Há três anos, Izhar seguiu a tendência e os conselhos dos amigos. Partiu do Paquistão em busca de um mundo novo. Aos 61 anos, o espírito emigrante soltou-se em si. Escolheu Portugal “pelo clima, pela facilidade de arranjar trabalho e pela hospitalidade das pessoas”, confessa à New in Amadora.
Izhar Khan é um dos cerca de 30 mil estrangeiros que vieram procurar a sua sorte e fixaram-se na Amadora. Embora tenha sacrificado a vida familiar, o paquistanês não se arrepende da escolha. “Estou cá há 3 anos, sozinho. A minha mulher veio visitar-me na primavera e tenho três filhos que ficaram lá. O meu objetivo é juntar dinheiro para lhes mandar, o meu sonho é conseguir o melhor para eles.”
Porém, deparou-se com um problema com o qual não contava: “Adoro Portugal, sou muito bem tratado, mas é tudo muito caro”. E dá exemplos concretos. “Moro num quarto junto ao Babilónia, que divido com uma pessoa que não conheço, onde não posso cozinhar devido aos cheiros e onde não tenho qualquer tipo de privacidade”. Paga 250€ por mês pelo uso da cama.
O paquistanês foi um dos imigrantes que participou no recente “É um Encontro”, um festival gastronómico multicultural, que reuniu cozinhas de 26 países no Mercado da Mina, e por onde passaram mais de 22 mil pessoas, está à procura de emprego. “Trabalho honesto, não quero nada desonesto”, alerta.
“Não dá para nada”
O único dinheiro que ganha é o pouco que recebe a entregar comida para a Glovo, em part-time. “Não dá para nada”, lamenta. E, para confirmar a veracidade do que diz, tira o telemóvel do bolso, abre a aplicação de entregadores da plataforma e mostra o que ganha por dia. “Trabalho das 19 horas à meia-noite”, diz. Os números são fracos: 40€ aqui, 30€ ali, 60€ nos melhores dias, a que tem de subtrair a taxa e o arrendamento da bicicleta com a qual pedala cinco horas diárias.
“Retirando as taxas e o custo da bicicleta, com o que ganho, mal dá para o quarto. Estou à procura de um emprego a tempo inteiro.” Cozinhar é sempre uma possibilidade, até porque tem experiência em comida paquistanesa, indiana e alguma chinesa. “Contento-me com qualquer coisa: trabalhar numa cozinha, a lavar pratos, ou o que for. Preciso ganhar dinheiro”, afirma à New in Amadora.
Claro que, se lhe pagarem “bem”, está disponível para cozinhar para grupos numerosos, como aconteceu agora no festival É Um Encontro. “Foi muito bonito e este tipo de iniciativas são fundamentais para a nossa integração em países que não são os nossos e para conhecer pessoas de outras nacionalidades, que enfrentam o mesmo tipo de dificuldades.”
Sempre foi um “homem trabalhador”, conta. Quando era mais novo, trabalhou muito. “Adoro os Estados Unidos e a Austrália, sou uma pessoa muito social, meto facilmente conversa e adoro ajudar os outros,” Chegou a ser country manager da UPS. “Nunca tive medo de trabalhar e de assumir responsabilidades”, assegura.
“Nunca sofri discriminação em Portugal”
O paquistanês garante que nunca sofreu “qualquer tipo de discriminação em Portugal”. “As pessoas gostam de mim e respeitam-me. E também respeito toda a gente. Globalmente, não sinto que seja um país racista ou preconceituoso, mas há sempre exceções”, afiança.
E garante que reza para que a sua “estadia em Portugal seja longa”. “Claro que já sinto a Amadora como a minha segunda casa. Gosto do tempo e das pessoas”. Só precisa mesmo é de ganhar mais dinheiro. “Nem que seja nas limpezas. Faço qualquer coisa digna”, reforça.
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