Uma associação criminosa transnacional que operava a partir de Portugal conseguiu burlar 5100 idosos suecos. O esquema foi desmantelado nesta terça-feira numa megaoperação da Polícia Judiciária que contou com a colaboração quer das autoridades suecas, quer da Europol e do Eurojust, a agência europeia para a cooperação judiciária penal.
Igualmente de nacionalidade sueca mas a residir no Algarve, para conseguirem os seus intentos, os criminosos recorriam a uma modalidade de phishing, o smishing: enviavam mensagens de texto (SMS) às vítimas, cujos nomes encontravam em bases de dados abertas daquele país, fazendo-se passar por funcionários dos bancos em que os idosos tinham dinheiro depositado. Comunicavam-lhes que tinha havido um problema com as suas contas bancárias e pediam-lhes para entrarem em contacto com eles, por forma a resolver o problema. Já ao telefone, as vítimas eram então convencidas a entregar as credenciais de acesso às contas, e também, nalguns casos, a instalar um software de monitorização dos seus dispositivos electrónicos, telemóveis e computadores. Quando descobriam que o dinheiro lhes tinha sido sacado das contas era tarde de mais.
Pelas contas das autoridades policiais, graças a este esquema, de 2023 até hoje, a organização criminosa, cujo núcleo duro era composto por três homens residentes no Algarve, conseguiu proventos superiores a 14 milhões de euros. Em Portugal, colaboradores arregimentados pelos líderes do grupo, cidadãos portugueses mas também de outras nacionalidades, ajudavam a dissipar a origem do dinheiro, cedendo as suas contas bancárias em solo nacional ou criando contas novas a pedido dos criminosos. O núcleo duro do grupo também lavava o dinheiro roubado aos idosos comprando jóias, relógios e viaturas.
Daí que estejam indiciados nesta investigação, além de burla informática, crimes de branqueamento de capitais, falsidade informática, acesso ilegítimo e também burla. Ao todo, foram detidas 65 pessoas nesta operação, baptizada como Pivot.
Nem o director da Unidade Nacional de Combate ao Cibercrime e à Criminalidade Tecnológica da Judiciária, Carlos Cabreiro, nem o seu homólogo sueco, Johan Sangby, souberam explicar por que razão os cibercriminosos escolheram Portugal para montar este esquema. Em conferência de imprensa, este último aventou uma explicação: a Suécia tem “muitos criminosos” a actuar a partir do estrangeiro, e tanto Portugal como Espanha tornaram-se países atractivos para morar, aparentando ser “um porto seguro para criminosos”. Já Carlos Cabreiro negou que a escolha se possa ter ficado a dever a alguma vulnerabilidade do país.