Publicado em
19/09/2025 às 09:34

Um achado inédito marca a ciência na América do Sul: fósseis de âmbar com insetos foram encontrados pela primeira vez no continente. O anúncio foi feito em setembro, após estudo publicado na revista Nature, envolvendo pesquisadores de vários países, entre eles o brasileiro Marcelo Carvalho, do Museu Nacional.

O material foi localizado no Equador e tem cerca de 120 milhões de anos, datando do período Cretáceo.

O que torna o achado especial

A grande novidade é que nunca antes se havia registrado fósseis de âmbar com insetos em tão grande quantidade na América do Sul.

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Até então, esse tipo de material era encontrado principalmente no hemisfério norte.

O estudo revela detalhes da flora e fauna de uma época em que os continentes estavam se separando e o Atlântico Sul começava a se formar.

Marcelo Carvalho, especialista em palinologia — ciência que analisa vestígios de pólen para entender a história da Terra — destacou à CNN que a descoberta é fundamental para reconstruir o passado.

“A grande importância do trabalho é poder entender como era a flora naquele momento, como eram as florestas naquele momento”, explicou.

O achado também despertou comparações com o clássico filme Jurassic Park, no qual cientistas extraem DNA de dinossauros a partir de insetos preservados em âmbar.

Na vida real, porém, esse cenário ainda não é possível: o material encontrado não contém fragmentos genéticos utilizáveis, já que o tempo degradou completamente essas informações.

Mesmo sem a possibilidade de “reviver” espécies extintas, o valor científico permanece enorme.

O âmbar funciona como uma cápsula do tempo, preservando detalhes de insetos como moscas, besouros, formigas e até fragmentos de teias de aranha.

Clima e evolução das florestas

Os fósseis indicam que, no Cretáceo, o clima na região equatorial era mais úmido e que começava a se formar a chamada zona de convergência intertropical, sistema atmosférico que ainda influencia a Amazônia e outras áreas tropicais.

“Podemos dizer com mais segurança que o clima estava mais úmido, nesse contexto que essa floresta meio que se desenvolveu”, afirmou Carvalho.

As resinas que deram origem ao âmbar foram produzidas por araucárias, árvores que continuam presentes no continente e que desempenharam papel central na formação das antigas florestas.

Colaboração internacional

A pesquisa contou com a participação de especialistas de países como Argentina, Colômbia, Alemanha, Panamá, Espanha, Suécia e Estados Unidos, além do Brasil e do Equador.

O trabalho foi liderado pelo espanhol Xavier Delclòs e envolveu cerca de 60 amostras fossilizadas.

Os insetos encontrados são considerados testemunhas únicas da história, pois viveram ao lado dos dinossauros e acabaram preservados na resina que se transformou em âmbar milhões de anos depois.

Significado para a América do Sul

Esse achado reforça a importância da América do Sul nos estudos sobre a história da Terra.

Até agora, fósseis de âmbar desse período eram praticamente desconhecidos na região, o que limitava a compreensão sobre a formação das florestas tropicais e a evolução do clima.

Com a descoberta, abre-se um novo campo de pesquisa que pode conectar passado e presente, revelando como se estruturaram os ecossistemas que hoje sustentam a maior biodiversidade do planeta.