O Anfiteatro João Carriço recebe, nesta quarta-feira, 10 de setembro, às 18h30, o evento de lançamento do livro “Ações de liberdade em Juiz de Fora: protagonismos, autonomias e insurgências”, obra que revela estratégias jurídicas adotadas por pessoas negras escravizadas para reivindicar a própria liberdade décadas antes da assinatura da Lei Áurea. 

Fruto de uma pesquisa inédita, a obra reúne histórias de luta e afirmação de direitos de pessoas negras na região. Os registros analisados trazem à tona vozes que, mesmo sob um regime escravista, atuaram juridicamente para garantir suas existências com dignidade.

O livro é assinado por três pesquisadores com vínculos acadêmicos com a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF): Vanessa Ferreira Lopes, servidora técnico-administrativa em Educação (TAE) da Diretoria de Ações Afirmativas (Diaaf), com graduação e mestrado em História pela UFJF; Luan Pedretti, graduado em História e doutorando em Educação pela UFJF; e Giovana Castro, doutora em História pela UFJF, com tese indicada ao Prêmio Capes em 2025.

Giovana Castro, uma das autoras do livro, é doutora em História pela UFJF, com tese indicada ao Prêmio Capes em 2025, e coordena o Laboratório de História Oral e Imagem Afrikas, ao lado da professora Hebe Mattos (Foto: Arquivo pessoal)

Além da formação acadêmica, os autores compartilham uma atuação em coletivos negros e no ativismo local. Essa vivência conferiu à pesquisa uma abordagem mais sensível e engajada, que busca romper silenciamentos históricos e disputar a construção da memória coletiva da cidade.

Raízes do projeto
A proposta do livro nasceu das discussões desenvolvidas no projeto “Juiz de Fora: Cidade Negra”, iniciativa do Laboratório de História Oral e Imagem Afrikas (Labhoi/Afrikas), coordenado pela pesquisadora Giovana Castro e pela professora Hebe Mattos. Criado em 2018 no Departamento de História da UFJF, o projeto investiga as conexões da cidade com a diáspora africana e as histórias negras locais.

“É fundamental para nós apresentar a escravização pela voz dos sujeitos diretamente atingidos, atribuindo-lhes subjetividades e trajetórias para além da condição de vítimas passivas que a historiografia tradicional erroneamente cristalizou.“, afirma Vanessa. Para ela, é urgente revisitar o passado sob novas lentes, com ênfase nas estratégias legais de resistência usadas pela população negra.

Memória, reparação e enfrentamento do racismo
Para além da abordagem histórica, “Ações de liberdade em Juiz de Fora” propõe uma reflexão atualizada sobre o racismo e seus desdobramentos. Segundo Vanessa, o livro desafia leituras simplificadas e termos que esvaziam o debate racial, como o uso superficial da expressão “racismo estrutural”.

Vanessa Lopes, mestre em História e TAE da Diretoria de Ações Afirmativas, que também assina a obra, ressalta a urgência em revisitar o passado sob novas lentes, com ênfase nas estratégias legais de resistência usadas pela população negra (Foto: Arquivo pessoal)

“O livro busca, de maneira mais sofisticada e complexa, trabalhar uma memória sensível que persiste na revivência de um passado inconcluso, manifestando-se em diferentes formas de racismo, concretas e visíveis, presentes nas instituições, no imaginário social e em posturas nacionais.“, afirma. 

Para os autores, é necessário pautar a reparação histórica como ferramenta de democracia e contestação de privilégios herdados de um legado violento. A expectativa dos autores é que o livro sirva de referência para pesquisadores e educadores interessados em compreender a formação da sociedade brasileira e, especialmente, a história local de Juiz de Fora.

“Esperamos que a obra também seja um indicativo da urgência de se construir uma história pública da escravidão que supere reducionismos, abrindo espaço para a complexidade do tema e para a diversidade de experiências que atravessaram mais de três séculos na formação da identidade nacional.”

Outro autor é Luan Pedretti, graduado em História e doutorando em Educação pela UFJF, e com papel de destaque ações e mobilizações a partir de coletivos negros universitários (Foto: Arquivo pessoal)

Do coletivo à escrita: trajetória conjunta dos autores
Entre os três autores, Giovana Castro se destaca como uma das ativistas negras mais antigas da cidade, com uma trajetória marcada por atuação em diversas frentes políticas e sociais. Em 2018, essa experiência resultou em sua entrada no doutorado em História, onde desenvolveu uma pesquisa sobre a atuação de mulheres negras nos movimentos sociais locais, tese que foi indicada ao Prêmio Capes em 2025. Foi Giovana quem coorientou a dissertação de Vanessa Lopes, dedicada à formação do movimento negro contemporâneo em Juiz de Fora no período pós-ditadura, em diálogo com movimentos partidários, comunitários e religiosos. 

Vanessa relata que sua aproximação com esse campo se deu a partir de sua chegada à cidade, em 2016, vinda de Três Rios (RJ), quando passou a perceber a força e a complexidade do ativismo negro local. Nesse contexto, conheceu Luan Pedretti, então estudante de História, com quem passou a atuar em coletivos universitários. Em 2017, junto a outros estudantes negros da UFJF, fundaram o coletivo negro “Resistência Viva”, que mais tarde se somaria à articulação da “Frente Preta UFJF”, coalizão que promoveu diversos eventos e mobilizações importantes entre 2017 e 2020, como as edições da “Calourada Preta”, o “Quilombe-se” e as ações contra fraudes nas cotas raciais. 

Ainda que esses coletivos tenham sido desativados com o tempo, foi nesse processo de construção coletiva que os autores encontraram pontos de convergência entre militância, memória e produção acadêmica, assumindo a escrita da história como mais uma frente de atuação. Hoje, Vanessa atua como TAE na UFJF, integrando a Diaaf e colaborando com projetos voltados à diversidade, equidade e memória social.

Oficinas aprofundam o debate com a comunidade
Além do lançamento do e-livro, estão previstas duas oficinas didáticas no Instituto Casa Cirene Candanda, que propõem reflexões coletivas sobre liberdade, resistência e memória negra:

📌 Oficinas didáticas
🗓️ 18/09/2025, às 14h
🗓️ 24/09/2025, às 18h30
📍 Av. Barão do Rio Branco, 2288, sala 1606 – Centro, Juiz de Fora
🔗 Clique aqui para realizar a inscrição

Lançamento
📅 10 de setembro de 2025
⏰ 18h30
📍 Anfiteatro João Carriço – Av. Rio Branco, 2234 (Prédio da Funalfa), Centro – Juiz de Fora
📲 Acompanhe as atualizações em: @acoesdeliberdadejf