O presidente do Chega, André Ventura, que acusou o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, de se deslocar à Alemanha para ir a um “festival de hambúrgueres”, referindo-se à “Bürgerfest”, em Berlim — que é, na verdade, uma festa de cidadãos — admitiu tratar-se de um “lapso”. Ainda assim, diz que esse erro é uma consequência “de o Presidente da República, de facto, ter sido rei e mestre em viagens absolutamente desnecessárias” e defende que o chefe de Estado deve fazer “o mínimo de viagens possível”.
O erro de tradução levou a que o Chega, na Assembleia da República, fosse o único partido a votar contra a deslocação do chefe de Estado.
Questionado pelos jornalistas esta quinta-feira, André Ventura atribui o lapso, em primeiro lugar, a um “erro de escrita” nas folhas de votação do Parlamento, para de seguida desvalorizar esse pormenor. “Mas eu não vou por aí”, afirmou em declarações transmitidas pela RTP3, atirando de seguida a Marcelo Rebelo de Sousa.
“Este lapso deriva de uma situação: do facto de o Presidente da República, de facto, ter sido rei e mestre em viagens absolutamente desnecessárias à custa dos contribuintes”, justificou o presidente do Chega, falando em “mais de 1500 viagens”.
Por sua vez, o Presidente da República, já a partir da capital alemã, questionado pelos jornalistas sobre as afirmações do presidente do Chega, recusou, num primeiro momento, comentar as declarações de André Ventura, dizendo que quando está no estrangeiro, fala “das coisas boas de Portugal”.
Perante a insistência dos jornalistas, e face às “1500 viagens” referidas por Ventura, o chefe de Estado disse que “de facto, o Presidente da República faz hoje mais viagens do que se fez noutras ocasiões com outros presidentes, porque tem de fazer”, contrariando a argumentação de que são deslocações “desnecessárias”.
“Não, tenho de fazer. Porque correspondem, no fundo, a mais países do mundo com os quais temos relações. Temos mais relações diplomáticas hoje do que tínhamos, porque há uma situação internacional que obriga a essas reuniões. Há cada vez mais reuniões entre chefes de Estado diferentes. E há viagens, por exemplo, que nós vamos ter com deputados”, exemplificou Marcelo Rebelo de Sousa, em declarações transmitidas pelo mesmo canal.
“Dificuldades em acreditar”
As declarações de André Ventura surgiram num vídeo partilhado no Instagram e na rede social X, em que o presidente do Chega surge com um documento na mão dizendo que o próprio tinha “dificuldades em acreditar” no que dizia naquela folha.
“Vocês sabem que o Parlamento português aprovou hoje uma deslocação do Presidente da República — eu tenho que olhar para isto bem, eu tenho que ter a certeza disto — para ir com os nossos impostos e com o nosso dinheiro à Alemanha a um burgerfest? A um festival de hambúrgueres?”, questionou ironicamente Ventura. De seguida, afirmou que os seus seguidores “não se revoltam com isto porque não sabem”.
Entretanto, esta quinta-feira, as publicações foram eliminadas.
Numa nota da Embaixada de Portugal na Alemanha, publicada a 1 de Setembro, lê-se que “Portugal é o país convidado da Bürgerfest 2025 e apresenta-se, no dia 13 de Setembro, no ‘Dia de Portas Abertas no Palácio’ nos jardins do Palácio Bellevue, residência oficial do Presidente Federal alemão, com um amplo e variado programa.”
Também numa nota da Presidência é justificada a deslocação: “O Presidente Marcelo Rebelo de Sousa será recebido no Palácio Bellevue, onde haverá uma reunião de trabalho entre os dois Chefes de Estado, bem como estará presente no “Bürgerfest” – “Festa dos Cidadãos” – que se realiza anualmente nos jardins da residência oficial do Presidente Federal, para honrar o trabalho voluntário e promover o envolvimento cívico dos cidadãos.”