Depois da tempestade, eis o regresso do melhor futebol europeu. Mais de três meses depois, a Europa do futebol parou para escutar o hino da Liga dos Campeões e, como habitual na história do clube, o Estádio da Luz não foi exceção. Ainda assim, os últimos dias não foram fáceis para as hostes encarnadas, já que o empate tardio consentido frente ao Santa Clara, voltou a trazer à tona a contestação, mesmo depois de um mês de agosto praticamente irrepreensível, que culminou com o apuramento para a fase de liga da principal competição europeia. Embora tenha nascido de um erro do capitão Nico Otamendi, o golo dos açorianos na Luz, já na reta final da partida, acabou por se traduzir numa série de críticas a Bruno Lage e a Rui Costa, já que o Benfica esteve em superioridade numérica durante mais de 50 minutos (1-1).

As desculpas do capitão que toda a equipa podia ter evitado (a crónica do Benfica-Santa Clara)

Pelo meio, as eleições do clube, que acontecem a 25 de outubro, continuam a marcar a atualidade desportiva e, nas últimas conferências de imprensa, a temática tem sido objetivo de análise do treinador natural de Setúbal. Em termos desportivos, a estreia das águias na fase de liga da Liga dos Campeões teve o condão de colocar frente a frente dois clubes que nunca se tinham enfrentado. Para além disso, o Benfica nunca tinha jogado contra uma equipa do Azerbaijão, pelo que este jogo entrou diretamente na história do clube da Luz. Noutro capítulo, nesta terça-feira completaram-se 57 anos desde que Eusébio da Silva Ferreira venceu a primeira Bota de Ouro, após uma época em que apontou 42 golos na Primeira Liga.

Ficha de jogo

↓ Mostrar

↑ Esconder

Benfica-Qarabag, 2-3

1.ª jornada da fase de liga da Liga dos Campeões 2025/26

Estádio do SL Benfica, em Lisboa

Árbitro: Erik Lambrechts (Bélgica)

Benfica: Anatoliy Trubin; Amar Dedic, António Silva, Nico Otamendi, Samuel Dahl; Enzo Barrenechea, Richard Ríos (Leandro Barreiro, 79’); Fredrik Aursnes (Franjo Ivanovic, 70’), Giorgi Sudakov, Andreas Schjelderup (Gianluca Prestianni, 70’); Vangelis Pavlidis (Henrique Araújo, 79’)

Suplentes não utilizados: Samu Soares; Rafa Obrador, Tomás Araújo, Gonçalo Oliveira, João Veloso, Leandro Santos, João Rego e Diogo Prioste

Treinador: Bruno Lage

Qarabag: Mateusz Kochalski; Matheus Silva, Bahlul Mustafazada, Kevin Medina, Elvin Cafarquliyev (Toral Bayramov, 77’); Pedro Bicalho, Marko Jankovic (Oleksii Kashchuk, 77’); Leandro Andrade (Emmanuel Addai, 66’), Kady Borges, Abdellah Zoubir; Camilo Durán (Musa Qurbanly, 90’)

Suplentes não utilizados: Shahrudin Magomedaliev, Fabijan Buntic; Samy Mmaee, Chris Kouakou, Dani Bolt, Abbas Huseynov e Badavi Huseynov

Treinador: Gurban Gurbanov

Golos: Barrenechea (6’), Pavlidis (16’), Leandro Andrade (30’), Durán (48’) e Kashchuk (86’)

Ação disciplinar: nada a registar

Frente a um dos seus adversários mais acessíveis nesta caminhada europeia, o Benfica estava praticamente obrigado a vencer, mais ainda por contar com o fator casa. Ainda assim, os azeris não eram uma equipa qualquer, pois chegaram à Champions como tetracampeões do Azerbaijão e vencedores de dez das últimas 11 edições do Campeonato local. O percalço caseiro sofrido nas provas nacionais, e o facto de as águias estarem numa desgastante série de jogos, podiam levar Lage a mexer no seu inicial, sendo que o reforço Giorgi Sudakov se perfilava como a grande novidade. Importava perceber se o treinador encarnado estava determinado em manter a forma de jogar com dois avançados, ou se ia mudar o esquema tático para integrar o ucraniano.

“Sinto a equipa motivada a voltar a dar a imagem que deu nos quatro jogos europeus anteriores e na Liga dos Campeões do ano passado. Esse é o grande objetivo para amanhã [terça-feira]. Queremos vencer o jogo, jogar bom futebol e oferecer uma grande noite europeia aos nossos adeptos. Quem treina o Benfica sabe a exigência estratosférica que temos. Não basta ganhar títulos, temos de jogar bem. Depois de um mau resultado, temos de olhar para a frente. Temos um grande caminho para fazer em termos de evolução de jogo. Em termos defensivos, rapidamente voltamos aos índices do ano passado. Somos uma equipa muito forte — talvez das melhores da Europa — a pressionar a saída de bola na construção do guarda-redes. Na transição defensiva estamos muito mais forte. Na parte ofensiva, estamos a tentar resolver algumas questões e temos um espaço enorme para evoluir no último terço. Temos de criar mais dinâmicas, mais movimentos, temos de criar os nossos melhores jogadores em posição de finalização e temos de marcar mais golos. É um longo caminho e, à medida que temos oportunidade de treinar, vamos falando com os jogadores”, antecipou o treinador.

