Pelo menos 295 pessoas foram detidas em vários confrontos com a polícia francesa depois de o movimento ativista “Vamos Bloquear Tudo” ter convocado para esta quarta-feira manifestações para contestar os cortes orçamentais. O grupo prometeu paralisar os serviços e transportes e a circulação de comboios têm tido perturbações nesta manhã. A onda de protestos coincide com a crise política que se vive em França, depois de o Governo de François Bayrou ter caído na sequência do chumbo da moção de confiança e da nomeação de Sébastien Lecornu como primeiro-ministro.
Emmanuel Macron nomeia Sébastien Lecornu como novo primeiro-ministro
De acordo com o Le Monde, o Governo destacou 80 mil agentes para as ruas em todo o país (seis mil só em Paris) para assegurar que os protestos decorrem em conformidade. No entanto, logo nas primeiras horas da manhã, registaram-se confrontos na capital francesa entre manifestantes e polícia, com caixotes do lixo incendiados em várias ruas. Por volta das 9h30 (8h30 em Lisboa), o Ministério do Interior (equivalente ao Ministério da Administração Interna português) já tinha registado cerca de 200 detenções e às 13h (12h, em Portugal continental) o número de detidos chegou aos 295 — dos quais 171 foram em Paris.
Ao início da manhã cerca de uma centena de jovens bloqueou um estrada no 18.º arrondissement de Paris e obrigou a polícia a intervir com gás lacrimogéneo. Na Porte de Bagnolet, por volta das 6h30 (5h30, em Lisboa), várias pessoas foram detidas após tentarem interromper a circulação, enquanto às 7h30 (6h30, em Lisboa) estava em curso um bloqueio na Porte de Montreuil — que foi acompanhado por uma intervenção de cerca de 30 motas de repressão da ação violenta motorizada.
???????? Radical far-left extremists launch major riots across France. pic.twitter.com/7ocG4R2pLB
— Visegrád 24 (@visegrad24) September 10, 2025
Durante a tarde, os manifestantes incendiaram um edifício numa rua de comércio e restaurantes na zona de Châtelet, em Paris. Várias pedras foram arremessadas contra a polícia de intervenção que está no local.
Alors que les manifestations se poursuivent en France en ce mercredi 10 juillet, les manifestants ont mis le feu à une brasserie et à un immeuble dans le centre de Paris, à Châtelet. pic.twitter.com/xx5kLWinZ3
— GENGIS KHAN ???????? ???????? ???? (@GENGIS9999) September 10, 2025
Em Toulouse, já foram registados vários protestos junto a escolas e universidades. Cerca de 400 pessoas juntaram-se em frente à Câmara Municipal. Até às 10h00 (9h00 em Lisboa), foram detidas 26 pessoas e estão previstos mais protestos no bairro Jean-Jaurès.
Em Marselha, a manifestação, em direção à estação Saint-Charles, recuou perante vários cordões de polícias. Foram lançadas algumas granadas de gás lacrimogéneo e as autoridades também retiraram caixotes do lixo que tinham sido colocados nos carris do elétrico pelos manifestantes.
Registaram-se, também, vários bloqueios nas estradas e ruas de Lille, para onde está programada uma manifestação para o início da tarde desta quarta-feira.
O movimento Bloquons Tout, sem liderança formal e mobilizado através das redes sociais, ganhou força durante o verão e apresenta reivindicações diversificadas. Entre os alvos estão os planos de austeridade defendidos por Bayrou antes da sua queda, mas também críticas às desigualdades sociais e à liderança do Presidente Emmanuel Macron.
De acordo com o Ministério do Interior, citado pelo Le Monde, a adesão aos protestos deverá ser “moderada”, com uma estimativa de até 100 mil pessoas nas ruas. As ações incluem, para além da paralisação dos transportes públicos, a abertura das portagens, o bloqueio de estradas, refinarias e depósitos de petróleo.
No setor dos transportes, o impacto pode variar consoante as regiões de França. Em Paris, o tráfego de metro, RER e autocarros é descrito como “quase normal”, exceto um incidente técnico na linha 5 e perturbações na linha B do RER, onde circulam apenas dois terços dos comboios previstos.
Nos aeroportos de Paris-Orly, Roissy e Le Bourget, a ADP (empresa responsável pelas operações aeroportuárias) reportou “nada a assinalar”, embora admita que poderá, ao longo do dia, existir perturbações nos acessos rodoviários e ferroviários. Já a Direção-Geral da Aviação Civil prevê atrasos e perturbações em todos os aeroportos franceses ao longo do dia.
O secretário de Segurança Pública de Paris, Laurent Nuñez, alertou em declarações à BFMTV para a possibilidade de “ações bastante duras”, incluindo bloqueios no anel viário da capital e acessos a aeroportos, bem como “atos de sabotagem” nos transportes públicos. Segundo Nuñez, as forças de segurança estão preparadas para responder também durante a noite.
Por seu turno, a secretária-geral da CGT, Sophie Binet, acusou o Governo de tentar descredibilizar a mobilização. Em entrevista à France 3, afirmou que o executivo procurará “espalhar o medo” e retratar os manifestantes como violentos, numa estratégia que, segundo a dirigente sindical, visa tornar o movimento “impopular”.