Um grupo de 19 portugueses ficou retido durante mais de 24 horas em Machu Picchu, no Peru, sem qualquer previsão de regresso a casa, depois de um protesto de moradores ter destruído parte da linha ferroviária que assegura o acesso ao histórico sítio arqueológico. Ao Observador, o Ministério dos Negócios Estrangeiros refere que a previsão é de que o grupo possa regressar a Portugal já esta quarta-feira.

A manifestação afetou muitos turistas e levou o Governo peruano a efetuar uma operação de resgate que permite — segundo a ministra do Comércio Exterior e Turismo, Úrsula Desilú León, em entrevista à Radio Programas del Perú — “trasladar aproximadamente 1.400 turistas” para a cidade de Cusco, a 110 quilómetros de Machu Picchu.

A interrupção do serviço ferroviário começou na segunda-feira, quando os manifestantes bloquearam a via com pedras e troncos de árvores, exigindo que uma nova empresa assegure o transporte rodoviário entre a estação de comboios e a cidadela inca, após o fim da concessão de 30 anos da atual operadora. As autoridades confirmaram que, no confronto, “14 polícias ficaram feridos após serem agredidos com objetos contundentes”, o que obrigou à suspensão temporária do resgate. Nesse intervalo, muitos turistas tiveram de percorrer a pé caminhos íngremes durante três horas, de acordo com testemunhos recolhidos pela agência de notícias AFP.

Entre os turistas afetados estiveram 19 portugueses, todos com mais de 65 anos, que estavam a terminar a viagem que começaram no dia 5 de setembro. Em declarações à CNN Portugal, uma pessoa do grupo de Viseu mostrou-se apreensiva com a situação: “Fomos informados que desde as oito horas da manhã [de terça-feira] não houve qualquer comboio a sair ou a entrar em Machu Picchu, devido à continuação dos tumultos”, iniciados na segunda-feira.

Os portugueses conseguiram entrar na estação de Aguas Calientes, onde estavam mais de mil pessoas também retidas, mas só horas depois é que foram informados que a linha do comboio não estavam em condições para garantir qualquer serviço.

“Fomos informados que não iria haver qualquer tipo de comboio, porque a linha férrea tinha sido danificada pelos moradores. A única forma de sair de Machu Picchu é de comboio ou então se caminharmos durante cerca de três horas e neste momento não temos informações sobre como vamos sair daqui“, contou, ainda, a excursionista.

Já na manhã desta quarta-feira, o Ministério dos Negócios Estrangeiros confirmou ao Observador que os 19 portugueses já tinham conseguido apanhar o comboio em Aguas Calientes, a cidade mais próxima do lugar cultural mais visitado do país, estando, assim, previsto o regresso a Portugal ainda esta quarta-feira.

Outros turistas também relataram dificuldades em sair do sítio arqueológico. Segundo a France 24, o chileno Miguel Salas lamentou que “a alternativa” que é dada aos turistas é a de “caminhar por duas, três horas” para tentar chegar a um meio de transporte. “No meu caso, não posso porque a minha mulher está grávida”, refere Salas.

O protesto, convocado pela Frente de Defesa dos Interesses de Machu Picchu, foi declarado como uma greve por tempo indeterminado. “Só iremos parar quando uma nova empresa assumir o transporte terrestre“, afirmou a organização em comunicado, reforçando que a atual concessionária, a Consettur Machupicchu, “continua a operar mesmo após o fim do contrato” sem esclarecer os moldes em que o faz.

O governo peruano assegurou, no entanto, estar a trabalhar para conseguir uma solução. “Estamos a organizar uma reunião com as autoridades locais e os sindicatos para encontrar uma saída para os protestos”, garantiu Úrsula Desilú León, sublinhando que a prioridade imediata é retirar os turistas ainda retidos.

Machu Picchu é um local classificado como Património da Humanidade pela UNESCO desde 1983 e recebe, em média, 4.500 visitantes por dia, a maioria estrangeiros.