O artista porto-riquenho explicou, em entrevista à revista britânica i-D, um dos principais motivos que o levaram a não incluir os Estados Unidos na sua digressão mundial. Após esgotar 30 concertos na sua residência em Porto Rico, Bad Bunny prepara-se para iniciar, no próximo mês de dezembro, uma série de espetáculos por todo o mundo, que inclui dois concertos em Portugal.
Benito Antonio Martínez Ocasio, mais conhecido como Bad Bunny, na antestreia de “Caught Stealing”, no Regal Union Square, na terça-feira, 26 de agosto de 2025, em Nova Iorque.
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Em janeiro deste ano, Bad Bunny revelou ao mundo DeBÍ TiRAR MáS FOToS, um projeto musical que soa como uma carta de amor à sua terra-natal, a ilha caribenha de Porto Rico. Juntamente com o álbum, anunciou uma digressão mundial que parece abranger todos os cantos do planeta… exceto os Estados Unidos. Ao longo do ano, muito se especulou sobre esta decisão, que o artista porto-riquenho veio agora esclarecer.
“Houve muitas razões para eu não ter ido aos EUA, e nenhuma delas foi por ódio… já fiz lá muitos concertos. Todos foram um sucesso e muito bons. Mas havia o problema de o pessoal do ICE poder estar à porta do meu concerto. Era algo de que estávamos a falar e que nos preocupava bastante.”
Desde que tomou posse como Presidente dos Estados Unidos, em janeiro deste ano, Donald Trump deu início àquilo que considera ser a “maior operação de combate à imigração da história” do país.
Uma relação marcada por tensões políticas
A relação que os Estados Unidos mantêm com Porto Rico também não parece ajudar, já que existe um histórico de tensões políticas, que Bad Bunny tem vindo a abordar de forma consistente, tanto na sua música como através das redes sociais.
Na altura, Bad Bunny reagiu através da sua conta na rede social Instagram, onde defendeu o povo porto-riquenho, elogiando a sua força e resiliência: “Para aqueles que se esquecem de quem somos, não se preocupem: nós vamos lembrar-vos”.
Mais tarde, partilhou um vídeo da campanha de Kamala Harris, no qual a então vice-Presidente criticava Donald Trump pela forma como lidou com os furacões que devastaram a ilha, referindo-se à resposta do Presidente, que chegou a questionar o número real de vítimas causadas pelas passagens dos furacões Maria e Irma, em 2017.
A barreira linguística (e não só) que divide os dois países
Porto Rico tornou-se território dos Estados Unidos após a Guerra Hispano-Americana em 1898. Em 1917, os porto-riquenhos receberam a cidadania americana, mas sem direito a votar nas eleições presidenciais, a menos que residissem no continente.
Em março deste ano, Donald Trump assinou uma ordem executiva que declarava o inglês como idioma oficial de Porto Rico, gerou preocupações quanto ao possível apagamento cultural da ilha.
A decisão foi vista como uma ameaça à identidade linguística e afetou diretamente a maioria da população porto-riquenha, cuja língua materna é o espanhol.