Um dos maiores clássicos da literatura mundial chega ao Brasil em uma versão inédita: o manuscrito original de Frankenstein, escrito por Mary Shelley entre 1816 e 1817, será publicado pela primeira vez livre das intervenções feitas por Percy Shelley, marido da autora. O projeto é coordenado e traduzido pelo pesquisador e editor L. F. Lunardello, natural de Currais Novos e radicado em Caicó, no Seridó potiguar.

“Esse livro é um clássico incontornável, mas há mais de 200 anos só lemos a versão editada pelo pai ou pelo marido da Mary. Se fosse um autor homem, esse material já estaria circulando há muito tempo. Mas, como era uma mulher, seus manuscritos ficaram parados em museus e bibliotecas. Agora, pela primeira vez, teremos um Frankenstein 100% da Mary Shelley”, explica Lunardello.

A edição resgata trechos originais que haviam sido suprimidos, revelando o caráter feminista da obra: a natureza concebida como força feminina, a vilania mais acentuada de Victor Frankenstein e até o desfecho da Criatura, que originalmente não morre. “É um trabalho sem precedentes, que reposiciona Shelley não apenas como pioneira da literatura gótica, mas como autora de uma crítica social e de gênero muito mais contundente”, afirma o editor.

Além do texto original de 1818, a publicação reunirá ainda anotações da própria Mary em exemplares posteriores, diários e cartas que provam que a inspiração para o romance antecede a célebre noite na Vila Diodati, a primeira adaptação teatral da obra (escrita por uma mulher em 1823 e que inspirou o filme de 1931) e artigos de especialistas internacionais, como Ann K. Mellor, uma das maiores estudiosas da autora.

A iniciativa é da editora independente Mão Esquerda, sediada em Caicó, dedicada a resgatar autoras esquecidas pela história literária, em parceria com a editora O Grifo, do Rio Grande do Sul, responsável pelo design e logística. O financiamento do projeto está sendo realizado por meio de campanha no Catarse.

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