“Não sei que expectativas tenho, porque não tivemos chances nas últimas duas semanas de treinar juntos. Só hoje [segunda-feira] é que treinámos juntos. É um pouco complicado, mas já temos a experiência para jogar estes jogos, nestas circunstâncias. Já disse aos meus jogadores que têm de sair e desfrutar. Vamos jogar contra uma grande equipa e um grande clube, mas espero que os meus jogadores mostrem o seu melhor. Analisámos o jogo do Benfica e sabemos como jogam. Têm alguns detalhes que já pedi aos meus jogadores. Só posso dizer que o Benfica tem jogadores com grande qualidade. Essa é a vantagem que têm. A motivação pode estar mais do nosso lado. Só assim podemos jogar contra eles se queremos um bom resultado. A qualidade dos jogadores deles é maior que a dos nossos. Isso dá vantagem para o Benfica”, assumiu Gurban Gurbanov, o timoneiro do Qarabag.

Assim, Bruno Lage fez duas alterações no seu onze inicial, com Amar Dedic a saltar para a titularidade, mesmo depois de ter estado em dúvida nas horas que antecederam a partida. O bósnio regressou ao lado direito da defesa, onde tinha atuado Tomás Araújo. No ataque, Sudakov foi mesmo titular e juntou-se a Vangelis Pavlidis, com Franjo Ivanovic a começar no banco. Nos azeris, Gurban Gurbanov apostou no 4x2x3x1, com o luso-caboverdiano Leandro Andrade a atuar no lado direito do ataque, ao lado de Camilo Durán, Kady Borges e Abdellah Zoubir.

Como seria de esperar, a formação vermelha e branca teve uma entrada afirmativa, com mais bola e com as linhas de pressão bastante subidas, perante uma equipa azeri que tentou imprimir intensidade no seu jogo. A história da partida começou a escrita logo aos seis minutos, com Giorgi Sudakov a mostrar-se à plateia da Luz com um canto de antologia, que foi ganho por si e acabou na cabeça de Enzo Barrenechea que, ao primeiro poste, ganhou nas alturas e cabeceou cruzado para o golo inaugural (6′). Pouco depois, Andreas Schjelderup recebeu de Samuel Dahl junto à linha, na esquerda, cavalgou para o meio e serviu Sudakov, que recebeu de costas para a baliza, rodou e fez o passe para Pavlidis, a defesa falhou o corte e, isolado, o grego não perdoou (16′).

O internacional ucraniano continuou a fazer das suas no último terço mas, na defesa, o Benfica teve um apagão momentâneo que custou caro, com Leandro Andrade a reduzir na sequência de um livre lateral e de uma desatenção defensiva desmedida (30′). No lance seguinte, Kady Borges tirou um cruzamento para a área, António Silva e Dedic não se fizeram ao lance e, nas suas costas, Durán cabeceou, sozinho, por cima (32′). Logo a seguir, o internacional português colocou a bolas nos pés de Kady que, à entrada da área, atirou ao poste esquerdo e, na sequência do lance Marko Jankovic obrigou Anatoliy Trubin a aplicar-se (33′). A fechar uma primeira parte em que os portugueses quase foram do céu ao inferno em poucos minutos, Durán voltou a aparecer isolado nas costas de António e Dedic, mas o guarda-redes ucraniano saiu bem da baliza e impediu o empate (45′). Na saída para o balneário, a equipa foi brindada com alguns assobios.

A paragem serviu de pouco para o Benfica que, na segunda parte, voltou a apresentar-se bastante aquém do exigível, com o Qarabag a aproveitar para empatar num lance em que a bola voltou a entrar no espaço entre António Silva e Amar Dedic e em que Camilo Durán apareceu a receber de Marko Jankovic e a atirar colocado para o empate (48′). As águias reagiram pouco depois, com Richard Ríos a receber de Andreas Schjelderup dentro da área e a desferir um remate ao lado (54′). Com Lage imóvel no banco de suplentes, os azeris continuaram a ameaçar o golo e só não completaram a reviravolta porque Bahlul Mustafazada estava em posição de fora de jogo (65′). O treinador respondeu de pronto e colocou Gianluca Prestianni e Franjo Ivanovic nos lugares de Fredrik Aursnes e Schjelderup, mas a reação continuou amorfa e, para os últimos minutos, entraram Leandro Barreiro e Henrique Araújo, saindo Ríos e Pavlidis.

Com a equipa cada vez mais partida e um desnorte total a apoderar-se do relvado da Luz, a defensiva voltou a falhar, com António Silva a colocar todos em jogos, e Oleksii Kashchuk aproveitou a passividade para completar a reviravolta com um remate colocado (86′). Até ao fim, ainda houve tempo para uma jogada de Prestianni, que recuperou a bola a meio-campo e conduziu até à área, mas o seu remate saiu por cima (89′). Desta forma, o anfiteatro encarnado voltou a assistir a um resultado histórico, pela negativa, e a continuidade de Lage continua a ser posta em causa (2-3).