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Por Gabriel Gomes
No momento em que o Brasil vive a expectativa para a realização da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025 (COP30), em Belém, o livro “Nossos índios, nossos mortos”, do escritor, jornalista e documentarista Edilson Martins, ganha uma nova edição. A obra, publicada inicialmente em plena ditadura militar, denuncia a violência contra os povos indígenas e a devastação da Amazônia.
Publicado originalmente nos anos 1970, o livro reúne reportagens, entrevistas e artigos. A obra se tornou referência ao revelar e documentar de maneira inédita catequeses, massacres, frentes de expansão, estradas, mineração, “pacificação”, remoções e epidemias. “Este livro, cinquentão, reaparece remoçado, até porque nunca envelheceu. Continuou nas bibliotecas, sebos, estantes virtuais, escolas, no empréstimo aos amigos que nunca mais o devolviam. Era a queixa”, afirma o autor Edilson Martins.
Capa do livro. (Foto: Reprodução)
Na nova edição, o livro conta com uma crônica sobre Marina Silva, quando foi convidada por Lula, em 2002, a assumir o Ministério do Meio Ambiente. O volume mantém os textos originais de apresentação do escritor Antônio Callado, imortal da Academia Brasileira de Letras, e do sertanista Apoena Meirelles.
O livro será lançado na próxima quarta-feira (17), a partir das 18h, na Livraria daTravessa de Botafogo, na Zona Sul do Rio de Janeiro. Na primeira edição, a obra teve mais de 350 mil exemplares vendidos.
Livro reúne 44 fotografias
O livro é estruturado em 286 páginas e reúne 44 fotografias, em nove capítulos nos quais Edilson Martins apresenta uma radiografia contundente da realidade dos povos originários brasileiros. O escritor defende a plenitude existencial desses povos, com relatos sobre aspectos de suas organizações sociais, religiosas e culturais.
A obra aborda questões como cerimônias sóciorreligiosas, estética, casamento, educação, vida em comunidade, adultério, ciúme, erotismo e poligamia, chegando até mesmo ao fim de um curioso tipo de matriarcado. Estão também documentados os efeitos das missões católicas, os processos de substituição cultural, perseguições, invasões e remoções territoriais, além das consequências na saúde mental.
(Foto: Edilson Martins)
Entre os destaques, estão as vozes de líderes como Mário Juruna, Cacique dos Xavante, e do Cacique Umeru, da outrora imensa nação Bororo, hoje reduzidos a menos de 350 indivíduos. Umeru testemunhou o massacre na aldeia de Meruri e faleceu pouco depois. Edilson Martins também conta como foi a perigosa e comovente aproximação da expedição dos irmãos Villas Boas e os isolados e temidos guerreiros Krenakore.
(Foto: Edilson Martins)
COP 30
O lançamento da nova edição do livro ocorre às vésperas da realização da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025 (COP30), em Belém, em novembro deste ano. Segundo o autor, a
emergência ambiental expõe a mesma lógica de destruição desde a época da primeira edição da obra e, agora, é agravada pelo aquecimento global, o desmatamento, a mineração e a perda da biodiversidade.
“A COP 30 bate à porta, agora em novembro, na Amazônia, pela primeira vez. O mundo vai nos olhar mais ainda. Atual, inconveniente, fazendo a crônica de diferentes povos ameaçados de um extermínio histórico que só há pouco começou a ser contido, Nossos índios, nossos mortos retorna como leitura obrigatória. Dever de nacionalidade. Não se pode pensar o Brasil sem os povos originários, raiz primeira de nossa formação étnica e cultural. Este livro conta parte dessa história”, afirma Edilson Martins.