A Comunidade Todas no WhatsApp se encontrou nesta segunda-feira (28) para debater o livro “Caderno Proibido” da escritora ítalo-cubana Alba de Céspedes. O encontro contou com a presença de Camila Berto, editora da Companhia das Letras e uma das responsáveis pela republicação da obra de Céspedes no Brasil.

Camila Berto diz que sua relação com Alba começou na pandemia, quando ouviu uma editora alemã falar sobre a autora. Ela encontrou uma primeira edição da década de 1960 em um sebo e se apaixonou por sua escrita. Em meio a um movimento de diversos países para traduzir a autora, a Companhia das Letras optou por fazê-lo com linguagem atualizada. Também foi uma escolha manter os nomes originais dos personagens –na primeira edição brasileira, por exemplo, o marido da protagonista Valéria teve seu nome, Michele, traduzido para Miguel.

Para ela, o livro “furou a bolha” ao ser indicado por clubes de leitura, em 2024, especialmente pelo clube de Pedro Pacífico, escritor e criador de conteúdo literário conhecido nas redes como Bookster. A autora francesa Annie Ernaux também ajudou a popularizar a obra de Alba, dizendo que “mudou a sua vida”. Mas, entre as obras a que serviu de referência, destaca-se a tetralogia Napolitana, de Elena Ferrante, que diz ter se inspirado em “Na Voz Dela”, livro de Alba publicado em 1949.

“Se você pensa que o livro foi escrito há tantos anos, Alba estava muito à frente de seu tempo”, diz Camila sobre “Caderno Proibido”, publicado pela primeira vez em episódios no periódico italiano La Settimana Incom Illustrata, de 1950 a 1951, após a Segunda Guerra.

A história acompanha Valéria Cossati, que compra ilegalmente um caderno preto —item que não poderia ser comercializado aos domingos—, e faz dele seu diário. Em suas páginas, relata sua rotina como mãe, esposa, dona de casa e funcionária de um escritório, bem como a dificuldade de tempo e espaço para se dedicar à escrita.

Por que o caderno é proibido? A leitora Ana Fragoso aponta o período entreguerras como motivação: um caderno, para Valéria, que não era estudante, mas mãe, esposa e trabalhadora, seria supérfluo. Para Camila, o ato de ter algo só seu também parece simbolicamente proibido. Para as leitoras, a protagonista é reduzida a mãe e esposa por sua família. Seu marido, inclusive, a chama de ‘’mamãe’’, o que lhe causa vergonha e o desejo de ser apenas Valéria, um indivíduo.

A leitora Ana Carolina Rodrigues, reflete que apesar de Valéria ser “dona da casa”, já que é quem cuida do lar, não encontra nela um lugar que lhe pertença. “Essa falta de espaço é quase um personagem”. Para Kelly Linhares, o caderno também protagoniza a busca de Valéria por sua identidade.

Maridite Oliveira aponta as mudanças causadas pela guerra, com as mortes de tantos homens, e o início do trabalho feminino fora de casa. “Alba traz memórias de um século dolorido, mas de muitas transformações”.

Anne Hilling relata ter sentido raiva de situações descritas no livro, principalmente na culpa por ser um indivíduo com desejos e vontades, e não apenas cuidadora.

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