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https://www.archdaily.com.br/br/1032101/apartamento-wt-fj55-arquitetos
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Área
Área deste projeto de arquiteturaÁrea:
98 m² -
Ano
Ano de conclusão deste projeto de arquiteturaAno:
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Fotógrafo
Descrição enviada pela equipe de projeto. Desde a primeira visita ao apartamento de 98 metros quadrados, localizado no bairro de Moema, em São Paulo, os futuros proprietários sentiram imediatamente uma conexão com a história do lugar. A estrutura de concreto aparente – com pilares, vigas e laje em acabamento bruto – revelava as marcas do tempo. Contudo, a infraestrutura desatualizada e a setorização rígida exigiam uma reforma que equilibrasse a preservação dos elementos originais com as necessidades contemporâneas. Para orquestrar o desafio, o casal convidou os arquitetos Felipe e Jordan Perez, à frente do FJ55 Arquitetos.
Nas conversas iniciais, os clientes manifestaram um desejo em comum: unificar os ambientes, criando uma fluidez tanto física quanto visual que favorecesse a interação entre as diversas atividades cotidianas. Além disso, para o casal que trabalha a partir de casa, a solução tradicional de um escritório isolado não agradava. A planta preexistente era composta por dois dormitórios e uma divisão clara entre as alas social, de serviço e íntima. Para a proposta aberta e funcional, a intervenção removeu quase todas as paredes, mantendo apenas aquelas do lavabo e dormitório principal. A marcenaria e o mobiliário são responsáveis pela organização das atividades. A base é definida por três materialidades: concreto aparente mantido em evidência; pintura branca nas alvenarias, uma solução encontrada para maximizar a reflexão da luz natural que flui pelas amplas janelas; e tábuas de madeira recobrindo todo o piso – com exceção dos banheiros.
Próximo à entrada, a marcenaria em Freijó, disposta em L, oferece dupla função. De um lado, a bancada de trabalho organiza o home office. Acima, prateleiras de mesmo acabamento abrigam a coleção de livros, apoiadas por mãos francesas que sustentam a carga e dão identidade ao desenho. Do lado oposto, o móvel acomoda um turntable e dupla de caixas de som produzidas pelo morador – uma homenagem à paixão pelos discos de vinil e à música, agora presente neste novo capítulo.
A sala de estar, que surge ao fundo do ambiente, também reflete a harmonia entre o novo e o antigo. O sofá Strips, com autoria da designer italiana Cini Boeri, garimpado em um antiquário em São Paulo, se une à mesa de centro do acervo familiar. Na parede, um pôster trazido de Nova Iorque. Outras peças vintage, adquiridas em leilões ou restauradas, incluindo a icônica poltrona Mole e a dupla de poltronas Kiko – ambas desenhadas por Sergio Rodrigues –, distribuem-se pela generosa sala. No hall, uma obra do norte-americano Jean-Michel Basquiat dá as boas-vindas. Para solucionar o desenho assimétrico das vigas em balanço, evidenciado pela remoção das paredes, prateleiras em chapa metálica foram produzidas para disfarçar as irregularidades. O conjunto de vasos de plantas dispostos sobre o elemento tem com intenção trazer o verde ao interior.
© André Mortatti
© André Mortatti
Na cozinha, os armários com acabamento em madeira Freijó reforçam a unidade visual do conjunto, enquanto as bancadas recebem placas de mármore. Em contraste à ortogonalidade da arquitetura, a ilha central, tem as extremidades arredondadas, e é revestida com ladrilhos na cor terracota, complementando a paleta terrosa. Este elemento oferece um ponto de apoio para refeições rápidas no dia a dia.
A sala de jantar é diretamente conectada à cozinha, permitindo que, em dias de recepção, haja uma interação constante entre aqueles que estão cozinhando e os que estão na sala. Na decoração, mesa de jantar Litoral, de Jaqueline Terpins (Dpot), é rodeada por conjunto de cadeiras Diva (L’oeil), e acima pendente Ufo, desenho de Fernando Prado (Lumini). A iluminação de todo o apartamento é planejada a partir de trilhos eletrificados, que destacam a beleza da laje de concreto aparente, sem comprometer sua estética.
No dormitório, a proposta é de serenidade, com uma base neutra que favorece o descanso, com paredes brancas e mobiliário com acabamento de madeira. Já a suíte é pensada para complementar a paleta quente da área social. O revestimento cerâmico nas paredes segue uma transição cromática sutil, com a parte inferior em terracota e a superior em branco, criando um jogo de texturas que se estende até a bancada. A cuba, no mesmo tom, e o gabinete em madeira, arrematam o conjunto.
Esse projeto de reforma, cuidadosamente pensado e executado, é uma verdadeira ode ao tempo, onde a história do edifício se mistura com a necessidade de adaptação às dinâmicas da vida contemporânea. A estética, a funcionalidade e o acolhimento estão em cada detalhe, oferecendo aos proprietários um lar que reflete tanto o passado quanto o presente, em fina sintonia.