Jeremy Caplan

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Chris Guillebeau já correu contra o relógio: visitou todos os 193 países do mundo antes dos 35 anos, escreveu best-sellers como “The $100 Startup” (“A startup de $100: abra o negócio dos seus sonhos e reinvente sua forma de ganhar a vida”) e organizou encontros com milhares de pessoas.

Agora, ele resolveu virar o jogo. Em seu novo livro, “Time Anxiety” (ainda sem título em português), Guillebeau mira uma angústia cada vez mais coletiva: a sensação de que nunca temos horas suficientes no dia.

No livro, ele questiona o culto à produtividade e à otimização sem fim, propondo alternativas inusitadas, como adotar hobbies da vovó ou fazer uma “lista reversa de desejos”.

Para alguém que se descreve como “obcecado pelo futuro” e vive se perguntando “e agora?”, essas reflexões nasceram de suas próprias batalhas contra a ansiedade do tempo.

Em conversa com a Fast Company, Guillebeau falou sobre a importância de olhar para trás, o que aprendeu ao conhecer todos os países do mundo e como encontrar sentido mesmo sem controlar o próprio legado.

Fast Company – O que é a “lista reversa de desejos” e por que olhar para trás importa tanto quanto olhar para frente?

Chris Guillebeau – Sou naturalmente voltado para o futuro. Terminei um livro e já estou pensando no próximo. Mas talvez eu devesse viver um pouco mais no agora, especialmente depois de dois anos escrevendo esse projeto.

A lista reversa é simples: em vez de listar o que você quer fazer, liste o que você já fez – coisas que foram significativas, mesmo que apenas para você. Pode ser uma visão de vida ou uma lista do que você fez hoje. Para quem está sempre projetando o futuro, refletir sobre o passado pode ser uma forma de se reconectar com o presente.

Fast Company – O que te surpreendeu ao visitar todos os países do mundo antes dos 35 anos?

Chris Guillebeau – A ideia começou meio no impulso, como quase tudo que faço.

Chris Guillebeau

Quando trabalhei na África Ocidental como voluntário, já tinha passado por 70 países. A meta foi natural: quantos mais faltam? E o que seria necessário para completar todos?

O mais marcante foram os lugares que eu talvez nunca teria visitado por conta própria, como Lituânia ou Montenegro, e que se revelaram pacíficos e fascinantes. Juntar paixão por viagens com gosto por metas e listas foi o que fez tudo funcionar para mim.

Fast Company – No livro, você conta sobre um homem que voava toda semana para aeroportos europeus sem sair do terminal. O que essa história ensina?

Chris Guillebeau – Esse holandês ia toda quarta-feira até o aeroporto de Schiphol, em Amsterdã, pegava um voo para qualquer cidade europeia Barcelona, Estocolmo , passava algumas horas no aeroporto e voltava. Por 20 anos.

Para muitos, isso parece absurdo. Mas, para ele, era seu momento de paz. Aquilo dava ritmo à vida dele. Todo mundo tem uma coisa “estranha” assim que traz algum tipo de estrutura ou prazer. A questão é descobrir qual é a sua.

Fast Company – Você defende os “hobbies da vovó”. Por quê?

Chris Guillebeau – Existem pesquisas mostrando os benefícios de se ter um hobby manual e analógico o que chamo de “thumbs down” (sem dedo na tela). Pode ser tricô, jardinagem, culinária. São atividades que você pode largar e retomar sem pressão.

Elas ajudam a reduzir a ansiedade e promovem paz mental. E o risco é baixo: se o tricô deu errado, tudo bem. Não é como errar um e-mail para 100 pessoas. Esses passatempos nos tiram do ritmo acelerado da era digital e nos colocam em um tempo mais lento, mais humano.

artes manuais/ mulher fazendo tricôCrédito: Freepik

Fast Company – O que é a “regra dos 75%” e por que precisamos deixar de tentar ser excelentes em tudo?

Chris Guillebeau – Eu organizava um evento com uma equipe que ficava obcecada com detalhes minúsculos. Um dia, alguém disse: “não queremos fazer pela metade, mas será que precisamos dar 100% nisso?”. Aí nasceu a ideia de fazer com 75% de esforço.

A verdade é que você não pode dar o seu melhor em tudo. É impossível. A vida exige escolhas. Foque em ser excelente em poucas coisas. No resto, vale fazer o mínimo necessário. Em vez de perfeição, melhor terminar, especialmente para quem trava por querer fazer tudo de modo impecável.

Fast Company – Como esse livro mudou sua própria relação com o tempo?

Chris Guillebeau – Antes, eu pensava muito sobre legado, sobre o que vamos deixar para o mundo. Mas percebi que legado é algo que não podemos controlar. A maioria das coisas será esquecida. Quem deixa um legado não planeja isso por 60 anos. Apenas vive e gera impacto.

Hoje, penso mais em viver bem. O que significa isso? Para mim, é contribuir, servir, melhorar um pedacinho do mundo. Isso é alcançável, mensurável. Mesmo quando não é, é algo que você sente por dentro.

SOBRE O AUTOR

Jeremy Caplan é diretor da Newmark Graduate School of Journalism da CUNY e criador da newsletter Wonder Tools. saiba mais