A Xpeng contratou a Magna Steyr para a primeira produção de carros eléctricos da marca chinesa na Europa, numa instalação situada em Graz, Áustria. Trata-se de um passo decisivo para a marca, que passa a produzir dentro das fronteiras da União Europeia, contornando as tarifas alfandegárias impostas a veículos importados directamente da China.

Porquê a Áustria?

Em vez de construir de raiz uma nova fábrica, a Xpeng optou por recorrer à Magna Steyr, uma empresa de referência no fabrico por contrato. Localizada em Graz, esta unidade tem longa experiência a produzir modelos para diferentes construtores, incluindo o Mercedes-Benz Classe G e, anteriormente, o Jaguar i-Pace e o BMW Z4. Essa reputação confere à Xpeng garantias de qualidade e de capacidade de resposta, elementos cruciais para uma marca que quer expandir a sua presença no velho continente.

A decisão está directamente ligada à política comercial de Bruxelas. A União Europeia impõe uma tarifa base de dez por cento às importações de veículos eléctricos oriundos da China, à qual acrescem sobretaxas específicas aplicadas a cada fabricante no âmbito do inquérito europeu sobre subsídios. No caso da Xpeng, a taxa adicional ronda os 20,7 por cento. Montando os veículos na Áustria através de um processo de “semi-knocked-down” — em que os automóveis chegam parcialmente montados e a montagem final é concluída em solo europeu — a empresa consegue evitar estes encargos, tornando os seus modelos mais competitivos.

Corrida com a BYD

A jogada coloca a Xpeng um passo à frente da sua principal rival chinesa, a BYD, que está a construir uma fábrica na Hungria, mas cuja produção só deverá arrancar no final do ano. Enquanto isso, a Xpeng já tem em linha de montagem os modelos G6 e G9, os mais relevantes na sua oferta europeia. A diferença de calendário pode dar-lhe uma vantagem inicial na conquista de quota de mercado.


O movimento é também um sinal claro da estratégia chinesa no sector automóvel: os fabricantes não querem limitar-se a exportar, mas procuram criar uma base industrial e tecnológica na Europa, adaptando-se às regras locais e aproximando-se dos consumidores.

Um passo global

A unidade austríaca torna-se o segundo centro de produção da Xpeng fora da China, depois de uma primeira experiência na Indonésia. A empresa está igualmente a reforçar a sua presença no continente com a criação de um centro de investigação e desenvolvimento em Munique, na Alemanha, destinado a acelerar a adaptação tecnológica e de design ao gosto europeu.

Apesar da importância estratégica desta decisão, persistem algumas dúvidas quanto à escala da operação. Não se conhece ainda a capacidade máxima da fábrica de Graz para absorver a produção da Xpeng nem quais os modelos que, além do G6 e G9, poderão vir a ser montados localmente. A produção em território europeu é também mais dispendiosa do que na China, pelo que a competitividade em preço dependerá da eficiência logística, dos custos laborais e dos incentivos públicos disponíveis.