Não poucas vezes, em Praga, podemos deparar-nos com a seguinte situação: uma longa fila, estendendo-se por dezenas de metros, à entrada da Biblioteca Municipal. Mesmo nestes dias de canícula, sob uma temperatura superior a 30 graus, sem sombra nem abrigo, encontramos pessoas de diferentes nacionalidades e idades que aguardam pacientemente a sua vez. O motivo da espera não é um evento literário nem uma conferência académica, mas a oportunidade de ver a famosa “Torre de Livros” – uma instalação artística que, pelo seu impacto visual, se tornou viral em redes sociais como o Instagram e o TikTok.O que surpreende não é tanto a popularidade digital do objeto – tanto pela forma quanto pela dimensão, rapidamente depreendemos que se pode tornar famoso no mundo das redes sociais. É encantador, isso sim, o facto de tantas pessoas aceitarem o desconforto físico em nome de um encontro simbólico com a imagem do livro. Dá que pensar: em Praga, uma fila forma-se em torno de uma Biblioteca; em Portugal – e, certamente, também noutros países –, a Biblioteca e o livro são muitas vezes associados ao silêncio compulsório e à punição. Vem de longe o estigma de, quem se porta mal, ser convidado para o espaço solitário da Biblioteca, tido como secante e entediante. Por sua vez, em contextos familiares e escolares, a leitura é frequentemente apresentada como uma tarefa obrigatória – “só depois de leres x páginas é que podes fazer y” –,…

Este artigo está reservado para assinantes.

Poderá visualizar este artigo

por 0,99 €

ou assinar um Plano Básico

a partir de 4,99 €

Já é assinante? Inicie sessão