O presidente do PS, Carlos César, aproveitou a sessão de abertura da Convenção Autárquica Nacional do partido, em Coimbra, para atirar ao Governo de Luís Montenegro e alertar para o crescimento da extrema-direita, deixando um alerta: “A extrema-direita parece boa na oposição, mas não prestará para nada que sirva ao povo num Governo!”

Imediatamente antes, o socialista fazia uma comparação entre o partido de André Ventura e “um canivete suíço” que comprou “numa loja low-cost de bugigangas”: “Lá vistoso e barato era, mas quando se tratou de fazer obra com ele, desmanchou-se aos bocados! Parecia que servia, mas não serviu para nada.”

Logo no arranque da sua intervenção, Carlos César começou por destacar a importância de “um poder local forte e esclarecido”, principalmente numa altura em que, no seu entender, o país se confronta “com um poder central fraco e sem rumo e com a jogatana e os desmandos perigosos que nos chegam da extrema-direita”.

Sobre o manifesto que é, este sábado, subscrito pelos candidatos autárquicos do PS e que os compromete a afastar acordos de governação com o Chega, o presidente do PS argumenta que a intenção é a de exigir “um sentido ético na conduta e de humanismo na acção e não de cedência a meros apetites mediáticos de conjuntura”.

Ao mesmo tempo, define-se “uma atenção prioritária” na habitação e também na “requalificação, no ordenamento do território, nas tarefas da coesão, da mobilidade, do apoio à educação e à frequência escolar, da creche ao Ensino Superior, do envolvimento activo das pessoas, ou do aproveitamento da escala que resulta da cooperação intermunicipal”.


O presidente socialista analisou depois o país, considerando que “vive momentos de incerteza”: “Embora a conjugação de alguns factores, como o crescimento turístico, permita uma respiração à economia e ao emprego, a verdade é que o Governo em pouco contribui para o que de positivo acontece, ou se pretende que aconteça.”

Referiu-se aos incêndios para dizer que enquanto “os bombeiros se desdobravam em tarefas hercúleas em pouco mais” viu “os governantes e o primeiro-ministro do que na festança do Pontal e os vendilhões do Chega numa campanha farisaica, que só merecia umas chicotadas de outras eras no templo, em Jerusalém”.

Atirou também à ministra da Saúde, que perante “consecutivas interrupções e bloqueios nas urgências e com o agravamento dos piores indicadores no Serviço Nacional de Saúde (…) apareceu tarde e a más horas e, como sempre, para alijar responsabilidades, incluindo as do primeiro-ministro”.

Reforma laboral terá oposição do PS

Carlos César aproveitou ainda a oportunidade para criticar as alterações à lei laboral: “O Governo desencanta uma reforma laboral regressiva dos direitos e da segurança no emprego que promete perturbação, perda de direitos, precariedades, desconfianças entre empregados e empregadores e que terá — estou certo — a nossa mais firme, mas construtiva oposição.”

“Num país como o nosso, ainda tão marcado pela pobreza mesmo daqueles que têm emprego e pelas desigualdades territoriais e sociais, o Governo parece entender que a protecção social é uma tarefa acessória e protelável, cujo financiamento pode ser trocado com vantagem por uma corrida de Fórmula 1 ou por um qualquer dispêndio fútil que lhes pareça dar votos”, argumentou o presidente do PS, referindo-se ao anúncio feito por Luís Montenegro na Festa do Pontal.

A terminar, deixou um alerta sobre o contexto internacional. Referiu que “a desaceleração da actividade económica” pode atingir Portugal, falou na instabilidade política em França, e na “ameaça do expansionismo russo que existe, que é real, para o leste europeu como para Portugal, independentemente da obtenção da paz na Ucrânia, da derrota ou do melhor desfecho nesse cenário, e da necessidade de dar prioridade ao diálogo”.

Para César, “estamos perante o risco mais elevado desde as movimentações que antecederam a Segunda Guerra Mundial” e “o país, não podendo colocar-se à margem de uma nova arquitectura de defesa, terá de fazer um esforço financeiro suplementar na programação militar e de ter de fazer opções orçamentais relevantes, para além dos níveis que o próprio Ministério da Defesa revelou estar a projectar”.