A Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), a Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN) e a Sociedade Brasileira de Hipertensão (SBH) divulgaram, nesta quinta-feira, novas diretrizes para diagnóstico de hipertensão arterial no país.

Entre outros pontos, o documento estabeleceu que a pressão a partir de 12 por 8 (120 mmHg sistólica e/ou 80 mmHg diastólica) passa a ser enquadrada na faixa de “pré-hipertensão”. Já a hipertensão arterial oficial segue sendo a partir de 14 por 9 (140 mmHg sistólica e/ou 90 mmHg diastólica).

Mas afinal, o que é hipertensão arterial? E quais são as mudanças com as novas regras na prática? Entenda abaixo.

Continua depois da publicidade

1 – O que é hipertensão arterial?

Também conhecida como pressão alta, a hipertensão arterial é uma doença muito prevalente caracterizada pela elevação da pressão sanguínea nas artérias. O quadro faz com que o coração tenha que exercer um esforço maior para distribuir corretamente o sangue pelo corpo.

— O coração é o órgão responsável por fazer o sangue circular pelas artérias e levar oxigênio até os tecidos. Ele age como uma bomba que pressuriza o sangue. Mas nós já sabemos há muitos anos que uma maior pressão é deletéria no longo prazo — explica Pedro Lemos, cardiologista do Albert Einstein Hospital Israelita, em São Paulo.

2 – O que causa a hipertensão arterial?

Segundo informações do Ministério da Saúde, a pressão alta é herdada dos pais em cerca de 90% dos casos. Porém, há outros fatores que influenciam o surgimento ou o agravamento do quadro, como obesidade, sedentarismo, alimentação inadequada, com muito sal e pouco potássio, tabagismo, consumo de álcool e estresse.

Continua depois da publicidade

3 – Quais os riscos da pressão alta?

O maior esforço feito pelo coração e o aumento da pressão do sangue nas artérias faz com que a hipertensão arterial seja o principal fator de risco para doenças cardíacas, como acidente vascular cerebral (AVC), infarto, insuficiência cardíaca, entre outros. Essas doenças lideram hoje como causa de morte no Brasil e no mundo.

De acordo com dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde, o Brasil registrou 365.952 óbitos por doenças do aparelho circulatório em 2024. Segundo as estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS), 54% desses óbitos são atribuíveis à pressão alta como principal fator de risco. Segundo o Ministério da Saúde, 388 pessoas morrem por dia no Brasil devido à hipertensão.

A pressão alta pode causar ainda o que é chamado lesão de órgão alvo. Isso porque a maior pressão do sangue nos olhos, por exemplo, pode causar problemas na retina, enquanto nos rins pode levar a quadros de insuficiência ou doença renal.

Continua depois da publicidade

4 – Quais são os sintomas da hipertensão?

Os sintomas costumam surgir somente em aumentos bruscos da pressão, como dores de cabeça, no peito, tonturas, zumbido no ouvido, fraqueza, visão embaçada e sangramento nasal, aponta a pasta da Saúde.

Por isso, como a doença é crônica, medir a pressão regularmente é a única maneira de diagnosticá-la adequadamente, especialmente entre indivíduos que tenham casos de hipertensão na família.

Em 2023, a OMS publicou um primeiro grande relatório sobre hipertensão e apontou que 1 a cada 3 adultos no planeta tem pressão alta, porém metade não sabe, e somente 1 a cada 5 segue o tratamento adequado. No Brasil, a situação é um pouco melhor: embora uma parcela maior da população adulta tenha hipertensão (45%), 62% dos pacientes realizam o tratamento.

Continua depois da publicidade

5 – Qual a pressão considerada normal?

Segundo as novas diretrizes divulgadas nesta semana, a pressão normal passa a ser considerada aquela abaixo de 12 por 8.

6 – O que é pré-hipertensão?

Pré-hipertensão é uma nova faixa para uma pressão que está de 12 por 8 até 13 por 8. Quando chega a 14 por 9, passa a ser hipertensão arterial.

— Estudos têm demonstrado que as pessoas na pré-hipertensão já têm maior risco de desenvolver hipertensão e outras complicações cardiovasculares do que aqueles que têm a pressão menor que 12 por 8. Então é uma faixa em que temos um potencial de prevenção de doenças cardiovasculares muito grande, vale a pena investirmos nela. As medidas não medicamentosas devem ser aplicadas de forma muito rigorosa nessa etapa — diz a cardiologista Andréa Brandão, coordenadora da diretriz da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC).

Continua depois da publicidade

Classificação da PA
PAS (mmHg)
PAD (mmHg)
PA normal Pré-hipertensão 120–139 80–89 HA Estágio 1 140–159 90–99 HA Estágio 2 160–179 100–109 HA Estágio 3 ≥ 180 ≥ 110 Fonte: Novas diretrizes da SBC.

7 – Qual o tratamento da pressão alta?

No caso da pré-hipertensão, o tratamento indicado são apenas mudanças de estilo de vida. Entre elas:

Manter o peso adequado: IMC deve ficar abaixo de 25 kg/m² em adultos e de 27 kg/m² em idosos;

Intervenções dietéticas: Reduzir ingestão de sódio, a menos de 2g/dia (equivalente a menos de 5g/dia de sal) e aumentar consumo de potássio, para 3,5g/ dia ou mais. Priorizar hábitos da dieta DASH;

Atividade física: Deixar o sedentarismo e realizar ao menos 150 minutos por semana de exercício aeróbico moderado, 75 minutos por semana de aeróbico vigoroso ou uma combinação equivalente. Aliar a treinamento de resistência (musculação);

Reduzir álcool: Limitar ingestão de álcool a 2 doses ou menos por dia no caso dos homens, e até 1 dose por dia no das mulheres. A dose equivale a uma lata de cerveja, uma taça de vinho ou um shot de destilado;

Deixar o tabagismo: Parar de fumar, tanto cigarros convencionais, como outros modelos a exemplo de cigarros eletrônicos e narguilés;

Controlar o estresse: Adotar técnicas de controle do estresse, como meditação, respiração lenta e práticas de espiritualidade e religiosidade.

Se o paciente pré-hipertenso já estiver com a pressão acima de 13 por 8, tiver alto risco cardiovascular e não conseguir controlá-la com três meses de mudanças nos hábitos, os remédios passam a ser indicados em conjunto.

Os medicamentos atuais têm poucos efeitos colaterais e contam com preços acessíveis, estando até mesmo disponíveis de forma gratuita pelo Farmácia Popular. O tratamento é muito efetivo, podendo evitar desfechos graves que muitas vezes causam limitações no dia a dia, ou mesmo levam à morte.

8 – O diagnóstico mudou?

As novas diretrizes estabeleceram que a pressão arterial deve ser medida no consultório e fora dele, por meio de medida ambulatorial da pressão arterial (MAPA) ou medida residencial da pressão arterial (MRPA). Dessa forma, o diagnóstico não considera somente os resultados da medição pelo médico no consultório ou no hospital, que pode sofrer influência de outros fatores.

A MAPA é um equipamento que se coloca por um profissional como parte de um exame na cintura do paciente e monitora a pressão de 20 em 20 minutos durante 24 horas. Já a MRPA é um aparelho que o paciente pode ter em casa e deve ser usado para medir a pressão de manhã e à noite, sempre em repouso, durante cinco dias. O MAPA é padrão-ouro, mas a MRPA é mais prática. Os aparelhos podem ser encontrados em farmácias por valores que variam de R$ 100 a R$ 200.