncer de pulmão. Ela fala sobre a criação, neste ano, de uma frente parlamentar de promoção da saúde pulmonar, além da Aliança Brasileira de Combate ao Câncer de Pulmão, que surgiu em 2023.
A organização promove congressos sobre o assunto e, no momento, há um projeto de lei tramitando para a implementação do rastreamento do câncer de pulmão no SUS. “Criamos muitos vínculos e estamos conseguindo muitos avanços e projetos para que de fato possamos implementar não só o diagnóstico precoce, mas uma linha de cuidado”, completa Fabíola.