O Kairat Almaty veio de longe. Mais precisamente, cerca de sete mil quilómetros para chegar a Lisboa, a maior distância que uma equipa na Liga dos Campeões irá fazer esta época. Regressou ao Cazaquistão com a memória da estreia na maior competição de clubes da Europa, mas os pontos ficaram em casa, com o Sporting, que demorou a encontrar o caminho, mas que não se deixou surpreender (como aconteceu com o vizinho do outro lado da estrada). Os “leões” entraram na competição a vencer, por 4-1, Rui Borges conseguiu a sua primeira vitória na Champions, mas este terá sido o passo mais fácil – no horizonte do Sporting estão equipas como Nápoles, Juventus, Bayern ou PSG.

O Sporting precisou de quase meio jogo para chegar ao golo perante o campeão cazaque que tinha dois portugueses, o lateral Mata e o avançado Jorginho, de início. Antes, bateu de frente com várias coisas. Um guarda-redes de 18 anos, o terceiro na hierarquia do Kairat, que queria trazer boas memórias, o poste e alguma displicência (leia-se lentidão) no ataque à baliza. Com algumas mudanças em relação ao jogo anterior na defesa (Fresneda, Maxi e Quaresma em vez de Vagiannidis, Mangas e Debast), o Sporting quase que entrou no jogo a ganhar – Suárez fez o passe, Pedro Gonçalves apanhou a bola na área e rematou cruzado, mas Kalmurza defendeu com a perna.


O jovem guardião voltaria a ser a figura aos 21’. Depois de uma falta sofrida por Suárez dentro da área, provoca por Mrynskiy, o capitão Hjulmand tentou a sua melhor imitação de Antonin Panenka e atirou para o meio da baliza. Só que o remate foi tão denunciado que Kalmurza deixou lá a perna e a bola não entrou. O jovem de 18 anos voltou a brilhar na baliza do Kairat aos 24’, num remate de Quenda.


O Sporting não parecia particularmente desesperado para marcar um golo, como que confiante no seu valor superior, mas ainda apanhou um susto pelo meio. Aos 34’, Dastan Stapayev, avançado de 17 anos que vai jogar no Chelsea, tentou um remate de fora da área – Virgínia estava atento e defendeu. Como resposta a este momento de perigo, Suaréz acertou no poste aos 37’ e Fresneda, após jogada individual, fez um cruzamento deficiente que o colombiano não conseguiu corrigir.

Finalmente, aos 44’, o golo chegou para animar o Sporting. Tudo começou com uma recuperação de bola de Inácio em zona adiantada que teve continuidade num toque subtil de Kochorachvili, antes de um remate certeiro de Francisco Trincão. Um golo para acabar, não com o sofrimento, mas com a apatia que o Sporting parecia estar a ter, a querer apenas o suficiente – e, claro, tudo isso iria mudar na segunda parte.

Depois de mais uma bola nos ferros (Suárez cabeceou à trave) e de mais uma boa defesa de Virgínia, usando as palavras imortais de Cristiano Ronaldo, o ketchup começou a sair do frasco. Aos 65’, mais uma investida de “Diego Armando” Fresneda pela direita que não parecia ir a lado nenhum, mas que seria aproveitada por Trincão para o 2-0, em mais um belo remate.

Aos 67’, foi Quenda a abrir o caminho a partir da direita para deixar Alisson Santos em boa posição para fazer o 3-0 – primeiro golo com a camisola do Sporting para o jovem brasileiro recrutado à União de Leiria. Logo no minuto seguinte, depois de um passe a virar de flanco de Morita, Quenda não deu a bola a ninguém – fintou meia equipa do Kairat e atirou a contar de pé esquerdo.


Em três minutos, o Sporting transformava uma soporífera vitória por 1-0 numa goleada robusta, como diria outro poeta da bola, com nota artística. Um resultado e uma exibição construídas sobretudo na segunda parte e com muita calma, a furar pela resistência da equipa que veio de longe – já derrotada e sem hipótese de reviravolta, a formação cazaque também ficou com uma lembrança do jogo, sobretudo Edmilson Santos, ex-avançado do Marco e do Lank Vilaverdense, que fez o 4-1 já bem perto do fim.