O que devia levar horas ou, no máximo, dias, pode levar meses atualmente. Estradas atuais prendem os tanques e algumas nem conseguem suportar o seu peso
Não é por acaso que a construção de uma terceira ponte sobre o Tejo pode vir a ser considerada uma despesa em Defesa. De acordo com o comissário europeu dos Transportes Sustentáveis e do Turismo, a União Europeia não tem as suas infraestruturas preparadas para um cenário de guerra.
Em declarações ao Financial Times, Apostolos Tzitzikostas confirmou que as estradas, pontes e ferrovias europeias não servem para grandes mobilizações de tanques, tropas ou outros mantimentos necessários em combate.
Perante a ameaça de uma guerra direta com a Rússia, esse é um alarme que Bruxelas tem feito passar aos seus Estados-membros.
De acordo com o grego, caso a NATO precisasse hoje de tanques e meios militares nas fronteiras com a Rússia, dificilmente conseguiria a mobilização necessária.
É que, segundo Apostolos Tzitzikostas, os tanques iriam ficar presos nos túneis, causariam colapsos em pontes ou não iam conseguir passar pelo emaranhado de protocolos fronteiriços.
Nesse sentido, a União Europeia pretende avançar com um gasto de 17 mil milhões de euros destinados exclusivamente ao investimento nas infraestruturas, prevendo-se que esse gasto ajude a facilitar a mobilidade militar.
“Temos pontes velhas que precisam de ser atualizadas”, confirmou Apostolos Tzitzikostas, que também fala em pontes que “têm de ser mais largas”, além de outras que nem sequer existem. Não será a infraestrutura mais essencial numa guerra com a Rússia, longe disso, mas a ausência de uma ponte sobre o Tejo que garanta um transbordo eficaz de meios militares é exemplo disto mesmo.
O comissário grego vai mesmo mais longe, admitindo que, como as coisas estão atualmente, é impossível defender o continente europeu, já que os exércitos não têm a possibilidade de se moverem com rapidez.
“A realidade atual é que, se queremos mover equipamento militar e tropas do lado ocidental da Europa para o oriental, isso levaria semanas e, em alguns casos, meses”, avisa.
É que grande parte das infraestruturas atuais não foi pensada para um contexto de guerra, muito menos para transportar milhares de soldados e todo o seu equipamento ao longo do bloco comunitário. Um dos exemplos mais claros é o dos tanques: grande parte das estradas europeias só conseguem suportar até 40 toneladas, mas muitos dos veículos militares têm pesos bem acima.
Veja-se o caso dos franceses Leclerc, que pesam mais de 55 toneladas, ou dos britânicos Challenger 2, acima das 60 toneladas.
De acordo com Apostolos Tzitzikostas, os 27 trabalham agora para desenhar uma estratégia de mobilidade que permita a deslocação de uma quantidade maciça de tropas “numa questão de horas, no máximo de dias”, melhorando a prontidão de resposta a um ataque.
Ao todo, a União Europeia quer melhorar 500 infraestruturas para criar condições em quatro corredores militares que se estendem por todo o continente.
Um projeto que foi identificado e é já trabalhado em coordenação com a NATO e os seus comandantes, ainda que se mantenha confidencial por razões de segurança.
A estratégia, essa, será apresentada pelo próprio Apostolos Tzitzikostas ainda este ano, esperando-se que seja uma das várias iniciativas da União Europeia para se preparar para um possível conflito direto com a Rússia, até porque se trabalha num cenário de incerteza em relação ao apoio dos Estados Unidos.
“Não podemos suportar mais não estarmos prontos ou estarmos dependentes”, rematou Apostolos Tzitzikostas.