O Iscte iniciou a instalação do que apresenta como o maior banco de ensaios de fibra óptica multi-núcleo do mundo. O projecto decorre na Linha Amarela do Metro de Lisboa e vai, de acordo com o comunicado de imprensa, possibilitar testes em condições reais, como vibrações, variações de temperatura, ruído e movimento constante — factores que não existem em laboratório, mas que são determinantes para avaliar a fiabilidade desta nova tecnologia.
Cabos com centenas de canais de transmissão
A esmagadora maioria do tráfego mundial de dados — cerca de 99% — assenta hoje em fibras de núcleo único. O banco de ensaios em Lisboa introduz cabos multi-núcleo, produzidos pelo grupo alemão Heraeus Covantics, com 74 fibras: 64 de quatro núcleos e dez de sete núcleos. No total, serão 326 canais de transmissão interligados, o que permitirá criar um percurso equivalente a 728 quilómetros virtuais ao longo dos 13 quilómetros da linha entre Odivelas e o Rato.
Para Adolfo Cartaxo, docente do Iscte e responsável técnico pelo projecto, este é um passo essencial porque “a infra-estrutura de comunicação actualmente instalada está a chegar ao seu limite físico”. Segundo o investigador, a utilização de fibras multi-núcleo possibilita “aumentar substancialmente a capacidade de transmissão de dados sem exigir mais espaço físico, o que é particularmente relevante para as infra-estruturas já existentes”.
Investimento e impacto esperado
O investimento totaliza 2,3 milhões de euros, dos quais 588 mil são provenientes do Programa Lisboa 2030, sendo o restante assegurado pelo Iscte. A instalação deve ficar concluída até final de 2025 e os testes decorrerão ao longo de 2026. A inauguração oficial está marcada para 3 de Novembro.
De acordo com o vice-reitor do Iscte para a Investigação, Jorge Costa, esta infra-estrutura poderá “atrair talento a Lisboa e reforçar a capacidade de inovação da economia portuguesa”. O responsável considera ainda que o banco de ensaios ajudará a captar investigadores internacionais, produção científica de qualidade e investimento de operadores globais como a AT&T, a Deutsche Telekom ou a Vodafone.
Portugal no mapa internacional da fibra óptica
A escala do projecto coloca Lisboa à frente de outras experiências internacionais. Em L’Aquila, no sul de Itália, o percurso de testes estende-se por seis quilómetros (66 quilómetros de extensão virtual). Na China, o cabo atinge 16 quilómetros e, no Japão, apenas três. O banco português, com 728 quilómetros de extensão virtual, não tem, segundo os promotores, paralelo em nenhum destes casos.
O Iscte sublinha também as oportunidades económicas. Um estudo da Business Research, citado no comunicado da instituição, estima que o mercado global das fibras multi-núcleo atinja quase 4 mil milhões de euros em 2025 e cresça até mais de 30 mil milhões de euros em 2033, com uma taxa anual média superior a 30%.
Além de permitir avaliar a fiabilidade das novas fibras, a infra-estrutura em Lisboa servirá ainda para testar outros equipamentos das redes multi-núcleo, como emissores, receptores e amplificadores ópticos, fundamentais para manter a qualidade da informação ao longo de milhares de quilómetros.