Susana de Sousa Dias, uma das figuras mais importantes e singulares do cinema documental português, incansável exploradora da memória visual dos anos do Estado Novo, será a convidada de honra da edição 2025 do IDFA – Festival Internacional de Documentário de Amesterdão, a decorrer de 13 a 23 de Novembro próximo.
Fundado em 1988 na capital neerlandesa como “uma plataforma para vozes que habitualmente não ouvimos”, com uma forte aposta na dimensão sociopolítica, interventiva e activista do cinema documental, o festival homenageia este ano a realizadora portuguesa com uma retrospectiva da sua obra que incluirá a estreia mundial de dois novos filmes, Fordlandia Panacea e Pós Processo-Crime, bem como uma carta-branca com obras de Sarah Maldoror, António Reis e Margarida Cordeiro ou Harun Farocki.
Segundo o festival, Susana de Sousa Dias “leva-nos a questionar como as histórias políticas são contadas através do cinema e como abordamos a narração do passado. Em vez de usar imagens de arquivo como mera ilustração, ela reestrutura essas imagens de poder para revelar histórias apagadas de violência e resistência à autoridade”.
As suas longas-metragens Natureza Morta (2004), ’48’ (2009, vencedor do festival parisiense Cinéma du Réel em 2010), Luz Obscura (2017) e Viagem ao Sol (2021, que estreou na competição do IDFA nesse ano) serão exibidas a par das médias-metragens Processo-Crime 141/53 – Enfermeiras no Estado Novo (2000) e Fordlandia Malaise (2019).
Este último foi o primeiro título dedicado pela realizadora ao projecto urbano falhado que o industrial Henry Ford fundou em 1928 na Amazónia para produzir borracha para os seus automóveis e que foi abandonado em 1945 sem nunca ter atingido o seu objectivo.
A essa média-metragem estreada no festival de Berlim sucede-se agora a longa Fordlandia Panacea, sobre “os espíritos que ainda assombram o local: daqueles que construíram a cidade e morreram ao fazê-lo; e daqueles que em tempos lá viveram mas já não são recordados”. Também em estreia mundial estará Pós Processo-Crime, uma média-metragem gémea de Processo-Crime 141/53.
O top-10 escolhido pela realizadora é descrito como “uma exploração da memória colectiva e da reescrita das narrativas políticas pelos cineastas”. O programa incluirá uma série de filmes-ensaio que partilham com a obra de Susana de Sousa Dias o trabalho sobre os arquivos preexistentes, mas também o seu olhar lateral e crítico sobre as narrativas convencionadas pela história. É o caso de Dal Polo all’Equatore (1986), de Yervant Gianikian e Angela Ricci Lucchi, Images of the World and the Inscription of War (1989), de Harun Farocki, R 21 AKA Restoring Solidarity (2022), de Mohanad Yaqubi, e Río Turbio (2020), de Tatiana Mazú González. Juntam-se-lhes a curta de Sarah Maldoror Monangambééé (1968), o filme colectivo sobre o 25 de Abril As Armas e o Povo (1975), e Rosa de Areia (1989), de António Reis e Margarida Cordeiro.