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O jornal britânico explica que estas operações, realizadas através de intermediários na China e de contactos próximos da fronteira, foram quase destruídas durante os anos de encerramento de fronteiras devido à pandemia de Covid-19. Agora, enfrentam um novo perigo: uma vaga de investigações lançadas pelas autoridades sul-coreanas.
Um dos casos relatados é o de Park Seung-hwan, que fugiu da Coreia do Norte em 2012 e vive atualmente em Seul. Durante anos, enviou regularmente entre 2 e 3 milhões de won (cerca de 1.238 a 1.852 euros) para a sua família. O dinheiro era suficiente para garantir arroz branco durante um ano inteiro — um símbolo de estabilidade e privilégio no país. “Enviar dinheiro era a forma mais simples de me sentir ligado à minha família”, contou ao Guardian.
O processo é arriscado e complexo: o dinheiro passa de exilados para corretores na Coreia do Sul, que o convertem em moeda chinesa, entregues depois a intermediários que os fazem chegar clandestinamente ao Norte. As famílias confirmam a receção através de chamadas em telemóveis chineses usados junto à fronteira, chegando mesmo a enviar vídeos a contar as notas.
Segundo uma sondagem do Database Center for North Korean Human Rights, 40% dos refugiados norte-coreanos afirmaram ter enviado dinheiro para casa nos últimos cinco anos. Contudo, estima-se que apenas 60% das remessas chegue efetivamente às famílias, após o pagamento de comissões e subornos.
As autoridades sul-coreanas começaram a apertar o cerco em 2023, investigando pelo menos dez pessoas suspeitas de facilitar estas operações. Três delas enfrentam atualmente julgamentos por violação das leis cambiais. “Cerca de 70% das rotas desapareceram”, afirmou uma das intermediárias entrevistadas pelo Guardian, acrescentando que será “quase impossível” reconstruir as redes.
Perante este cenário, alguns políticos da oposição em Seul, como o deputado Ihn Yo-han, estão a preparar propostas para legalizar pequenas remessas por razões humanitárias. Mas o Ministério da Unificação alertou que qualquer medida terá de equilibrar o cumprimento da lei cambial com o apoio à sobrevivência das famílias no Norte.
Para refugiados como Park, a questão é pessoal e urgente. Casado recentemente, lamenta que a família no Norte desconheça esse momento importante e ainda espera conseguir enviar não só dinheiro, mas também boas notícias antes do próximo feriado de Chuseok.
“Nos primeiros anos em Seul, vivi com uma enorme culpa por os ter deixado para trás”, disse. “Enviar dinheiro é a minha forma de aliviar essa culpa e de cuidar deles, mesmo à distância”,
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