Raramente paramos para pensar no som das nossas casas, mas este está sempre presente. Estamos habituados a pensar a arquitetura com os olhos – na forma, nos materiais, na luz. Mas e os sons que nos rodeiam? O eco de um corredor vazio, o som da chuva na janela, o murmúrio distante da cidade ou o ranger da madeira sob os pés – tudo isto influencia a forma como nos sentimos em casa.
A arquitetura foi sempre um campo dominado pela visão. No entanto, ao longo da história, os espaços foram projetados não só para serem vistos, mas também para serem ouvidos. Dos teatros gregos, desenhados para amplificar a voz, às catedrais góticas, onde o som reverbera por segundos, a acústica sempre teve um papel essencial. Mas e as nossas casas? Como soa o espaço onde vivemos?
A minha investigação de doutoramento explora o som como parte integrante do projeto arquitetónico. Procuro perceber de que forma a paisagem sonora do espaço doméstico – um conjunto de sons que fazem parte de determinando ambiente doméstico – pode contribuir para o conforto e o bem-estar dos habitantes. O silêncio absoluto pode ser desconfortável, mas o ruído também. Que sons tornam uma casa mais confortável? Como podemos criar ambientes sonoros que promovam o bem-estar? Como podemos projetar espaços que não se veem apenas, mas que também se sentem ao serem escutados?
A investigadora Marina Ramos Santos
DR
A forma como desenhamos um espaço, os materiais que escolhemos e até a disposição do mobiliário influenciam a forma como o som se propaga. Um corredor longo pode criar ecos indesejáveis, um teto alto pode intensificar ruídos, e um espaço mal isolado pode transformar cada passo do vizinho num incómodo constante.
Mas, a ideia não é apenas construir barreiras contra o som, mas pensar na casa como um filtro sonoro inteligente. Isto significa pensar quais são os sons que devem ser valorizados e aqueles que devem ser atenuados ou evitados. Podemos projetar espaços que favoreçam a entrada de sons naturais – como o som da água ou o do movimento das árvores – enquanto minimizamos aqueles que causam desconforto. Podemos usar materiais e soluções arquitetónicas que não absorvam ou bloqueiem apenas o som, mas que o ajustem, construindo ambientes mais harmoniosos. E, com o apoio da tecnologia, podemos controlar os sons que queremos dentro do nosso espaço em tempo real.
Escutamos menos do que deveríamos. Vivemos rodeados por ruídos urbanos, música, notificações e vozes, mas nem sempre prestamos atenção à forma como tudo isso nos afeta. A arquitetura pode (e deve) considerar não apenas o que vemos, mas também o que ouvimos. A minha investigação propõe um olhar – e uma escuta – mais atenta para criar espaços onde o som contribua para o bem-estar de quem os habita. Afinal, as nossas casas não são apenas aquilo que vemos, mas também aquilo que ouvimos.
A autora escreve segundo o novo acordo ortográfico