Em meio a tantos títulos inéditos que apontam possíveis novos caminhos para o cinema latino-americano, “O agente secreto”, de Kleber Mendonça Filho, se eleva como grande destaque desta 19ª edição da CineBH – Mostra Internacional de Cinema de Belo Horizonte. Premiado no Festival de Cannes deste ano com as Palmas de melhor diretor e melhor ator (para Wagner Moura), além do prêmio da crítica de melhor filme, o longa é a atração de abertura da CineBH.
Escolhido pelo Brasil para tentar uma indicação ao Oscar de Melhor Filme Internacional, “O agente secreto” será exibido às 20h desta terça-feira (23/9), no Cine Theatro Brasil, logo depois da homenagem ao ator mineiro Carlos Francisco, que está no elenco do filme. Já comprometido com a agenda internacional do longa, Kleber Mendonça não estará em Belo Horizonte para acompanhar a exibição. Os ingressos para a sessão serão distribuídos na bilheteria, uma hora antes.
O diretor destaca a importância de ter o longa na abertura da Mostra. “É muito bom que a primeira experiência com o filme aconteça na CineBH. Muitos anos atrás, a primeira vez que o projeto de ‘Bacurau’ foi percebido por alguém, foi também na Mostra. Fico muito feliz em colaborar com a CineBH. Espero que a sessão de ‘O agente secreto’ seja eletrizante e também engraçada, assustadora, tocante e comovente”, diz.
Inspiração em amigo
O cineasta não economiza elogios ao homenageado desta edição, destacando sua atuação em “O agente secreto”. “Carlos Francisco é um grande ator e uma grande pessoa. Para mim, é uma combinação perfeita. Gosto da energia dele, gosto do jeito dele”, afirma. O ator mineiro interpreta Alexandre, projecionista do Cinema São Luiz, no Centro do Recife, inspirado em um amigo do cineasta que trabalhou na sala de projeção mais tradicional da capital pernambucana.
Wagner Moura como Zico no longa-metragem “Carandiru” (2003), superprodução de Hector Babenco adaptada do livro homônimo de Drauzio Varella Marlene Bergamo/Divulgação
Em “Tropa de elite” (2007), de José Padilha, Wagner Moura vive o Capitão Nascimento, um policial do Bope. O sucesso do filme fez com que expressões como “pede pra sair”, ditas pelo Capitão, fossem incorporadas ao vocabulário do dia a dia David Prichard/Divulgação
Na comédia musical, “Ó paí,ó” (2007), de Monique Gardenberg, Wagner Moura voltou a contracenar com Lázaro Ramos, retomando a parceria de sucesso do teatro, quando os dois atores baianos interpretaram o mesmo personagem na montagem “A máquina” Europa Filmes/Divulgação
Na série “Narcos” (2015-2017), da Netflix, Wagner Moura vive o megatraficante colombiano “Pablo Escobar”. Papel o tornou mundialmente conhecido Juan Pablo Gutierrez/Netflix
No drama biográfico “Sérgio” (2020), de Greg Barker, o ator interoreta o diplomata brasileiro Sérgio Vieira de Mello, Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, morto num atentado no Iraque, em 2003 Netflix/Divulgação
Wagner Moura estreou na direção de longas com “Marighella”, biografia do guerrilheiro Carlos Marighella, interpretado por Seu Jorge. O filme está disponível no Prime Video O2 Filmes/Divulgação
No longa hollywoodiano “Guerra civil” (2024), de Alex Garland, o ator é Joel, jornalista que atravessa o país ao lado da fotógrafa Lee (Kirsten Dunst), para cobrir a conflagração que tomou conta do país Diamond Films/Divulgação
Wagner Moura interpreta o professor Marcelo no novo filme de Kleber Mendonça Filho, “O agente secreto” (2025). Ele venceu o prêmio de melhor ator no Festival de Cannes Reprodução redes sociais Kleber Mendonça Filho
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“O Alexandre que eu escrevi no roteiro, um personagem muito bonito que perde uma filha e fica triste ao ver que o neto tem de ir embora do país, não necessariamente seria uma referência tão direta a seu Alexandre da realidade, um retrato do amigo que eu perdi em 2002”, conta o diretor. “Mas Carlos, o pessoal do figurino e da caracterização fizeram uma referência tão respeitosa, linda e tocante que não falei nada”, comenta.
Raquel Hallak destaca a escolha de Carlos Francisco como homenageado da 19ª CineBH. “Pensamos nele antes mesmo de conseguir ‘O agente secreto’ para a abertura, então foi perfeito. Temos acompanhado a carreira dele, que está completando 20 anos de atuação no cinema. Carlos tem dois grandes papéis de protagonista, em ‘Marte Um’ e em ‘Estranho caminho’, e vários pequenos, com uma participação grande na filmografia brasileira. Era hora de reconhecer essa carreira marcante”, afirma.
“Homenagem bem-vinda”
O ator diz que recebeu com alegria e surpresa a notícia de que seria o homenageado da 19ª CineBH. “Toda homenagem é muito bem-vinda, e quando vem de uma equipe tão especializada, conhecedora do ofício, que tanto contribui para o fomento do cinema brasileiro, latino-americano e mundial, a gente fica muito feliz”, afirma. Carlos Francisco não hesita em retribuir os elogios que recebeu de Kleber Mendonça Filho, com quem já tinha trabalhado em “Bacurau”.
“Agora [em “O agente secreto”] minha convivência com ele foi maior. Em ‘Bacurau’ não pude fazer a preparação de elenco, porque estava às voltas com outros compromissos. Kleber é uma pessoa muito generosa, além de muito inteligente e muito competente”, diz. Ele conta que esteve em Cannes e tem acompanhado as exibições de “O agente secreto” em alguns festivais. “Sou suspeito para falar, mas é um grande filme, com uma boa história, bem contada, com soluções belíssimas e muito inteligentes.”