A Polícia Federal informou nesta segunda-feira que seis quadros recolhidos em São Paulo durante a Operação Cambota — deflagrada na sexta (12) em desdobramentos das investigações sobre a chamada “máfia do INSS” — foram atribuídos a nomes consagrados da arte brasileira: cinco obras a Emiliano Di Cavalcanti e uma a Tomie Ohtake. A ação, que cumpriu mandados também em endereços ligados aos investigados, integra uma apuração que aponta descontos indevidos e movimentações financeiras bilionárias, numa dimensão que as autoridades estimam em cerca de R$ 6,3 bilhões.

Tomie Ohtake, Casa Amarela (1970). Imagem: Divulgação/PF

Além dessas peças identificadas preliminarmente, fotos das apreensões analisadas por peritos e especialistas indicam a possível presença de trabalhos atribuíveis a Cândido Portinari, Orlando Teruz e Dario Mecatti, além de esculturas de Flory Gama; o acervo apreendido inclui ainda reproduções de bronze — entre elas a versão de “O Pensador”, de Rodin — e peças de caráter erótico assinadas por autores como Bruno Zach e Thomas Cartier. Especialistas consultados destacam que, caso a autenticidade seja confirmada, certas pinturas de Portinari e Di Cavalcanti poderiam atingir faixas milionárias no mercado, mas ressaltam que essas conjecturas dependem de perícias técnicas detalhadas.

Escultura do artista austríaco Bruno Zach. Imagem: Reprodução/PF

A autenticação, explicam peritos, exige procedimentos metodológicos — da inspeção organoléptica e exames sob diferentes tipos de luz à microscopia das pinceladas e à análise química de pigmentos (fluorescência de raios-X, espectroscopia Raman) — para estabelecer autoria, época e materiais. Enquanto a perícia oficial não é concluída, a investigação criminal segue com presos e bens recolhidos em endereços ligados a figuras apontadas no inquérito, entre eles o advogado Nelson Wilians, o empresário Maurício Camisotti e Antônio Carlos Camilo Antunes, o chamado “Careca do INSS”. As apreensões fomentaram debates nas redes sobre como investimentos em arte podem ser usados em redes de blindagem patrimonial.