Estamos a pouco tempo dos últimos concertos na residência artística de Bad Bunny, em Porto Rico, que iniciaram em Julho deste ano. A comoção foi mundial. Bilhetes esgotados, fãs na caça aos voos e uma ilha inteira a respirar música, orgulho e cultura.
Ao contrário da tendência de tantos jovens que afirmam procurar o seu propósito “lá fora”, argumentando que o mundo é enorme e merece ser explorado, Benito Antonio conquistou milhões de pessoas pelo mundo inteiro, através do amor que sente por Porto Rico, pelas suas origens, o seu país natal.
O seu incrível sucesso mundial é, por si só, um caso de estudo. Para além do talento inegável, Bad Bunny tornou-se um fenómeno de marketing, um símbolo de resistência cultural e política e um motor económico para o seu país. Enche estádios globais, que o querem ouvir cantar e “perrear” sobre a sua cultura, a sua família e as tradições.
Afirmar de onde veio colocou-o no estrelado e foi precisamente isso que conquistou os nossos corações.
O que nos diz isto a nós, jovens portugueses?
Vivemos numa época em que a globalização e as redes sociais nos empurram continuadamente para “fora”. Isto é muito positivo, porque nunca foi tão fácil viajar, conhecer o mundo e enriquecer-nos com novas culturas. Essas experiências abrem horizontes e são fundamentais para o nosso crescimento. Contudo viajar e explorar destinos exóticos tornou-se quase obrigatório para ser considerado hype. Já assumir, sem vergonha, a valorização da nossa música e das nossas tradições pode soar antiquado, quase como se fosse falta de ambição.
Mas Benito recorda-nos que a autenticidade e o orgulho pelas nossas origens podem ter um impacto universal e muito positivo. Como canta no novo álbum Debí Tirar Más Fotos, na música intitulada La MuDANZA: “En el mundo entero ya conocen mi dialecto, mi jerga”.
O diacleto porto-riquenho, antes local, hoje é reconhecido globalmente. Pessoas deslocam-se à ilha para o ouvir cantar e para conhecer os lugares que ele frequentou.
Se olharmos bem, a cultura portuguesa não é assim tão diferente. Somos igualmente um povo ligado à família, com raízes fortes, que valoriza as pequenas (mas grandes) coisas da vida. Talvez a diferença seja que nem sempre acreditamos em nós. Não é por acaso que se diz “santo da casa não faz milagres”. É a nossa maneira de desvalorizar as conquistas, até que sejam legitimados lá fora.
É evidente que nem todos temos de ser estrelas globais. Mas a mensagem é clara: o mundo não se conquista apenas “lá fora”, conquista-se também quando levamos “cá dentro” connosco. Ou no caso de Benito, quando fazemos o mundo inteiro vir até nós. Quando exportamos não só produtos, mas também cultura e identidade.
Benito não se perdeu na ilusão de que a sua realidade era pequena demais. Fez exactamente o oposto, transformou-a em universal e até invejável. Talvez seja essa a maior lição que podemos retirar dele.