Os candidatos presidenciais António José Seguro e António Filipe criticaram nesta segunda-feira as cedências da União Europeia na negociação de um anunciado acordo comercial com os Estados Unidos, enquanto Luís Marques Mendes aconselhou o Governo de Luís Montenegro a sentar-se à mesa com os parceiros sociais, nomeadamente as empresas, para discutir medidas de apoio à economia portuguesa.
Seguro considerou que a “Europa não pode estar continuamente a ceder”, referindo-se a um acordo que disse ter evitado “um furacão”, mas não “uma tempestade” com consequências negativas e um impacto ainda por avaliar. “Um acordo introduz previsibilidade, mas tem um preço e aquilo que me parece é que o preço é demasiado elevado e com consequências que ainda não estão totalmente avaliadas. Agora, o Governo tem que agir no seio da União Europeia para que tenha uma política de competitividade que proteja as indústrias europeias e a indústria nacional”, defendeu o socialista em declarações aos jornalistas.
Referindo-se especificamente ao caso português, Seguro lembrou que “há sectores que vão ser altamente prejudicados com esse aumento de tarifas e temos de perguntar à União Europeia quais são os apoios que vão dar a estas indústrias para que elas não percam competitividade, para que elas ganhem competitividade”.
O socialista defendeu ainda que é preciso “olhar para os pormenores e não apenas para esta encenação que foi feita”, destacando que este acordo foi feito “num espaço de férias do Presidente dos Estados Unidos”.
“Se nós olharmos para estes dois momentos, que foi a última cimeira da NATO, em que se aumentou para 5% [o investimento] na defesa, e este acordo, parece que Trump dita as suas regras, e que começa sempre por exigir muito para depois chegar ao valor que ele quer, e que a Europa está continuamente a ceder”, lamentou.
Para o candidato presidencial, “a Europa não pode estar continuamente a ceder”. Considerando que é preciso perceber em detalhe este acordo, Seguro afirmou que “a primeira é uma consequência negativa” uma vez que “a competitividade das empresas europeias, onde se incluem as portuguesas, vai diminuir porque os seus produtos vão chegar mais caros à América”.
Seguro questionou ainda as anunciadas contrapartidas na área da defesa, tendo a União Europeia afirmado que vai adquirir armamento aos Estados Unidos no âmbito do acordo comercial. “Qual é esse armamento que vai ser comprado? Qual é a margem que fica para que possa haver investimento europeu em capacidades autónomas estratégicas, designadamente com tecnologias na área da defesa para nós podermos investir? Nós não podemos trocar armas dos Estados Unidos por empregos europeus ou por empregos portugueses”, disse.
‘Cedência em toda a linha’ a Trump
António Filipe, candidato presidencial apoiado pelo PCP, criticou a “cedência, em toda a linha, da União Europeia àquilo que são as imposições vindas dos Estados Unidos, vindas da administração Trump”.
“Este suposto acordo corresponde àquilo que são as imposições do poder dominante político e económico dos Estados Unidos com graves prejuízos para a economia dos países da União Europeia”, acrescentou.
Questionado sobre o papel do executivo português na resposta a este acordo, António Filipe defendeu que o Governo “tem a obrigação de se manifestar” a nível europeu sobre as “consequências negativas deste acordo para a economia portuguesa” e deve “procurar diversificar as relações económicas” para que o país não dependa da relação com os Estado Unidos e a União Europeia.
Mendes pede ‘respostas excepcionais’
Luís Marques Mendes, candidato apoiado pelo PSD, aconselhou o Governo a sentar-se à mesa com os parceiros sociais para encontrar maneira de apoiar as empresas portuguesas depois do “acordo possível” entre os Estados Unidos e União Europeia. “O acordo é bom? Não, não é bom. Havia alternativa melhor? Não havia. Então, este é o acordo possível? É o acordo possível, não sendo bom e trazendo problemas”, disse aos jornalistas Marques Mendes à margem de uma acção de campanha em Lisboa.
“Eu acho que é chegado o momento de o Governo se sentar à mesa, com os parceiros sociais, em especial as empresas, e em conjunto encontrarem formas de apoiar as empresas portuguesas para que elas diversifiquem os destinos das suas exportações”, sugeriu. O objectivo, segundo Marques Mendes, é que as empresas portuguesas “encontrem outros países, em alternativa, para poderem vender os seus produtos”.
“Porque vai ser mais difícil vender para os Estados Unidos, então é preciso encontrar, na Europa e fora da Europa, outros países para exportar e isto tem que ser feito num esforço conjugado, entre as empresas, os vários parceiros sociais, e também com o apoio e incentivo do Governo”, apelou.
Na perspectiva de Marques Mendes, “é para momentos excepcionais que tem que haver respostas excepcionais”.