Europa arrisca perder soberania industrial no setor automóvel e 350 mil postos de trabalho até 2030, alerta estudo sobre competitividade.
© André Mendes / Razão Automóvel
A indústria automóvel europeia está em risco de perder mais de 350 mil empregos até 2030. É apenas uma das conclusões do estudo da Roland Berger, encomendado pela CLEPA — Associação Europeia de Fornecedores da Indústria Automóvel.
Os motivos já são conhecidos: custos estruturais elevados e falta de políticas industriais competitivas face à concorrência da China e EUA, mas os seus efeitos estão a agudizar-se.
© Horse Este motor elétrico é produzido em Cacia, unidade que agora pertence à Horse, a joint venture entre o Grupo Renault e a Geely.
A CLEPA pede medidas urgentes: reduzir custos estruturais e cortar burocracia; rever rapidamente as normas de CO₂ para garantir a neutralidade tecnológica; defender o recurso a componentes europeus em veículos made in Europa para proteger competências críticas de fabrico e desenvolvimento.
Um sentimento de urgência que já chegou às mais altas instâncias europeias. O novo programa europeu Small Affordable Cars Initiative, anunciado esta semana no Parlamento Europeu, por Ursula Von der Leyen, Presidente da Comissão Europeia, já considera algumas destas medidas:
Os números do problema
O novo estudo da consultora Roland Berger, apresentado em Bruxelas, conclui que os fornecedores europeus enfrentam uma desvantagem de custos entre 15% e 35% relativamente a concorrentes globais. As razões são variadas: energia mais cara, custos laborais elevados, regulamentação pesada e falta de enquadramento uniforme.
Segundo o relatório, 23% do valor acrescentado europeu poderá estar em risco até 2030. Traduzido em números, até 350 mil postos de trabalho poderão desaparecer, comprometendo não apenas o emprego, mas também a capacidade de inovação e a contribuição social da indústria.
A Europa está numa batalha decisiva pela sua soberania industrial. Os fornecedores querem investir e inovar, mas não podem fazê-lo num campo de jogo desigual.
Benjamin Krieger, secretário-geral da CLEPA
Com 75% dos componentes ainda produzidos em solo europeu, a indústria fornecedora do setor automóvel continua a ser um dos pilares da economia. Emprega 1,7 milhões de pessoas e investe 30 mil milhões de euros por ano em Investigação e Desenvolvimento. Mas a mensagem agora é clara: a Europa está a perder competitividade.
Enquanto China e EUA combinam apoios industriais com medidas de proteção, a União Europeia “está a ficar para trás”, defende a CLEPA. O estudo conclui com um aviso claro: ou a Europa toma medidas coordenadas já ou arrisca perder a espinha dorsal da sua indústria automóvel.