A DBRS poderá baixar a notação de crédito se o rácio dívida/PIB da França continuar a aumentar de forma sustentada em direção aos 125%, principalmente se combinado com uma carga de juros significativamente mais pesada.
A DBRS é a segunda agência de rating a cortar o rating da dívida francesa no espaço de uma semana. A decisão da Morningstar aumenta as dúvidas sobre a capacidade de Paris para cumprir as promessas de controlar o défice no meio da instabilidade política.
A DBRS baixou classificação da República Francesa para AA, com tendência alterada para Estável.
“A DBRS Ratings GmbH reviu em baixa os Ratings de Emitente de Longo Prazo em Moeda Estrangeira e Local da República Francesa (França) de AA (elevado) para AA e alterou a tendência de Negativa para Estável. Ao mesmo tempo, a Morningstar DBRS confirmou os Ratings de Emitente de Curto Prazo em Moeda Estrangeira e Local de França em R-1 (elevado), com uma tendência Estável”, lê-se na nota da agência de notação financeira.
O downgrade reflete a avaliação da DBRS de que a trajetória de consolidação orçamental da França será mais gradual do que o previsto no seu Plano Estrutural Fiscal a Médio Prazo (PFEMP), apresentado em outubro de 2024. Isto reflete principalmente os desafios impostos pela crescente fragmentação política interna e pela redução do consenso político nos últimos anos, o que levou a um parlamento sem maioria nas eleições legislativas antecipadas de julho de 2024.
“A Morningstar DBRS considera que este ambiente político e a crescente instabilidade governamental limitam a eficácia das políticas fiscais. Neste contexto vê elevados riscos de execução em relação à capacidade da França de cumprir as suas metas fiscais nos próximos anos”, refere a DBRS.
França registou o maior défice orçamental da zona euro em 2024 e irá provavelmente voltar a fazê-lo em 2025. “O esforço de ajustamento orçamental necessário no orçamento de 2026 para atingir a meta do défice do MTFSP (Medium-Term Fiscal-Structural Plan) de 4,6% do PIB é significativo. O rácio dívida/PIB da França deverá manter-se mais elevado durante mais tempo a médio prazo, contrariando a previsão de um pico de 116,5% em 2027 e de uma tendência decrescente a partir de 2028 no MTFSP”, lê-se na nota da DBRS.
O pico da dívida de 2027 foi revisto para 118,1% no Relatório Anual de Progresso (Annual Progress Report) apresentado em abril de 2025.
Por outro lado, o Fundo Monetário Internacional (FMI) projeta níveis de dívida francesa mais elevados a médio prazo num cenário sem alterações de política, que o FMI reconhece como relativamente conservador.
“Níveis mais elevados de dívida conduzirão provavelmente a custos de juros ainda mais elevados”, alerta a DBRS.
De acordo com o FMI, prevê-se que os custos com juros aumentem para 2,6% do PIB em 2027, face a 1,3% em 2020, face a 2,0% em 2027 para a Zona Euro, face a 1,4% em 2020. A ação da notação de crédito reflete a deterioração da componente “Dívida e Liquidez”.
Apesar das perspetivas fiscais desafiantes, a tendência Estável reflete a visão da Morningstar DBRS de que os riscos para as classificações de crédito estão equilibrados. “Aos níveis atuais, as classificações de crédito são suportadas por importantes pontos fortes de crédito. Estes incluem uma economia rica e diversificada, instituições públicas sólidas, uma gestão robusta da dívida, riscos relativamente limitados para o sector externo e para a estabilidade financeira. A França é um membro central da Zona Euro e uma importante potência militar da União Europeia”, lê-se na nota.
A DBRS poderá baixar ainda mais a notação de crédito da França se o governo não resolver os desequilíbrios orçamentais estruturais a médio prazo. Em condições normais, a Morningstar DBRS poderá baixar a notação de crédito se o rácio dívida/PIB da França continuar a aumentar de forma sustentada em direção aos 125%, principalmente se combinado com uma carga de juros significativamente mais pesada. Tal poderá resultar da ausência de melhoria da actual situação política interna, restringindo ainda mais o cenário da política económica e fiscal.